segunda-feira, março 14, 2011

UMA SEMANA DENSA DE ACONTECIMENTOS

Oito de Março, dia mundial da mulher. Sobre este evento, dou relevo a um artigo publicado terça-feira passada, no jornal La Repubblica (“O desejo de sentir-se irmãs”) de Shirin Ebadi, advogada e pacifista iraniana.
Magistrado, mas forçada pelo regime a abandonar o cargo, Prémio Nobel da Paz 2003, lutadora pelos direitos humanos, vive actualmente em Londres.

Há trinta e dois anos, no dia oito de Março, dia internacional da mulher, a televisão iraniana anunciou a decisão oficial que privava as funcionárias públicas de um seu direito fundamental: a liberdade de escolher o próprio vestuário.
[…] Reputando-se mais dignos que as próprias mães, emanaram leis que atribuem à mulher metade do valor do homem… O «Dieh», a importância monetária das indemnizações por danos físicos ou homicídio culposo, é reduzido a metade, se as vítimas são mulheres…
Num tribunal, o testemunho de duas mulheres equivale ao testemunho de um homem.
Estes homens, crescidos numa cultura patriarcal, criaram leis com o fim de garantir o prazer masculino, consentindo a prática da poligamia e permitindo ao homem de ter quatro mulheres permanentes e dezenas de mulheres temporárias.
[…] As mulheres corajosas que falavam de uma paridade de direitos e reivindicavam a igualdade iam ao encontro dos bastões ou chicotes dos defensores do regime. Algumas foram encarceradas; outras, executadas.
[…] As mulheres iranianas não desejam o poder político nem o decaimento dos costumes. Simplesmente, estão saturadas de suportar crueldades e desprezo. Aspiram à justiça e à paridade. Dai-nos apoio, solidariedade e ajudai o movimento das mulheres no seu veemente desejo de igualdade”.

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Discurso do nosso Presidente da República, na cerimónia da tomada de posse e as críticas subsequentes.
Não tenho dificuldade em adoptar algumas, pois são incontestáveis, por muito que os colegas de partido se prodigalizem em interpretações positivas.

Um discurso banal e repleto de lugares-comuns ou conceitos já muito explorados no mercado das opiniões.
Nada que mereça interesse, excepto o azedume como alude ao que não corre bem no País e promessas de uma “magistratura activa”. Pergunta-se: no que lhe não compete?
Seja permitida uma outra pergunta: nas elites que o circundam, o Presidente da República não é capaz de encontrar uma cabeça inteligente, dotada de uma refinada cultura política e de capacidade oratória, que lhe escreva discursos dignos de um Presidente de todos os portugueses e capazes de empolgar os cidadãos?
É-lhe difícil encontrar quem saiba escrever com profundidade, expressando ideias originais, sem que deva recorrer a uma espécie de composição bem alinhavada, onde apenas se fazem notar ressentimentos e desafios inoportunos?

No Facebook, o Presidente insurge contra “interpretações abusivas e distorcidas” das suas palavras, sugerindo a “todos os cidadãos de boa-fé que façam uma leitura integral do seu discurso”.
As redacçõezinhas de quem se crê infalível não garantem diversidade de interpretações. Na sua banalidade, exprimem recados e nada mais.

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Um Apocalipse no Japão”: foi este o título que muitos jornais adoptaram e não é exagerado. Olhando sobretudo as imagens, parece que o horror daquela tragédia não tem limites e é com profunda tristeza que vemos a impossibilidade de evitar uma tão grande devastação, um desastre humano que provoca arrepios.
A ciência e a técnica, embora no mais alto grau de aplicação e desenvolvimento, como vemos, nada podem contra as arremetidas violentas do planeta Terra.

Não é possível evitar cataclismos deste género, mas está nas nossas mãos atenuá-los com uma outra grande força que só a humanidade possui: a solidariedade total e tempestiva para com um Japão prostrado que, neste momento, tanto necessita que o ajudemos a levantar-se. Penso que não faltará.
A somar tragédia a tragédia, surge a emergência das centrais nucleares. Oxalá consigam reparar o desastre anunciado.

E cada vez se reforça mais a minha opinião contra a energia nuclear. Leio artigos e mais artigos sobre o assunto, procuro esclarecer-me, os propugnadores desta energia põem toda a confiança nos reactores da 3.ª, 4.ª, 5.ª gerações, mas a minha impressão negativa resta e não muda

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Líbia. Encadeemos os factos. Se na América não tivesse sido eleito um presidente tão negativo como George Bush; se Tony Blair não tivesse contribuído para a loucura de invadir o Iraque, criando uma guerra infinita no Médio-Oriente com as consequências que sabemos. Se outros factores não tivessem concorrido para esse grande erro, hoje, a guerra feroz de Kadhafi contra os seus compatriotas já teria sido anulada e os rebeldes socorridos, justamente, com os meios adequados para varrer aquele déspota.
Mas há os precedentes, logo, as hesitações da América.

