“PORTUGAL UMA PROVÍNCIA DO BRASIL”
É tão pouca a estima que este país da “periferia da Europa” merece aos petulantes do Financial Times?
Poder-se-ia sugerir aos especialistas em assuntos económicos e financeiros do FT (a famosa secção Lex) que também não seria disparatado que a Inglaterra se tornasse no quinquagésimo primeiro estado americano, dado que a actual situação económica inglesa não se recomenda. Em Londres, como nesta futura província brasileira, cerca de 300 mil manifestantes protestaram violentamente contra a austeridade. Em que ficamos?
Seria uma boa solução e os dirigentes ingleses evitariam de, caninamente, ir atrás de algumas iniciativas da ex-colónia. Blair pode dizer algo sobre isto. Nestas espécies de subserviências, porém, à politiquice portuguesa também podemos assacar um curvar de espinha: a criação de um monstrozinho que se chama “acordo ortográfico90”, por exemplo.
Mas falemos seriamente. Pelos vistos, o Financial Times considera que Portugal é um empecilho para a União Europeia pelo seu péssimo hábito de “não aceitar austeridades e cultivar um crónico desempenho económico”.
Certamente que o artigo que publicou na sexta-feira passada – Portugal and Brazil: role reversal. A solution to Portugal’s problems may be annexation by Brazil – não passa de uma provocação. Assim o espero. De contrário, seria claramente ofensivo.
Por muito que queiramos sacudir impulsos patrioteiros, o que quer que seja que se aproxime da humilhação faz rumor e é difícil ignorá-lo. Paralelamente, cresce a indignação - se ainda é possível um maior grau - contra a nossa casta política e a sensação de nos sentirmos politicamente desamparados.
Considerando o que se passou na semana passada, avoluma-se a ideia que somos um país á deriva e tão-somente porque as pessoas que, nós eleitores, votámos sem reflexão e como carneiros obedientes, traíram o país.
Que esperávamos, quando temos um sistema eleitoral que não permite a escolha de quem deve sentar-se na Assembleia da República, delegando-a aos cabecilhas dos partidos? E que esperávamos de partidos que, em vez de nos representarem com empenho e consciência, se comutaram em meros aparelhos eleitorais?
Como compreender - precisamente no período em que Portugal está quase a sucumbir perante a rapacidade dos abutres da finança - comportamentos tão levianos de quem deveria unir-se e encontrar soluções para combater este assédio, levantar a nossa economia e dar dignidade ao país?
Houve quem lhes chamou loucos. Se houve loucura, foi muito lúcida e bem estribada, quer na arrogância e incapacidade de diálogo, quer na sofreguidão de ocupar o poder.
Um triste caso de trivialíssimas facções, as quais, da política, conhecem apenas o que esta pode proporcionar a interesses que nada tem que ver com a seriedade e o empenho no alcance de estabilidade e progresso do país que deveriam representar.
Não sei explicar de outro modo atitudes tanto insensatas quanto insanas.
No que concerne o Presidente da República, foi bem evidente a apatia, incompreensível, como seguiu as mútuas agressividades verbais dos dirigentes partidários que seriam vítimas, em seguida, dessa verborreia sem sentido, inoportuna, irreparável.
Era fácil intuir que estavam a criar situações completamente estranhas ao melhor modo de enfrentar os ataques financeiros que nos asfixiam. Porém, o Sr. Presidente limitou-se a ignorar aquele saco de gatos.
Conforme asseriu, Não lhe deram tempo.
E esta uma justificação aceitável? Refugiar-se na hipotética falta de tempo está de acordo com o papel de máximo timoneiro da nação? Dentro das suas prerrogativas, não lhe caberia envidar todos os esforças – todos – para, com firmeza, instar com o governo e oposição a acalmar as guerrilhas e diatribes, letais para a nossa credibilidade na Europa e mercados financeiros?
Em conclusão, todos falharam. Sinto-me tão indignada que não consigo encontrar, nem procuro, justificações para ninguém. De novo devemos ler, na imprensa estrangeira, os habituais clichés: Portugal um país pobre, atrasado, enfim um país periférico.
Repito o que acima escrevi. Por muito que afaguemos o espírito de amor à nossa terra, este não pode eximir-se ao conhecimento das nossas gentes convertidas ao despesismo, à ostentação, à frivolidade e a pretensões que o orçamento do Estado não pode suportar
Quando os telejornais das 13 horas - RTP, SIC, TVI - iniciam com a eleição do presidente do Sporting e por cinco minutos (ou mais) se alongam nesta “importantíssima” notícia para os destinos de Portugal, caem os braços em sinal de desconforto.
Vejo o nosso povo intoxicado de telenovelas e futebol, mas ninguém se preocupa de informá-lo e de lhe criar uma consciência civil e política lúcida. Ninguém desconhece que os bons programas podem divertir e, simultaneamente, formar e informar. Mas o populismo, neste caso, impõe-se. Então, viva o futebol como notícia de relevo e telenovelas nos horários nobres.
Se esclarecessem, detalhadamente e de uma forma acessível aos menos instruídos, o significado de dívida soberana, o défice, o peso das importações e outros factores que desequilibram o orçamento do Estado e as finanças privadas, criar-se-iam obstáculos à irresponsabilidade.
Temos de interiorizar que somos todos culpados: uns por superficialidade e indiferença; outros por voracidade no poder de que foram investidos; outros, ainda, por cálculos sórdidos de uma finança e um capitalismo áridos, desumanos.
Aguardo a desfaçatez como esta casta que ocupa a política exporá as suas promessas e programas de salvação nacional.
Também gostaria de saber se a mesma casta, quando engendrou planos par novas eleições, auscultou os eleitores e as várias empresas sobre a oportunidade de um passo tão grave.
3 Comments:
Uhm serao os mesmos especialistas financeiros que criaram esta crise?
O Senhor alude a "especialistas financeiros". Precisamente porque são especialistas é que conhecem, por dentro e por fora, a melhor forma de especular com rapacidade
Ao Senhor de Worldwidegeorge peço desculpa não ter agradecido o seu comentário neste blogue.
Obrigada
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