GRANDE MANIFESTAÇÃO EM ROMA
Manifestação política, obviamente.
Sábado, 25 de Outubro / 2008, centenas de milhares de pessoas de toda a Itália afluíram a Roma, concentrando-se no “Circo Máximo”.
Manifestação política, obviamente.
Sábado, 25 de Outubro / 2008, centenas de milhares de pessoas de toda a Itália afluíram a Roma, concentrando-se no “Circo Máximo”.
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Manifestaram contra os senhores da direita que, tendo obtido uma grande maioria, mercê de uma lei eleitoral fabricada ad hoc – classificada pelos fautores como lei “porcata” – entendem que ganhar eleições significa instalar-se no poder e governar com decretos-leis.
Manifestaram contra os senhores da direita que, tendo obtido uma grande maioria, mercê de uma lei eleitoral fabricada ad hoc – classificada pelos fautores como lei “porcata” – entendem que ganhar eleições significa instalar-se no poder e governar com decretos-leis.
O Parlamento passou a servir apenas como lugar de encontros ou como justificação de chorudas benesses aos parlamentares.
Como instituição imprescindível e robusto esteio do edifício democracia, para o primeiro-ministro e compadres deixou de merecer atenção e respeito. Uma indecência!
Fiquei satisfeita que se verificasse esse despertar das gentes democráticas.
Do discurso de Walter Veltroni, secretário do PD (Partido Democrático), respiguei algumas passagens.
Como de há uns tempos a esta parte, nota-se, nessa direita que apoia o berlusconismo, um desvio em direcção de um “revival” da era mussoliniana, e como tudo o que a isso diz respeito tem o dom de me provocar uma instintiva repulsa, estranhava que, da oposição genuinamente democrática, não partisse uma clara e inequívoca condenação desse revisionismo sobre aquela repelente Itália ditatorial e das famigeradas leis raciais.
Eis a razão que me levou à escolha de uns parágrafos em vez de outros igualmente interessantes.
O mote do discurso de Veltroni: "A Itália é um País melhor do que a direita que o governa". E partindo daí…
(…) E para quem acredita que, de uma certa maneira, o fascismo, no fundo, não era mau, é bom recordar que se estava em 1935. Ainda não tinha chegado a vergonha das leis raciais, mas o regime já de há muito que suprimira a liberdade de imprensa e liberdade de associação; tinha eliminado partidos e sindicatos; espezinhado o Parlamento; encarcerado, exilado ou assassinado quem não se curvara perante a ditadura (…)
A Itália, Senhor Primeiro-Ministro, é um País antifascista.
A quem lhe perguntou se poderia definir-se um “antifascista”, o Senhor respondeu, com um certo enfado, que não tinha tempo para perder: havia coisas mais importantes do que ocupar-se de antifascismos ou da “Resistência”.
Efectivamente, Berlusconi jamais se quis pronunciar sobre esse tema. Nunca participou nas comemorações oficiais do 25 de Abril 1945: data da libertação da Itália do nazi-fascismo e celebração da Resistência.
Atitudes eloquentes? Penso que sim.
Mas continuemos sobre o discurso de Veltroni, agora sobre a crise financeira.
(…) Por que razão o Primeiro-Ministro se sentiu autorizado, em plena tempestade financeira, a convidar os cidadãos a comprar as acções de determinadas empresas? Por que razão se permitiu anunciar uma deliberação, que ninguém decidira, do encerramento dos mercados, levando a Casa Branca a lançar um desmentido?
Se tudo isto fosse dito por Gordon Brown ou Ângela Merkel, sucederia uma catástrofe. Porém, como no mundo sabem quem é, não sucedeu nada.
Como instituição imprescindível e robusto esteio do edifício democracia, para o primeiro-ministro e compadres deixou de merecer atenção e respeito. Uma indecência!
Fiquei satisfeita que se verificasse esse despertar das gentes democráticas.
Do discurso de Walter Veltroni, secretário do PD (Partido Democrático), respiguei algumas passagens.
Como de há uns tempos a esta parte, nota-se, nessa direita que apoia o berlusconismo, um desvio em direcção de um “revival” da era mussoliniana, e como tudo o que a isso diz respeito tem o dom de me provocar uma instintiva repulsa, estranhava que, da oposição genuinamente democrática, não partisse uma clara e inequívoca condenação desse revisionismo sobre aquela repelente Itália ditatorial e das famigeradas leis raciais.
Eis a razão que me levou à escolha de uns parágrafos em vez de outros igualmente interessantes.
O mote do discurso de Veltroni: "A Itália é um País melhor do que a direita que o governa". E partindo daí…
(…) E para quem acredita que, de uma certa maneira, o fascismo, no fundo, não era mau, é bom recordar que se estava em 1935. Ainda não tinha chegado a vergonha das leis raciais, mas o regime já de há muito que suprimira a liberdade de imprensa e liberdade de associação; tinha eliminado partidos e sindicatos; espezinhado o Parlamento; encarcerado, exilado ou assassinado quem não se curvara perante a ditadura (…)
A Itália, Senhor Primeiro-Ministro, é um País antifascista.
