QUANDO O BOM SENSO SE EXPRIME
Terminadas as votações e publicados os resultados, a enchente de declarações, opiniões, discussões e demais bla bla bla foi asfixiante.
Agora, já reduzida a regatos, tornou-se mais comedida e atraente.
Dentro da modéstia do que penso e escrevo, junto-me a esses regatozinhos.
Ouvi muito pouco do que disseram nos múltiplos debates dos nossos canais televisivos. Deliberadamente, boicotei a maior parte e dediquei pouco tempo aos restantes.
Tudo se assemelhava. As argumentações e pareceres nada diziam de original e esclarecedor, se de esclarecimentos ainda necessitássemos.
Em contraposição a quem se exprime num palco, prefiro a leitura do que os diferentes quotidianos publicam sobre o mesmo tema.
Chamaram-me a atenção, todavia, os comentários ao artigo de Mário Soares no jornal «Diário de Notícias», do passado dia 25 de Janeiro: “Eleições Presidenciais”.
Imprimi-o, como sempre faço, quando entendo que um texto merece interesse.
Li as quatro páginas atentamente. O conteúdo pareceu-me muito equilibrado e sensato. Embora o título nos conduza às eleições presidenciais, o artigo aborda vários argumentos de grande actualidade.
As apreciações à vitória de Cavaco Silva, no que imprimi, condensam-se em oito parágrafos. E tudo ficou dito.
Escreve Mário Soares: “Numa entrevista em que me interrogaram sobre se, desta vez, iria votar Cavaco Silva, afirmei, discretamente, para desfazer equívocos, que «nunca votaria em Cavaco Silva». E agora acrescento: por razões político-ideológicas e não pessoais”.
Resposta muito correcta e óbvia.
Como pessoa comum e sem qualquer rudimento do que é a alta política, daria outra justificação.
As razões político-ideológicas pesam sempre muito pouco nas minhas escolhas, quando devo eleger um Presidente da República. É o candidato singular, é a personalidade desse candidato que eu avalio.
Ora, a personalidade política e humana de Cavaco Silva está completamente fora dos cânones que eu entendo deva caracterizar um dos máximos representantes de um país.
Assim, sem hesitações, dei o meu voto a quem estava menos afastado desses cânones, o Dr. Fernando Nobre.
[…] em democracia os políticos, dos diversos partidos e os independentes , não se consideram inimigos, mas tão-só adversários – escreve sempre Mário Soares - “Estranho e lamento que o candidato Cavaco Silva não o tenha feito, no passado domingo, em relação aos seus adversários. Como aliás lamento os dois discursos que proferiu no momento da vitória. Em lugar de ser generoso e magnânimo para com os vencidos, foi rancoroso […].”
Efectivamente, certas asserções, nestes discursos do reeleito presidente, são penosas.
Terminadas as votações e publicados os resultados, a enchente de declarações, opiniões, discussões e demais bla bla bla foi asfixiante.
Agora, já reduzida a regatos, tornou-se mais comedida e atraente.
Dentro da modéstia do que penso e escrevo, junto-me a esses regatozinhos.
Ouvi muito pouco do que disseram nos múltiplos debates dos nossos canais televisivos. Deliberadamente, boicotei a maior parte e dediquei pouco tempo aos restantes.
Tudo se assemelhava. As argumentações e pareceres nada diziam de original e esclarecedor, se de esclarecimentos ainda necessitássemos.
Em contraposição a quem se exprime num palco, prefiro a leitura do que os diferentes quotidianos publicam sobre o mesmo tema.
Chamaram-me a atenção, todavia, os comentários ao artigo de Mário Soares no jornal «Diário de Notícias», do passado dia 25 de Janeiro: “Eleições Presidenciais”.
Imprimi-o, como sempre faço, quando entendo que um texto merece interesse.
Li as quatro páginas atentamente. O conteúdo pareceu-me muito equilibrado e sensato. Embora o título nos conduza às eleições presidenciais, o artigo aborda vários argumentos de grande actualidade.
As apreciações à vitória de Cavaco Silva, no que imprimi, condensam-se em oito parágrafos. E tudo ficou dito.
Escreve Mário Soares: “Numa entrevista em que me interrogaram sobre se, desta vez, iria votar Cavaco Silva, afirmei, discretamente, para desfazer equívocos, que «nunca votaria em Cavaco Silva». E agora acrescento: por razões político-ideológicas e não pessoais”.
Resposta muito correcta e óbvia.
Como pessoa comum e sem qualquer rudimento do que é a alta política, daria outra justificação.
As razões político-ideológicas pesam sempre muito pouco nas minhas escolhas, quando devo eleger um Presidente da República. É o candidato singular, é a personalidade desse candidato que eu avalio.
Ora, a personalidade política e humana de Cavaco Silva está completamente fora dos cânones que eu entendo deva caracterizar um dos máximos representantes de um país.
Assim, sem hesitações, dei o meu voto a quem estava menos afastado desses cânones, o Dr. Fernando Nobre.
[…] em democracia os políticos, dos diversos partidos e os independentes , não se consideram inimigos, mas tão-só adversários – escreve sempre Mário Soares - “Estranho e lamento que o candidato Cavaco Silva não o tenha feito, no passado domingo, em relação aos seus adversários. Como aliás lamento os dois discursos que proferiu no momento da vitória. Em lugar de ser generoso e magnânimo para com os vencidos, foi rancoroso […].”
