REFERENDO ITALIANO: QUEM
VENCEU?
A CONSTITUIÇÃO, OBVIAMENTE!
Paolo Gentiloni - novo Primeiro-Ministro italiano
A febre especulativa
sobre esta ocorrência política foi elevada. Acalmou, mas ainda perduram
conclusões que se apresentam bastante distantes do que se verificava, desde o início,
nas opiniões de um bom número de constitucionalistas e académicos de várias
esferas, os quais eram e permaneceram contrários à reforma constitucional, na
forma e estrutura como foi imposta. Errado afirmar que todos “os constitucionalistas
e politólogos apoiavam o “Sim”.
Estou perfeitamente
de acordo quando menorizam os gritos de vitória dos que se proclamam vencedores.
Na percentagem do “Não”, contam-se milhares de votos de eleitores que nada têm
que ver com o “Movimento Cinco Estrelas”
e “Liga Norte”, os dois principais partidos
do “Não” que mais vociferaram, em todo o País, contra tudo e contra todos.
Os quase 60% dos
votos “Não” ou eram dirigidos contra
o Governo de Renzi, por variadas razões políticas, sociais e económicas (o voto
maciço dos jovens situou-se nestas duas últimas razões) ou porque não
concordavam com uma reforma constitucional muito discutível.
Votei “Sim”, por um
único motivo: como tudo indicava a vitória do “Não”, temi a instabilidade do
país. Temi que recomeçassem os joguinhos políticos, logo, as inevitáveis
consequências desastrosas na administração pública e a confirmação do que proclamavam os catastrofistas, sobretudo estrangeiros.
Não estou
arrependida. Até ao último momento, as perplexidades foram muitas. Vi um grande
número de artigos constitucionais, incluídos nesta reforma, que assustava: pela
quantidade e temas. Porém, mais premente do que a perplexidade impôs-se o temor de uma grave crise política.
Bato palmas à intangibilidade da
Constituição Italiana
“Humildade,
zero; Arrogância, mil.
Renzi irritou os italianos”: este é o
título das múltiplas opiniões sobre o pós-referendo. Exagerado? Não muito!
Se querem reformar o
regime de duas câmaras com as mesmas funções – Câmara dos Deputados e Senado –
que estudem, ponderem e saibam escrever
com absoluta clareza e idoneidade as alterações necessárias. De caminho, entretanto,
não aproveitem esta causa para reformar outros artigos constitucionais.
Sempre ouvi dizer que
a Constituição Italiana é uma das melhores do mundo. Alterá-la, promover um
referendo ratificador e personalizá-lo, qual plebiscito, ameaçando demissão na
eventualidade que o “Não” se
impusesse, não soa estranho que o Primeiro-ministro, Matteo Renzi, tivesse
irritado muitos, mas muitos italianos. Ouvi-lo, era efectivamente irritante!
Outro facto que
desagradava era um determinismo que, dentro do partido do qual fazia parte, levava-o
a não dialogar, negava-se à discussão dos problemas e, com esta desenvoltura do
“eu cá sei o que faço” provocou
muitas dissidências e fracturas no “Partido Democrático”.
Não se deve ignorar,
todavia, que foi um bom primeiro-ministro e mostrou qualidades.
A crise de Governo está
a ser bem encaminhada. O Presidente da República é homem de muito bom senso e
nunca pus em dúvida que encontraria a melhor solução. Como verificamos, consegue
manter a estabilidade.
Deu o encargo de
formar novo governo a Paolo Gentiloni, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
Licenciado em Ciências Políticas, “independente
e leal, os amigos chamam-lhe O Prudente”.
“Gentiloni,
no estilo e no carácter, está nos antípodas de Matteo Renzi. Se Gentiloni será presidente do Conselho, os italianos terão um chefe
de governo com critério anti-retórico, pragmático, com um léxico seco e privo
de cores, um vestuário clássico, uma idiossincrasia pelos transportes
motorizados (antes de ser Ministro dos negócios Estrangeiros, deslocava-se na
cidade sempre a pé) e um estilo de vida que o manteve sempre fora da vida
mundana”. – Fabio Martini; La Stampa.
Um bom e
tranquilizador retrato do personagem. Aguardemos, augurando que a equipa de
governo caminhe com firmeza e eficácia.
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