OS "CÃES DE GUARDA" DA DEMOCRACIA
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Penso que haja muitos, embora existam outros que não sendo propriamente vigilantes, actuam como guardas irremovíveis, isto é, as instituições que equilibram o funcionamento das democracias dignas deste nome.
Normalmente, atribui-se o apelativo “cães de guarda” à liberdade de imprensa. Uso o termo apelativo, porque nele vejo o implícito apelo a que a imprensa seja constante e tenazmente o “cão de guarda” da correcção dos poderes democráticos.
Outro "cão de guarda" seria a opinião pública, se todos cultivassem a preocupação e o interesse de se manterem informados - “O cidadão não informado ou informado mal é menos livre” – Valério Onida, presidente emérito do Tribunal constitucional Italiano.
Mas, também neste caso, será sempre a liberdade e seriedade da informação a fonte onde pode beber o conhecimento de como funciona ou deve funcionar a coisa pública.
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Estive a seguir a gigantesca manifestação que se efectuou, ontem, em Roma, assim como em várias outras cidades italianas, contra as tentativas de manipular e intimidar a liberdade de expressão, organizada pela Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI).
Houve jornalistas, porém, que se demarcaram, alegando que se tratava de um protesto injustificado.
Jornalistas que trabalham sob ditado ou para um patrão e respectiva facção política, obviamente.
Quaisquer perplexidades sobre o condicionamento da informação não lhes arranham a inteligência nem lhes sugerem que as circunstâncias onde navegam protegidos estão sujeitas a naturais mutações.
Ora, a manifestação de ontem exigia o respeito pela liberdade de informação, em todas os meios que a expressam, em todos os tempos, em qualquer lugar, sem atitudes intimidatórias nem riscos de retaliações, como se tem verificado.
O que mais detesto num jornalista é a falta de verticalidade. Quando este aprumo vacila, apenas existem duas interpretações: ou está ao serviço de um patrão (ou de uma ideologia intransigente) ou trabalha num país onde impera o pensamento único. Neste último caso, e só neste caso, encontra justificação.
Na Itália, não podemos dizer que haja absoluta falta de liberdade de imprensa.
Simplesmente, Berlusconi não tolera críticas e entende que os votos que o elegeram dão-lhe toda a autoridade para impor um modus operandi que o coloca acima das instituições, das regras democráticas e da decência.
Nos dois canais de Estado, RAIuno e RAIdue, impôs, praticamente, pessoas da sua confiança ou que trabalharam nas suas televisões. Nestes canais (além das televisões de que é proprietário), apenas se transmite o que não importuna o “sultão” (assim o apelidou Giovanni Sartori) e as informações que servem os seus desígnios de cloroformizar a população com a apologia do personagem e realidades que não existem - "69,3% dos eleitores italianos informou-se e escolheu quem votar apenas através das notícias e comentários dos telejornais".
Ora, os lacaios - e são tantos! – tudo fazem para satisfazer os interesses deste ditadorzeco endinheirado.
Ainda não conseguiu controlar RAItre. Porém, os programas indóceis deste canal sofrem todos os tipos de pressões e dificuldades. Descaradamente!
Os jornais de que é proprietário têm sido usados como uma autêntica clava para ataques sujos e intimidatórios contra quem ousa criticá-lo. Basta recordar o que fizeram ao director do jornal da Conferência Episcopal Italiana, Avvenire, forçando-o a demitir-se.
Pergunto-me o que vários jornais estrangeiros também perguntaram: como é possível ter havido necessidade de efectuar uma manifestação pela liberdade de informação, num grande país europeu democrático?!
A esta pergunta junto uma outra: por que espera a UE para enfrentar este problema de atropelos à democracia, dentro de um país fundador?
Normalmente, atribui-se o apelativo “cães de guarda” à liberdade de imprensa. Uso o termo apelativo, porque nele vejo o implícito apelo a que a imprensa seja constante e tenazmente o “cão de guarda” da correcção dos poderes democráticos.
Outro "cão de guarda" seria a opinião pública, se todos cultivassem a preocupação e o interesse de se manterem informados - “O cidadão não informado ou informado mal é menos livre” – Valério Onida, presidente emérito do Tribunal constitucional Italiano.
Mas, também neste caso, será sempre a liberdade e seriedade da informação a fonte onde pode beber o conhecimento de como funciona ou deve funcionar a coisa pública.
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Estive a seguir a gigantesca manifestação que se efectuou, ontem, em Roma, assim como em várias outras cidades italianas, contra as tentativas de manipular e intimidar a liberdade de expressão, organizada pela Federação Nacional da Imprensa Italiana (FNSI).
Houve jornalistas, porém, que se demarcaram, alegando que se tratava de um protesto injustificado.
Jornalistas que trabalham sob ditado ou para um patrão e respectiva facção política, obviamente.
Quaisquer perplexidades sobre o condicionamento da informação não lhes arranham a inteligência nem lhes sugerem que as circunstâncias onde navegam protegidos estão sujeitas a naturais mutações.
Ora, a manifestação de ontem exigia o respeito pela liberdade de informação, em todas os meios que a expressam, em todos os tempos, em qualquer lugar, sem atitudes intimidatórias nem riscos de retaliações, como se tem verificado.