Efectivamente, certas asserções, nestes discursos do reeleito presidente, são penosas.
“A honra venceu a infâmia. Venceu a verdade sobre a calúnia. Campanha de calúnias, insinuações e mentiras. Os órgãos de comunicação social devem revelar os nomes dos que estão por trás da campanha suja", etc., etc.
.
A toda esta falta de fair play também se pode chamar uma desmesurada egolatria. E o ególatra, naturalmente, nunca se apercebe dos seus limites.
Ora esses limites são claramente patentes, por exemplo, quando se refere aos órgãos de comunicação social que devem revelar os nomes!...
No Público de quinta-feira, dia 27, Paulo Moura alonga-se em conjecturas sobre as razões por que Cavaco Silva fez um discurso vingativo.
No dia 29 e no mesmo jornal, o escritor Rui Cardoso Martins deu um título, digamos sarcástico, à sua análise sobre a campanha de Cavaco Silva: “É um Santinho”.
Todas as apreciações convergem para as seguintes conclusões: não foi géneros nem magnânimo; foi cruel; foi rancoroso e vingativo; não viu os outros candidatos como adversários, mas inimigos.
Sou menos diplomática e concentro a minha opinião num único vocábulo: mesquinhez.
O segundo tema do artigo de Mário Soares ocupa-se do pessimismo dos nossos economistas “sobre os números que são, realmente, assustadores”, opondo várias considerações a estes “vencidos da vida” (como lhes chamou e que alguns deles não gostaram).
Faz uma análise resumida da crise que nos atenaza, reconhecendo-lhe o dramatismo que merece. Todavia…
[…] A História não se escreve apenas com números, mas, principalmente, com as inovações e os imprevistos com que os homens mudam a realidade, criando fases diferentes da nossa vida colectiva.
[…] “Simplesmente, a realidade não é estática: é dinâmica, como se sabe. Depende das pessoas e não dos números. São as pessoas que mudam a realidade, por vezes de modo totalmente imprevisível e rápido. E no caso em questão – Portugal -, a crise global que nos bateu à porta depende mais do euro que da nossa própria vontade e esforço”.
E assim se exprime o bom senso e o equilíbrio.
Também eu me pergunto se, no meio de tanto pessimismo e críticas estéreis, não haverá ideias corajosas que ponham em marcha mecanismos e iniciativas que desencadeiem o tal dinamismo, positivo, de todas as forças económicas, financeiras e administrativas deste País.
No batalhão dos pessimistas e nesses economistas full time televisivo, não existirá quem se esforce e meta mãos à obra, a fim de que o tal dinamismo se torne concreto, visível e, consequentemente, envie um bom sinal a todo o País e ao exterior?
A toda esta falta de fair play também se pode chamar uma desmesurada egolatria. E o ególatra, naturalmente, nunca se apercebe dos seus limites.
Ora esses limites são claramente patentes, por exemplo, quando se refere aos órgãos de comunicação social que devem revelar os nomes!...
No Público de quinta-feira, dia 27, Paulo Moura alonga-se em conjecturas sobre as razões por que Cavaco Silva fez um discurso vingativo.
No dia 29 e no mesmo jornal, o escritor Rui Cardoso Martins deu um título, digamos sarcástico, à sua análise sobre a campanha de Cavaco Silva: “É um Santinho”.
Todas as apreciações convergem para as seguintes conclusões: não foi géneros nem magnânimo; foi cruel; foi rancoroso e vingativo; não viu os outros candidatos como adversários, mas inimigos.
Sou menos diplomática e concentro a minha opinião num único vocábulo: mesquinhez.
O segundo tema do artigo de Mário Soares ocupa-se do pessimismo dos nossos economistas “sobre os números que são, realmente, assustadores”, opondo várias considerações a estes “vencidos da vida” (como lhes chamou e que alguns deles não gostaram).
Faz uma análise resumida da crise que nos atenaza, reconhecendo-lhe o dramatismo que merece. Todavia…
[…] A História não se escreve apenas com números, mas, principalmente, com as inovações e os imprevistos com que os homens mudam a realidade, criando fases diferentes da nossa vida colectiva.
[…] “Simplesmente, a realidade não é estática: é dinâmica, como se sabe. Depende das pessoas e não dos números. São as pessoas que mudam a realidade, por vezes de modo totalmente imprevisível e rápido. E no caso em questão – Portugal -, a crise global que nos bateu à porta depende mais do euro que da nossa própria vontade e esforço”.
E assim se exprime o bom senso e o equilíbrio.
Também eu me pergunto se, no meio de tanto pessimismo e críticas estéreis, não haverá ideias corajosas que ponham em marcha mecanismos e iniciativas que desencadeiem o tal dinamismo, positivo, de todas as forças económicas, financeiras e administrativas deste País.
No batalhão dos pessimistas e nesses economistas full time televisivo, não existirá quem se esforce e meta mãos à obra, a fim de que o tal dinamismo se torne concreto, visível e, consequentemente, envie um bom sinal a todo o País e ao exterior?
Alda M. Maia