POR QUEM EU NUNCA VOTARIA
Lendo as declarações de voto, expressas pelo director do jornal L’Unità, assim como os propósitos, neste sentido, de outras personalidades, a mim ocorreu escrever precisamente o contrário: por quem eu nunca votaria.
Nunca votaria por uma personagem que não conhece o respeito pelas instituições e que trata os cargos públicos mais representativos do país como vil mercadoria de câmbio.
Nunca votaria um candidato que tem um conflito de interesses escandaloso e inadmissível em qualquer outro país democrático.
Nunca votaria um indivíduo que foi objecto de inúmeros inquéritos judiciais e constituído arguido em seis processos penais, salvo erro.
Nunca votaria um indivíduo que, apenas eleito, passou grande parte do sua legislatura a promover e fazer aprovar leis “ad personam” – as leis da vergonha - a fim de evitar a cadeia e anular a eficácia dos processos nos quais era arguido.
Um indivíduo que entrou na política para salvaguardar, descaradamente, os seus interesses; um indivíduo que fez eleger os seus advogados e continua a propô-los nestas novas eleições; um indivíduo que mente arrogante e despudoradamente, pretendendo que se acredite no que diz.
Nunca votaria por um indivíduo que ataca a Magistratura com expressões inauditas num aspirante a primeiro-ministro de um país democrático: só é juiz quem sofre de alienação mental; os juízes são “antropologicamente diversos da raça humana”.
Além destas bacoradas, a ignorância sobressai com grande resplendor! Repare-se no emprego da palavra "antropologicamente": como se pode ser, "antroplogicamente, diverso da raça humana"?!
Nunca votaria um indivíduo que preanuncia (se ganhar) a criação de uma lei que submeta os Ministérios Públicos a periódicos exames de sanidade mental. E o que ainda mais me repugnou foi a aquiescência de alguns magistrados seus acólitos.
Nunca votaria por um personagem que trata os adversários políticos como inimigos e os insulta com os epítetos mais ordinários: coglione; grullo (do toscano: atrasado mental), e por aí adiante.
Nunca, mas nunca votaria um indivíduo que chamou herói a um verdadeiro mafioso que, por dois anos, fora seu motorista privado ou moço de estrebaria… onde não havia cavalos.
Este mafioso, Vittorio Mangano, quando entrou ao serviço da "personagem", (1974/76) já tinha um “bom pedigree criminoso” (e prosseguiu, nos anos sucessivos, como elemento de relevo de Cosa Nostra), mas a "personagem" desconhecia tal circunstância, assim como o seu grande amigo e colega de universidade, Marcello Dell’Utri, amigo que lhe fez assumir esse servidor e o fez instalar, com mulher, filhos e sogra, na principesca residência da "personagem".
Marcello Dell’Utri é siciliano e factótum político da personagem que eu jamais votaria.
É senador e sê-lo-á novamente, embora também tenha um currículo judicial de todo o respeito!
Arguido em vários processos e condenado em alguns, em Dezembro 2004 Marcello Dell’Utri foi condenado a nove anos de prisão por “concurso externo em associação mafiosa”. Este senador foi também condenado a dois anos de liberdade controlada e à interdição perpétua de funções públicas… mas é senador!
Marcello Dell’Utri, nesta campanha eleitoral, referindo-se ao mafioso Mangano – falecido em 2000 na cadeia, imputado de três homicídios e condenado, em primeiro instância, a duas penas de prisão perpétua – afirmou que, a seu modo, foi um herói: “Mangano é um herói. Morreu por culpa minha. Era doente de cancro, teria saído da prisão com lautos prémios, se tivesse acusado a “personagem” e a minha pessoa à magistratura. Mas ele nunca disse nada”.
Lendo as declarações de voto, expressas pelo director do jornal L’Unità, assim como os propósitos, neste sentido, de outras personalidades, a mim ocorreu escrever precisamente o contrário: por quem eu nunca votaria.
Nunca votaria por uma personagem que não conhece o respeito pelas instituições e que trata os cargos públicos mais representativos do país como vil mercadoria de câmbio.
Nunca votaria um candidato que tem um conflito de interesses escandaloso e inadmissível em qualquer outro país democrático.
