domingo, junho 11, 2006

“É PRECISO ASSINAR NESTA CRUZINHA; SABE ASSINAR?”

Subtítulo: “Peripécias de Uma Viagem e Peripécias de um Regresso”.

Na ida para Turim, perdi os meus documentos no aeroporto de Madrid. Como isso pôde acontecer, não sei explicar. Já com o avião em voo, quis recolocar os dois bilhetes de identidade (italiano e português) na carteira própria e não os vi.
Por que razão tirei fora os dois documentos, pois bastava um, também não sei explicar!...
Em conclusão: cheguei a Turim indocumentada.

No dia seguinte, fui ao posto de polícia mais próximo para denunciar “lo smarrimento” – a perda – a fim de, com essa denúncia, poder requerer um outro B.I. italiano.
Atendeu-me um funcionário (um polícia) com grande gentileza; direi mesmo, com uma solicitude digna de louvores.
Forneceu-me duas cópias do documento, uma das quais para ser usada em Portugal (e que aqui não interessou a ninguém; não era necessária).

Dirigi-me, então, ao Registo Civil, secção AIRE (Registo Civil dos italianos residentes no estrangeiro, qual era o meu caso).
Não puderam passar-me imediatamente o B.I., visto que eu não podia exibir qualquer outro documento que atestasse a minha nacionalidade italiana. Esta confirmação deveria provir da Embaixada de Itália em Portugal, país da minha actual residência.
Perante a minha preocupação e nervosismo, sem que tivessem a mínima obrigação de requerer directamente esse atestado, enviaram um fax para Lisboa com a anotação de resposta urgente.
Pediram o meu número de telefone. Passado um dia, avisaram-me que já poderia requisitar o documento que me faltava, devendo levar comigo duas testemunhas, o que não causou nenhum problema.
Em poucos minutos, o Bilhete de Identidade estava pronto.

Alarguei-me nesta descrição, pois, quer no Registo Civil (AIRE), quer no posto da polícia, só encontrei gentileza, eficiência e boa vontade de solucionar o meu problema.
Não desejo estabelecer comparações, todavia…

Regressei ao nosso País.
Sexta-feira passada, dia 9, hora 12, fui ao Registo Civil aqui de Vila Nova de Famalicão. Atendeu-me uma jovem funcionária, educada e diligente.
Dei-lhe os dados certos para que pudesse solicitar a minha Certidão de Nascimento a Terras de Bouro, local onde nasci.
Retornei duas horas mais tarde e tomei lugar na secção própria, onde havia duas funcionárias ao balcão.
A certidão tinha chegado e uma delas ocupou-se do meu processo para a obtenção do B.I.
Desviou-se do balcão e fiquei à espera. O chefe de secção (suponho) aproximou-se e convidou-me a pôr-me na bicha ao lado. Respondi que estava a ser atendida. Insistiu, com tom autoritário, para que me pusesse na bicha, visto que naquela parte do balcão não estava ninguém. Respondi, com firmeza, que já estava a ser atendida, e fiquei onde estava.
Chegou outra funcionária – jovem - e começou a preencher os módulos necessários.
Apresentou-mos para eu assinar, informando-me:
- Aqui, nesta cruzinha, é preciso assinar; a Senhora sabe fazer a sua assinatura? Sabe assinar?
Pensei não ter ouvido bem e interroguei: - “Como?!”
- É preciso assinar. Sabe assinar? – repetiu com toda a naturalidade

É minha característica ver sempre, primeiro, o lado cómico das situações; neste caso, confesso, não achei graça nenhuma! Fiquei furibunda! Só me ocorreu responder-lhe: - Ó menina, ensinei tantas crianças a ler e escrever e pergunta-me se sei assinar?!
- Podia não ver bem – responde-me já um pouco atrapalhada.
De mal a pior!

Já a caminho de casa, encontrei duas pessoas amigas e contei-lhes o sucedido. Como se divertiram, aqueles diabos! Não paravam de rir.
Resolvi unir também as minhas gargalhadas. Finalmente, o ridículo do caso apresentou-se-me na sua justa dimensão!
No entanto, quando cheguei a casa, pus-me diante de um espelho, interrogando-o: “tenho mesmo aspecto de analfabeta e cegueta ou não”? Respondeu-me que não.

Para finalizar, e a conversa já se estendeu demasiado, só quero tirar algumas conclusões.
Primeira: o meu bilhete de identidade português chegar-me-á dentro de duas semanas; de há muitos anos, isto é, desde sempre que, em Turim, é questão de minutos.
Parece que a Conservatória do Registo Civil de V. N. de Famalicão, brevemente, informatizará estes serviços. Melhor tarde que nunca.
Talvez isto não seja atinente com o discurso anterior, porém, gostaria que justificassem por que razão o Imposto Municipal sobre os Imóveis, em Famalicão, é equiparado ao IMI das cidades do Porto e Lisboa.

Segunda conclusão… mas é necessário alongar-me noutras conclusões? Não é. O que acabo de contar é bem elucidativo.
Alda M. Maia
(assinado pela própria)

2 Comments:

At 4:48 da tarde, Blogger a d´almeida nunes said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

 
At 4:59 da tarde, Blogger a d´almeida nunes said...

Cara Alda
Esta é a 2ª edição do comentário que queria deixar aqui e agora.
No primeiro digitei Aida em vez de Alda mas dei por ela a tempo.
Ia eu a comentar...
De facto, mesmo para quem viaja pouco (fisicamente, que não desmaterialmente) por outros países, como é o meu caso, é essa a sensação que já temos interiorizada, de que, para o funcionalismo do Estado Portugês (particularmente), os utentes são medidos todos pela mesma bitola: isto é, à partida, não sabem ler nem escrever e não têm o direito de serem atendidos com prontidão e urbanidade.
Estamo-nos sempre a repetir mas é esta a verdade nua e crua. Não há maneira de se melhorar a qualidade de funcionamento dos nossos serviços públicos.
Imagino o susto e preocupações que essa perda dos documentos não lhe terá provocado. Muito abrigado pelo apontamento que deixou no meu blog.
Seja bem-vinda.
Quanto ao encontro de radioamadores não estive presente nem recebi qualquer informação de como terá decorrido.

 

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