segunda-feira, dezembro 12, 2016

REFERENDO ITALIANO: QUEM VENCEU?
A CONSTITUIÇÃO, OBVIAMENTE!

Paolo Gentiloni -  novo Primeiro-Ministro italiano

A febre especulativa sobre esta ocorrência política foi elevada. Acalmou, mas ainda perduram conclusões que se apresentam bastante distantes do que se verificava, desde o início, nas opiniões de um bom número de constitucionalistas e académicos de várias esferas, os quais eram e permaneceram contrários à reforma constitucional, na forma e estrutura como foi imposta. Errado afirmar que todos “os constitucionalistas e politólogos apoiavam o “Sim”.

Estou perfeitamente de acordo quando menorizam os gritos de vitória dos que se proclamam vencedores. Na percentagem do “Não”, contam-se milhares de votos de eleitores que nada têm que ver com o “Movimento Cinco Estrelas” e “Liga Norte”, os dois principais partidos do “Não” que mais vociferaram, em todo o País, contra tudo e contra todos.

Os quase 60% dos votos “Não” ou eram dirigidos contra o Governo de Renzi, por variadas razões políticas, sociais e económicas (o voto maciço dos jovens situou-se nestas duas últimas razões) ou porque não concordavam com uma reforma constitucional muito discutível.

Votei “Sim”, por um único motivo: como tudo indicava a vitória do “Não”, temi a instabilidade do país. Temi que recomeçassem os joguinhos políticos, logo, as inevitáveis consequências desastrosas na administração pública e a confirmação do que proclamavam os catastrofistas, sobretudo estrangeiros.   
Não estou arrependida. Até ao último momento, as perplexidades foram muitas. Vi um grande número de artigos constitucionais, incluídos nesta reforma, que assustava: pela quantidade e temas. Porém, mais premente do que a perplexidade impôs-se o temor de uma grave crise política. 
Bato palmas à intangibilidade da Constituição Italiana

“Humildade, zero; Arrogância, mil. Renzi irritou os italianos”: este é o título das múltiplas opiniões sobre o pós-referendo. Exagerado? Não muito!
Se querem reformar o regime de duas câmaras com as mesmas funções – Câmara dos Deputados e Senado – que estudem, ponderem e saibam escrever com absoluta clareza e idoneidade as alterações necessárias. De caminho, entretanto, não aproveitem esta causa para reformar outros artigos constitucionais.
Sempre ouvi dizer que a Constituição Italiana é uma das melhores do mundo. Alterá-la, promover um referendo ratificador e personalizá-lo, qual plebiscito, ameaçando demissão na eventualidade que o “Não” se impusesse, não soa estranho que o Primeiro-ministro, Matteo Renzi, tivesse irritado muitos, mas muitos italianos. Ouvi-lo, era efectivamente irritante!

Outro facto que desagradava era um determinismo que, dentro do partido do qual fazia parte, levava-o a não dialogar, negava-se à discussão dos problemas e, com esta desenvoltura do “eu cá sei o que faço” provocou muitas dissidências e fracturas no “Partido Democrático”. 
Não se deve ignorar, todavia, que foi um bom primeiro-ministro e mostrou qualidades.    

A crise de Governo está a ser bem encaminhada. O Presidente da República é homem de muito bom senso e nunca pus em dúvida que encontraria a melhor solução. Como verificamos, consegue manter a estabilidade.
Deu o encargo de formar novo governo a Paolo Gentiloni, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
 Licenciado em Ciências Políticas, “independente e leal, os amigos chamam-lhe O Prudente”.
“Gentiloni, no estilo e no carácter, está nos antípodas de Matteo Renzi. Se Gentiloni será presidente do Conselho, os italianos terão um chefe de governo com critério anti-retórico, pragmático, com um léxico seco e privo de cores, um vestuário clássico, uma idiossincrasia pelos transportes motorizados (antes de ser Ministro dos negócios Estrangeiros, deslocava-se na cidade sempre a pé) e um estilo de vida que o manteve sempre fora da vida mundana”. – Fabio Martini; La Stampa.

Um bom e tranquilizador retrato do personagem. Aguardemos, augurando que a equipa de governo caminhe com firmeza e eficácia.