Nunca votaria um indivíduo que foi objecto de inúmeros inquéritos judiciais e constituído arguido em seis processos penais, salvo erro.
Nunca votaria um indivíduo que, apenas eleito, passou grande parte do sua legislatura a promover e fazer aprovar leis “ad personam” – as leis da vergonha - a fim de evitar a cadeia e anular a eficácia dos processos nos quais era arguido.
Um indivíduo que entrou na política para salvaguardar, descaradamente, os seus interesses; um indivíduo que fez eleger os seus advogados e continua a propô-los nestas novas eleições; um indivíduo que mente arrogante e despudoradamente, pretendendo que se acredite no que diz.
Nunca votaria por um indivíduo que ataca a Magistratura com expressões inauditas num aspirante a primeiro-ministro de um país democrático: só é juiz quem sofre de alienação mental; os juízes são “antropologicamente diversos da raça humana”.
Além destas bacoradas, a ignorância sobressai com grande resplendor! Repare-se no emprego da palavra "antropologicamente": como se pode ser, "antroplogicamente, diverso da raça humana"?!
Nunca votaria um indivíduo que preanuncia (se ganhar) a criação de uma lei que submeta os Ministérios Públicos a periódicos exames de sanidade mental. E o que ainda mais me repugnou foi a aquiescência de alguns magistrados seus acólitos.
Nunca votaria por um personagem que trata os adversários políticos como inimigos e os insulta com os epítetos mais ordinários: coglione; grullo (do toscano: atrasado mental), e por aí adiante.
Nunca, mas nunca votaria um indivíduo que chamou herói a um verdadeiro mafioso que, por dois anos, fora seu motorista privado ou moço de estrebaria… onde não havia cavalos.
Este mafioso, Vittorio Mangano, quando entrou ao serviço da "personagem", (1974/76) já tinha um “bom pedigree criminoso” (e prosseguiu, nos anos sucessivos, como elemento de relevo de Cosa Nostra), mas a "personagem" desconhecia tal circunstância, assim como o seu grande amigo e colega de universidade, Marcello Dell’Utri, amigo que lhe fez assumir esse servidor e o fez instalar, com mulher, filhos e sogra, na principesca residência da "personagem".
Marcello Dell’Utri é siciliano e factótum político da personagem que eu jamais votaria.
É senador e sê-lo-á novamente, embora também tenha um currículo judicial de todo o respeito!
Arguido em vários processos e condenado em alguns, em Dezembro 2004 Marcello Dell’Utri foi condenado a nove anos de prisão por “concurso externo em associação mafiosa”. Este senador foi também condenado a dois anos de liberdade controlada e à interdição perpétua de funções públicas… mas é senador!
Marcello Dell’Utri, nesta campanha eleitoral, referindo-se ao mafioso Mangano – falecido em 2000 na cadeia, imputado de três homicídios e condenado, em primeiro instância, a duas penas de prisão perpétua – afirmou que, a seu modo, foi um herói: “Mangano é um herói. Morreu por culpa minha. Era doente de cancro, teria saído da prisão com lautos prémios, se tivesse acusado a “personagem” e a minha pessoa à magistratura. Mas ele nunca disse nada”.
Viva a omertà: não vejo, não ouço, não falo!
A “personagem” imediatamente anuiu: sim, senhor, foi um herói. O Ministério Público dizia-lhe que se revelasse algo sobre mim iria para casa, mas nunca inventou nada a meu respeito.
Para esta gente, os heróis são os mafiosos; os verdadeiros heróis – os famosos juízes Falcone e Borsellino – esses não contam.
Ponho de lado outras singularidades; estas são mais que suficientes para dar um retrato supremamente negativo da "personagem".
Assim:
Nunca votaria nem jamais votarei por Sílvio Berlusconi.
Alda M. Maia
A “personagem” imediatamente anuiu: sim, senhor, foi um herói. O Ministério Público dizia-lhe que se revelasse algo sobre mim iria para casa, mas nunca inventou nada a meu respeito.
Para esta gente, os heróis são os mafiosos; os verdadeiros heróis – os famosos juízes Falcone e Borsellino – esses não contam.
