DIGAM O QUE DISSEREM, O PRÉMIO FOI BEM ENTREGUE
Ficará na história, todavia, como o Nobel das múltiplas perplexidades e mil controvérsias.
Cá na Europa, os ex-admiradores de Bush, - se não admiradores, pelo menos muito compreensivos da sua actuação como presidente - são os que evidenciam o mais elevado grau de cepticismo.
Pela sua obviedade, é inútil aludir às críticas e sarcasmos dos americanos conservadores.
O leitmotiv das perplexidades apresenta-se com roupagens diversas, mas o significado é sempre o mesmo: um Nobel da Paz prematuro ou precipitado; prémio à esperança; prémio ao futuro; prémio ratoeira, pois ainda nada fez e só lhe trará problemas… em conclusão, após nove meses de presidência, Barack Obama tinha obrigação de mostrar obra, mesmo as do reino do impossível.
Ademais, este género de prémios, no entendimento geral, apenas se concede no fim da caminhada – o que nem sempre tem sucedido
Num debate sobre o Nobel a Obama, um interveniente usou uma imagem que tenho gosto em compartilhar.
Quando assistimos a um concerto de um famoso pianista, bastam os primeiros acordes e já compreendemos que não é necessário esperar pelo final do concerto para concluirmos se estamos perante um excelente ou um artista medíocre.
Não creio que nestes nove meses de actuação, como Presidente dos Estados Unidos, Obama tenha demonstrado ser um mau executor.
Não creio também que a observação crítica sobre os seus discursos, acusando-o de belas palavras e poucas acções, seja correcta. As boas palavras, provindas de quem tem demonstrado seriedade, forjam um grande impacto. O famoso discurso do Cairo está a demonstrá-lo.
Quando se diz que não fez nada, que nada demonstrou, fala-se por falar. Fala-se por arrastamento de opiniões alheias, pela antipatia que o personagem pode inspirar, porque se dá lugar à superficialidade, em vez de ponderar com atenção o que vai sucedendo.
Fala-se, também, porque se esperava que resolvesse, imediatamente, todas as calamidades que o antecessor provocara. Como se esse “imediatamente” fosse possível!
Limpar, agora, os escombros das demolições de Bush e deixar uma situação de estabilidade, onde quer que seja, recorre-se ao ditado já antigo: quase sempre, tem de se concluir uma guerra suja a fim de atingir uma paz boa e estável.
Cada um pense como quiser. Somente, seria correcto se déssemos menos lugar à banalidade de opiniões preconcebidas e mais a uma observação cuidadosa e imparcial do que tem sucedido e do que é possível.
Este “nada” que serve de argumento negativo já fez brotar “rebentos que anunciam bons frutos”; não foram necessárias acções plateias, mas o sonho de preferir a concórdia.
Para finalizar, há uma perplexidade que também alimento. Que Obama mereça este prémio, merece-o. Que o alivie do pesado fardo de problemas que tenta e deve resolver, mantenho muitas reservas.
****
Falemos agora de coisas menos sérias, mas sempre concernentes o Prémio Nobel da Paz.
Correu voz, e é verdade, que há um comité a trabalhar para a candidatura de Berlusconi ao Nobel de Oslo 2010... sim, sempre aquela mina inesgotável de comicidade, quando não irrita.
Transcrevo um apanhado do que se lê no site: “Perchè Sílvio Berlusconi? – www.silvioperilnobel.it”
“Sílvio Berlusconi reforçou as ligações com os Estados Unidos, mediou na crise Rússia/Geórgia 2008, assim como entre USA e Líbia. Além disso, desenvolveu uma acção reconhecida e notável para a obtenção de uma paz durável entre Israel e Palestina”. (?!)
Citação: “Nunca teríamos obtido um acordo entre georgianos e russos se Berlusconi não tivesse feito valer as suas relações de amizade e confiança com Vladimir Putin” – Nicholas Sarkozy, 24/02/2009
Sarkozy teria dito isto?!!! Acho estranho, mas se é verdade, com as mãos nos bolsos, sabe-se lá quantas figas acompanharam a despudorada asserção.