É decepcionante a tibieza da EU, mas de que nos surpreendemos se, mesmo perante os problemas mais graves que a afligem, se demonstra incapaz e desunida?
É escandalosa a ausência da União Africana. É deplorável o procedimento hesitante da Liga Árabe, embora tivesse aprovada a exclusão do espaço aéreo. Mas quando?
Entretanto, o tarado Kadhafi, coadjuvado por um filho imbecil digno de tal pai, avança na vingança sanguinária contra quem ousou contestar este autoproclamado“ Rei dos Reis de África”.
Alda M. Maia

6 Comments:

At 3:36 da tarde, Blogger Teresa Fidalgo said...

D. Alda,
Na verdade, uma semana repleta de acontecimentos... todos muito bem tratados aqui.
Destaco o Japão - De facto, acontecimentos como este revelam que nada somos nesta grandiosa engrenagem a que chamamos natureza...

Um beijinho

 
At 5:28 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Como está a D. Teresinha?

Relativamente à tragédia do Japão, acho que não tem paralelo. Acredita que leio as notícias com uma angústia que nem sei classificar.

Há outra situação que, para benefício de um ditador odioso que ganha terreno na matança, passou para segundo plano ou para o sector da indiferença.

Entretanto a ONU, UE, G8, etc. continuam em minuetos não menos odiosos daquele bárbaro que bombardeia os compatriotas.

Pobres líbios que ousaram rebelar-se, esquecendo que não ha solidariedade para estes casos!

Um beijinho
Alda

 
At 10:42 da manhã, Blogger José Constantino Sequeira said...

D. Alda:
Agradeço que leia o meu comentário na página de 28 de Abril de 2007, sobre radioamadores.

Cumprimentos

José Constantino Sequeira

 
At 4:44 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Dr. Constantino Sequeira

Só hoje li este seu último comentário. Fui imediatamente ao meu post do dia 28 de Abril 2007.
Peço-lhe muita desculpa não lhe ter respondido na altura devida, mas não tinha notado o seu comentário e daqui a minha falta.
Tomei nota do seu e-mail e prometo contactá-lo directamente.

Entretanto, foi com infinitas saudades que, lendo o que escreveu, todos os colegas e o nosso QSO diário invadiram a minha memória, recordando-os todos com uma grande amizade.

Dos que citou, CT1WB e CT1BH (o Dr. Nogueira Rodrigues) ainda estão activos. Com César, CT1WB, mantenho contacto regularmente, via directa.
Desde que regressei a Portugal, estou em QRT – problemas de instalação de antenas – mas não me desliguei do radioamadorismo. Hoje sou também titular do meu velho indicativo português: CT1YG, somando-o ao italiano I1YG.

Agradeço-lhe ter vindo de novo a este blogue e reconduzir-me a 2007.
Um cordialíssimo 73
Alda

 
At 4:39 da tarde, Blogger José Constantino Sequeira said...

D. Alda:
Agradeço imenso a sua resposta.
Já fui ouvir as gravações que fiz dos vossos QSLs. Seleccionei alguns dos bons momentos de conversação que vou gravar num CD. Quando me contactar por e-mail, se me der o seu endereço, terei muito prazer em enviar-lhe-ei uma cópia desse CD. Penso que será muito interessante para si recordar transmissões que fez há cerca de 30! anos atrás...
Cá fico aguardando as suas notícias.

Saudações cordiais.

José Constantino Sequeira

 
At 2:56 da tarde, Blogger José Constantino Sequeira said...

D. Alda:

Fui hoje rever o meu comentário anterior e reparei que em vez de QSOs escrevi QSLs(no teclado do computador premi por engano a tecla L que está por baixo do O) e escrevi enviar-lhe-ei em vez de enviar-lhe.
Peço desculpa por estas gralhas que se deveram à pressa com que escrevi o comentário.
Tambem não lhe disse que, mais recentemente e já em Portugal, ouvi vários QSOs seus com um radioamador de Cascais de nome Geraldes (Ciríaco Geraldes?). Muito provavelmente seria o CT1LA. Quando deixei de o ouvir, procurei na lista de Cascais o número do telefone e consegui ligar para casa dele. Fui atendido por uma senhora com sotaque brasileiro (talvez a esposa) que me disse que ele não tinha sobrevivido a uma operação que fez. Infelizmente não fiz gravações desses QSOs.
As gravações que tenho foram todas feitas na Escócia e, como lhe disse, poderei enviar um CD com algumas dessas gravações. Por vezes havia QRM que prejudicava a compreensibilidade, mas vou escolher as partes melhores.


Cordiais saudações.

José Constantino Sequeira

 

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