O que mais detesto num jornalista é a falta de verticalidade. Quando este aprumo vacila, apenas existem duas interpretações: ou está ao serviço de um patrão (ou de uma ideologia intransigente) ou trabalha num país onde impera o pensamento único. Neste último caso, e só neste caso, encontra justificação.
Na Itália, não podemos dizer que haja absoluta falta de liberdade de imprensa.
Simplesmente, Berlusconi não tolera críticas e entende que os votos que o elegeram dão-lhe toda a autoridade para impor um modus operandi que o coloca acima das instituições, das regras democráticas e da decência.
Nos dois canais de Estado, RAIuno e RAIdue, impôs, praticamente, pessoas da sua confiança ou que trabalharam nas suas televisões. Nestes canais (além das televisões de que é proprietário), apenas se transmite o que não importuna o “sultão” (assim o apelidou Giovanni Sartori) e as informações que servem os seus desígnios de cloroformizar a população com a apologia do personagem e realidades que não existem - "69,3% dos eleitores italianos informou-se e escolheu quem votar apenas através das notícias e comentários dos telejornais".
Ora, os lacaios - e são tantos! – tudo fazem para satisfazer os interesses deste ditadorzeco endinheirado.
Ainda não conseguiu controlar RAItre. Porém, os programas indóceis deste canal sofrem todos os tipos de pressões e dificuldades. Descaradamente!
Os jornais de que é proprietário têm sido usados como uma autêntica clava para ataques sujos e intimidatórios contra quem ousa criticá-lo. Basta recordar o que fizeram ao director do jornal da Conferência Episcopal Italiana, Avvenire, forçando-o a demitir-se.
Pergunto-me o que vários jornais estrangeiros também perguntaram: como é possível ter havido necessidade de efectuar uma manifestação pela liberdade de informação, num grande país europeu democrático?!
A esta pergunta junto uma outra: por que espera a UE para enfrentar este problema de atropelos à democracia, dentro de um país fundador?
Com qual credibilidade pode exigir o respeito pelas normas democráticas, como condição fundamental, aos países que pretendem entrar na União?
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“Annozero”, programa polémico, irreverente, discutível ou não, mas arrojado.
Após as férias, a fim de recomeçar com as novas transmissões semanais (à quinta-feira), houve mil entraves na renovação do contrato, quer do condutor, quer dos participantes fixos: insuportável fumo nos olhos e fogo nas vísceras do “sultão” e acólitos!
Nesta última quinta-feira, estava anunciada uma entrevista com Patrizia D’Addario, a famosa companheira da noite de alta classe com quem Berlusconi dormira.
Protestos, indignações, cartas da direcção RAI convidando (?) a truncar essa malfadada entrevista… enfim, fogo cerrado.
Valeu de pouco. O autor do programa, Miguel Santoro, rebelou-se e pôs no ar a entrevista e as declarações da senhora D’Addario: Berlusconi sabia muito bem quem ela era, - exactamente o contrário das “verdades” do primeiro-ministro – que lhe fora prometido uma candidatura para o Parlamento Europeu ou para as autárquicas, etc., etc.
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“Annozero”, programa polémico, irreverente, discutível ou não, mas arrojado.
Após as férias, a fim de recomeçar com as novas transmissões semanais (à quinta-feira), houve mil entraves na renovação do contrato, quer do condutor, quer dos participantes fixos: insuportável fumo nos olhos e fogo nas vísceras do “sultão” e acólitos!
Nesta última quinta-feira, estava anunciada uma entrevista com Patrizia D’Addario, a famosa companheira da noite de alta classe com quem Berlusconi dormira.
Protestos, indignações, cartas da direcção RAI convidando (?) a truncar essa malfadada entrevista… enfim, fogo cerrado.
Valeu de pouco. O autor do programa, Miguel Santoro, rebelou-se e pôs no ar a entrevista e as declarações da senhora D’Addario: Berlusconi sabia muito bem quem ela era, - exactamente o contrário das “verdades” do primeiro-ministro – que lhe fora prometido uma candidatura para o Parlamento Europeu ou para as autárquicas, etc., etc.
E lá se afundou a versão oficial que desconhecia quem fosse Patrizia D’Addario!...
Segui todo o programa, com atenção e divertida - teve mais de sete milhões de telespectadores.
Escandalizada? Não. Encadeiam-se tantas e tão diversas anomalias que se espera sempre que tudo dê uma reviravolta e, seja lá qual for a cor política democrática em acção, de novo se instale o bom senso, a decência e o respeito pela instituição e o País que se representa.
Segui todo o programa, com atenção e divertida - teve mais de sete milhões de telespectadores.
Escandalizada? Não. Encadeiam-se tantas e tão diversas anomalias que se espera sempre que tudo dê uma reviravolta e, seja lá qual for a cor política democrática em acção, de novo se instale o bom senso, a decência e o respeito pela instituição e o País que se representa.
Alda M. Maia
2 Comments:
Espero que se faça justiça em Itália e que Berlusconi vá para onde merece. Já esteve mais longe...
A este ponto, não sei a quem deva apontar o dedo acusador: se a um homem sem um mínimo sentido de Estado e decência, se a quem o vota.
Um beijinho
Alda
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