“Restabeleceu entre os Estados Unidos e Federação Russa o mesmo clima de diálogo e de amizade que tinha desabrochado no vértice de Pratica di Mare de 2003 e que pôs fim, definitivamente, à Guerra Fria”.
A diplomacia americana anda mesmo de rastos! Imaginem que teve necessidade da amizade do Pinóquio Berlusconi com Putin para sanar controvérsias, incompreensões e hostilidades decenais!
Mas continuemos na transcrição das razões por que o Sílvio deve ser candidato.
“Graças às boas relações estabelecidas nestes anos, sobretudo com a Turquia, e graças à óptima consideração internacional conquistada com o bom governo, Sílvio Berlusconi teve um papel decisivo na nomeação de Rasmussen a Secretário-Geral da Nato. (o negrito é meu)
Na conferência de imprensa do vértice EU/Usa, o primeiro-ministro explicou: Todos, hoje, me estão reconhecidos e me agradeceram. Sem a nossa intervenção (o nosso majestático!) não teria sido possível a nomeação do novo Secretário-Geral, o que seria gravíssimo”.
Recordemos o célebre telefonema e Ângela Merkel à espera que a grosseria do acto tivesse fim.
A Nato deve dedicar-lhe um busto, mas com um nariz de um metro.
As motivações que o comité apresenta reproduzem, na íntegra, os “méritos” que Berlusconi apregoa, com uma cara de bronze sem igual, através de todos os canais de comunicação.
A estes, juntam-se tantos outros factos sem qualquer base de veracidade defensável, mas dos quais o homem se vangloria descaradamente.
O que é triste é vermos tanta gente tomar a sério estes delírios e aceitá-los como verdadeiros.
Fora da Itália, quanta paciência com um primeiro-ministro de um país amigo – mal-educado, mentiroso e sem noção do que é ser homem de Estado - a fim de evitar graves problemas diplomáticos!
Fechemos com um comentário bastante espirituoso que apareceu em Facebook, a propósito do Nobel e Berlusconi: “O bronzeado bifou-lhe o Nobel!”
Ficará na história, todavia, como o Nobel das múltiplas perplexidades e mil controvérsias.
Cá na Europa, os ex-admiradores de Bush, - se não admiradores, pelo menos muito compreensivos da sua actuação como presidente - são os que evidenciam o mais elevado grau de cepticismo.
Pela sua obviedade, é inútil aludir às críticas e sarcasmos dos americanos conservadores.
O leitmotiv das perplexidades apresenta-se com roupagens diversas, mas o significado é sempre o mesmo: um Nobel da Paz prematuro ou precipitado; prémio à esperança; prémio ao futuro; prémio ratoeira, pois ainda nada fez e só lhe trará problemas… em conclusão, após nove meses de presidência, Barack Obama tinha obrigação de mostrar obra, mesmo as do reino do impossível.
Ademais, este género de prémios, no entendimento geral, apenas se concede no fim da caminhada – o que nem sempre tem sucedido
Num debate sobre o Nobel a Obama, um interveniente usou uma imagem que tenho gosto em compartilhar.
Quando assistimos a um concerto de um famoso pianista, bastam os primeiros acordes e já compreendemos que não é necessário esperar pelo final do concerto para concluirmos se estamos perante um excelente ou um artista medíocre.
Não creio que nestes nove meses de actuação, como Presidente dos Estados Unidos, Obama tenha demonstrado ser um mau executor.
Não creio também que a observação crítica sobre os seus discursos, acusando-o de belas palavras e poucas acções, seja correcta. As boas palavras, provindas de quem tem demonstrado seriedade, forjam um grande impacto. O famoso discurso do Cairo está a demonstrá-lo.
Quando se diz que não fez nada, que nada demonstrou, fala-se por falar. Fala-se por arrastamento de opiniões alheias, pela antipatia que o personagem pode inspirar, porque se dá lugar à superficialidade, em vez de ponderar com atenção o que vai sucedendo.
Fala-se, também, porque se esperava que resolvesse, imediatamente, todas as calamidades que o antecessor provocara. Como se esse “imediatamente” fosse possível!