A quem lhe perguntou se poderia definir-se um “antifascista”, o Senhor respondeu, com um certo enfado, que não tinha tempo para perder: havia coisas mais importantes do que ocupar-se de antifascismos ou da “Resistência”.
Efectivamente, Berlusconi jamais se quis pronunciar sobre esse tema. Nunca participou nas comemorações oficiais do 25 de Abril 1945: data da libertação da Itália do nazi-fascismo e celebração da Resistência.
Atitudes eloquentes? Penso que sim.
Mas continuemos sobre o discurso de Veltroni, agora sobre a crise financeira.
(…) Por que razão o Primeiro-Ministro se sentiu autorizado, em plena tempestade financeira, a convidar os cidadãos a comprar as acções de determinadas empresas? Por que razão se permitiu anunciar uma deliberação, que ninguém decidira, do encerramento dos mercados, levando a Casa Branca a lançar um desmentido?
Se tudo isto fosse dito por Gordon Brown ou Ângela Merkel, sucederia uma catástrofe. Porém, como no mundo sabem quem é, não sucedeu nada.
Estocada impiedosa, mas que me fez rir! (o negrito é meu)
Existe a crise. É verdade que nos chegou dos Estados Unidos. Mas ninguém pode aproveitar esse facto para construir-se um álibi ou uma desculpa. Sobretudo, não o pode fazer nem pode colocar-se de lado uma direita que, por vários anos, difundiu a mãos cheias três toxinas, culturais e políticas.
A primeira é uma ideia estropiada da liberdade: aquela que considera cada regra como um empecilho e é filha da ideologia do liberismo selvagem e do individualismo desenfreado.
A desenvoltura com que se executa uma cabriola e se torna, de improviso, estadista, nasce do facto que o único sistema que verdadeiramente agrada à direita é aquele em que, quer o mercado, quer o Estado, estão ao serviço dos interesses do mais forte.
A segunda toxina é a frieza, o cepticismo, a hostilidade mesmo contra a Europa. É óbvio: a Europa é simultaneamente coesão social e crescimento económico; é um horizonte que solicita a mover-se num sistema de regras e responsabilidade comuns.
A terceira toxina é o primado da finança - a mais desenvolta e a mais cínica possível - em relação ao trabalho e à produção de bens e serviços.
Existe a crise. É verdade que nos chegou dos Estados Unidos. Mas ninguém pode aproveitar esse facto para construir-se um álibi ou uma desculpa. Sobretudo, não o pode fazer nem pode colocar-se de lado uma direita que, por vários anos, difundiu a mãos cheias três toxinas, culturais e políticas.
A primeira é uma ideia estropiada da liberdade: aquela que considera cada regra como um empecilho e é filha da ideologia do liberismo selvagem e do individualismo desenfreado.
A desenvoltura com que se executa uma cabriola e se torna, de improviso, estadista, nasce do facto que o único sistema que verdadeiramente agrada à direita é aquele em que, quer o mercado, quer o Estado, estão ao serviço dos interesses do mais forte.
A segunda toxina é a frieza, o cepticismo, a hostilidade mesmo contra a Europa. É óbvio: a Europa é simultaneamente coesão social e crescimento económico; é um horizonte que solicita a mover-se num sistema de regras e responsabilidade comuns.
A terceira toxina é o primado da finança - a mais desenvolta e a mais cínica possível - em relação ao trabalho e à produção de bens e serviços.
Sereis todos ricos, porque o dinheiro, por si só, multiplicará o dinheiro. Todos vós tereis a árvore das moedas de ouro, no campo dos milagres. O empenho, a fadiga, o estudo, a paciência e a tenacidade já de nada servem: são insignificâncias do passado. Tudo é fácil, tudo é possível, porque tudo é lícito.
A crise, disse um grande economista como Paul Samuelson, «é filha de uma soma diabólica de avidez, endividamento, especulação, "laisser faire" e, sobretudo, de uma infinita inconsciência» (...)
****
Inútil aludir ou repetir as reacções desdenhosas, agressivas, despeitadas da coligação do governo, perante esta manifestação imponente da oposição. Pode-se imaginar, com grande aproximação, as frases que efectivamente disseram: algumas ridículas, outras insultuosas; mas sempre previsíveis.
A crise, disse um grande economista como Paul Samuelson, «é filha de uma soma diabólica de avidez, endividamento, especulação, "laisser faire" e, sobretudo, de uma infinita inconsciência» (...)
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Inútil aludir ou repetir as reacções desdenhosas, agressivas, despeitadas da coligação do governo, perante esta manifestação imponente da oposição. Pode-se imaginar, com grande aproximação, as frases que efectivamente disseram: algumas ridículas, outras insultuosas; mas sempre previsíveis.
Alda M. Maia
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