segunda-feira, janeiro 10, 2011

HOMICIDA CONSIDERADO UM “POLÍTICO PERSEGUIDO”

No último dia do seu mandato, à última hora e talvez como último acto político, Lula da Silva podia ter evitado uma atitude que não brilhou por correcção nem acume diplomático: negou a extradição dum pluriassassino - César Battisti - de uma maneira decididamente deselegante e incorrecta.

Talvez uma certa altanaria, alimentada pela sua grande e bem merecida popularidade, o tivesse induzido a ignorar o respeito e delicadeza das relações internacionais, sobretudo quando em causa está um país amigo.

Quem seguiu os factos e conhece o que verdadeiramente significaram “os anos de chumbo” do terrorismo italiano dos anos 70, do século passado (é fácil informar-se, pois a documentação é vastíssima), não pode deixar de dar o justo valor ao modo equilibrado e firme como a Itália enfrentou essa onda de assassínios, raptos, atentados, rapinas, enfim, uma gama ampla dos piores crimes

Sem recorrer a meios excepcionais, essa batalha foi combatida pelo Governo italiano e pelas forças da ordem, dentro da Constituição e das leis vigentes. Os incriminados foram julgados por uma magistratura absolutamente independente. Todos os partidos do "arco constitucional", desde a Democracia Cristã ao Partido Comunista, enfrentaram esse período com admirável firmeza e coesão.

Sendo assim, e isso é mais que comprovado, não sei compreender o procedimento de Lula da Silva nem as posições de vários intelectuais, sobretudo nomes bem conhecidos da intelectualidade francesa, quando terçam armas na defesa de César Battisti, julgado em contumácia, mas defendido por bons advogados, e condenado nos três graus de juízo – insisto: dentro de toda a legitimidade e com todas as garantias de um estado de direito - pela responsabilidade de quatro homicídios, em 1978 / 79.
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Considero esses intelectuais meros papagaios ou em má-fé, pois demonstram total desconhecimento dos factos e das instituições que regiam e regem a vida democrática italiana, o que é imperdoável.

Lamento a forma incorrecta e injustificável de Lula da Silva e do seu “entourage”. Muito menos são aceitáveis as justificações alegadas: “haveria razões para supor que César Battisti poderia ter a situação agravada, inclusive o risco de perseguição política, se entrasse nas cadeias italianas”.

A que país se referiam? À China? À Rússia de Putin, à Bielorrússia?
É lícito insultar deste modo um país democrático, onde não podem existir nem existem perseguidos políticos e com o qual se mantém excelentes relações? É lamentável, Senhor Lula da Silva.

Foi um louvável Presidente da República do Brasil, na política interna; um deplorável intérprete da política exterior.
Ademais, pecou por grave incorrecção para com o Presidente da República italiana, Giorgio Napolitano, homem de grande probidade, visto que faltou à sua palavra de comunicar-lhe directamente a própria decisão sobre o caso Battisti. Desdenhosamente, negou a extradição – contrariando o Supremo Tribunal Federal – através de um comunicado do ministro Celso Amorim.
Podia ter evitado esta mancha no final de um excelente mandato.

Para finalizar, vejamos quem é este “político perseguido” pelas autoridades italianas, mas que sempre se demonstrara um delinquente comum.
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Ainda adolescente, abandonou os estudos e foi detido, duas ou três vezes, por rapina. Atingida a maioridade, de novo foi preso pelo mesmo motivo.
Na cadeia de Údine, conheceu um terrorista que pertencia ao grupúsculo “Proletários Armados pelo Comunismo”.
Oportunamente, decidiu “politizar-se”, aderiu ao grupo e prosseguiu, com natural desenvoltura, na senda da criminalidade.

Foram assassinados um agente da polícia (27 anos), um guarda carcerário, um açougueiro e um ourives. O filho deste último, então um rapaz de 15 anos, foi atingido por uma bala na coluna vertebral e ficou paraplégico.
César Battisti, que na clandestinidade se tornou escritor (não sei de que género), foi reconhecido como executor de três destes homicídios e de co-autor na execução do quarto.

Em 1981 conseguiu evadir da prisão e refugiou-se na França. Mudou-se para o México. Regressou a Paris. Em 2004, a França concedeu a extradição.
O homem desapareceu. Aterrou no Brasil. Em Janeiro de 2009, este país concedeu-lhe o estado de “refugiado político” (?!).
Todas as partes políticas e a sociedade civil italianas consideraram esta decisão como uma bofetada ao próprio País. Mas duplicaram-na com a recusa de extradição deste criminoso.

Deve-se também acrescentar que, neste período de trinta anos, os sucessivos governos italianos não brilharam por diplomacia, eficiência e tenacidade, no que concerne a extradição deste indivíduo o qual, dotado de uma arrogância e insensibilidade desagradáveis, nunca demonstrou qualquer arrependimento.
Alda M. Maia