Limpar, agora, os escombros das demolições de Bush e deixar uma situação de estabilidade, onde quer que seja, recorre-se ao ditado já antigo: quase sempre, tem de se concluir uma guerra suja a fim de atingir uma paz boa e estável.
Cada um pense como quiser. Somente, seria correcto se déssemos menos lugar à banalidade de opiniões preconcebidas e mais a uma observação cuidadosa e imparcial do que tem sucedido e do que é possível.
Este “nada” que serve de argumento negativo já fez brotar “rebentos que anunciam bons frutos”; não foram necessárias acções plateias, mas o sonho de preferir a concórdia.
Para finalizar, há uma perplexidade que também alimento. Que Obama mereça este prémio, merece-o. Que o alivie do pesado fardo de problemas que tenta e deve resolver, mantenho muitas reservas.
****
Falemos agora de coisas menos sérias, mas sempre concernentes o Prémio Nobel da Paz.
Correu voz, e é verdade, que há um comité a trabalhar para a candidatura de Berlusconi ao Nobel de Oslo 2010... sim, sempre aquela mina inesgotável de comicidade, quando não irrita.
Transcrevo um apanhado do que se lê no site: “Perchè Sílvio Berlusconi? – www.silvioperilnobel.it”
“Sílvio Berlusconi reforçou as ligações com os Estados Unidos, mediou na crise Rússia/Geórgia 2008, assim como entre USA e Líbia. Além disso, desenvolveu uma acção reconhecida e notável para a obtenção de uma paz durável entre Israel e Palestina”. (?!)
Citação: “Nunca teríamos obtido um acordo entre georgianos e russos se Berlusconi não tivesse feito valer as suas relações de amizade e confiança com Vladimir Putin” – Nicholas Sarkozy, 24/02/2009
Sarkozy teria dito isto?!!! Acho estranho, mas se é verdade, com as mãos nos bolsos, sabe-se lá quantas figas acompanharam a despudorada asserção.
“Restabeleceu entre os Estados Unidos e Federação Russa o mesmo clima de diálogo e de amizade que tinha desabrochado no vértice de Pratica di Mare de 2003 e que pôs fim, definitivamente, à Guerra Fria”.
A diplomacia americana anda mesmo de rastos! Imaginem que teve necessidade da amizade do Pinóquio Berlusconi com Putin para sanar controvérsias, incompreensões e hostilidades decenais!
Mas continuemos na transcrição das razões por que o Sílvio deve ser candidato.
“Graças às boas relações estabelecidas nestes anos, sobretudo com a Turquia, e graças à óptima consideração internacional conquistada com o bom governo, Sílvio Berlusconi teve um papel decisivo na nomeação de Rasmussen a Secretário-Geral da Nato. (o negrito é meu)
Na conferência de imprensa do vértice EU/Usa, o primeiro-ministro explicou: Todos, hoje, me estão reconhecidos e me agradeceram. Sem a nossa intervenção (o nosso majestático!) não teria sido possível a nomeação do novo Secretário-Geral, o que seria gravíssimo”.
Recordemos o célebre telefonema e Ângela Merkel à espera que a grosseria do acto tivesse fim.
A Nato deve dedicar-lhe um busto, mas com um nariz de um metro.
As motivações que o comité apresenta reproduzem, na íntegra, os “méritos” que Berlusconi apregoa, com uma cara de bronze sem igual, através de todos os canais de comunicação.
A estes, juntam-se tantos outros factos sem qualquer base de veracidade defensável, mas dos quais o homem se vangloria descaradamente.
O que é triste é vermos tanta gente tomar a sério estes delírios e aceitá-los como verdadeiros.
Fora da Itália, quanta paciência com um primeiro-ministro de um país amigo – mal-educado, mentiroso e sem noção do que é ser homem de Estado - a fim de evitar graves problemas diplomáticos!
Fechemos com um comentário bastante espirituoso que apareceu em Facebook, a propósito do Nobel e Berlusconi: “O bronzeado bifou-lhe o Nobel!”
Alda M. Maia
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bizantinicesonline.blogspot.com
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