Ponho de lado outras singularidades; estas são mais que suficientes para dar um retrato supremamente negativo da "personagem".
Assim:
Nunca votaria nem jamais votarei por Sílvio Berlusconi.
Alda M. Maia
8 Comments:
Mas onde estão os democratas italianos???na 1ª quem quer cai,na 2ª cai quem quer!!!!Gostei imenso de a ler,pois assim me fez mergulhar na vida politica italiana.E parabens pela frontalidade de nos dizer em quem não votaria...Abraço
Muito prazer em "vê-la" nestas paragens!
E como era previsto, ganhou mesmo o homenzinho que eu nunca votaria... e que não votei. Pelo que via e lia, já esperava este resultado.
De novo, terei de ver aquele actor de teatro variedades a interpretar o papel de primeiro-ministro. É uma tristeza, mas a maioria assim o quis.
Onde estão os democráticos italianos? Encolheram-se e agora terão um governo à mercê de uma Liga Norte xenófoba.
Passo a concordar com Umberto Eco: tem o governo que merecem.
Um grande abraço
Alda
Este comentário foi removido pelo autor.
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Eliminei comentário, porque apercebi-me que escrevi a frase “têm o que merecem” sem o acento circunflexo. Todavia, saiu-me uma asneira muito pior: escrevi assento, em vez de acento. Não devia estar boa da cabeça!
Creio que Berlusconi não é assim tão desprezível.
Sem dúvida, Prodi é um gentlemen, académico de renome; mas para a política...;foi ele quem provocou as eleições antecipadas.Até o PR o quis demover da demissão.
Tenho grande admiração por Valter Veltroni, embora eu me situe em área ideológica diferente.
A política italiana é fértil em corrupção: Bettino Craxi enfrentou corajosamente a justiça fugindo para a Líbia.
Ao tempo, tinha sido o 1º ministro mais duradouro.
As finanças públicas regularizadas com Prodi tb se deve a medidas do tempo de Berlusconi.
De qualquer modo-e isso é que interessa porque estamos na UE- creio que tanto Berlusconi como Veltroni serão políticos à altura da Itália.
Cumprimentos
Antes de mais, agradeço o seu comentário, portanto, a sua visita.
Permite-me que manifeste o meu total desacordo com a sua primeira frase,“Berlusconi não é assim tão desprezível”?
1 -Creia-me: Berlusconi, como homem político, é desprezível.
A mim nunca me irritaria uma vitória do centro-direita. Pode-se não pertencer a essa área ideológica, mas é sempre uma parte democrática digna de respeito, e a alternância, numa democracia, é uma das primeiras regras.
O que eu acho aberrante é ver Berlusconi líder de um centro-direita e primeiro-ministro, dado o gigantesco conflito de interesses que o acompanha; o seu passado nada límpido; as leis indecentes que fez aprovar para fugir aos graves processos de que foi alvo - além de neutralizá-los, tinha feito de tudo para retardá-los … entretanto, cairiam em prescrição.
Quem não deve, não teme, não acha? Enfrenta-se a Justiça e esclarecem-se as próprias razões: exactamente como fez Giulio Andreotti, quando o acusaram de coalizão com a máfia. Foi absolvido
Informe-se bem deste aspecto da vida de Berlusconi e notará a consistência dos processos que o envolveram.
Os mais importantes canais televisivos italianos (não semente os de sua propriedade, mas também a RAI), praticamente estão nas suas mãos: nestas últimas eleições pude, mais uma vez, constatá-lo.
2 – O governo Berlusconi tinha deixado as finanças com um saldo bem negativo. Prodi e Padoa Schioppa operaram muitíssimo bem
3 - Está confundido: não foi Prodi que fez cair o Governo. A esquerda radical nada poupou para lhe criar dificuldades. Os aliados de centro negaram-lhe os votos no Senado (depois de tratativas com Berlusconi, embora o neguem). Prodi apenas exigiu que o fizessem claramente no Parlamento. Achei bem
4 - Quanto a Craxi, foi um grande amigo de Berlusconi!
Não sabia que Craxi era amigo de Berlusconi.
Acompanho a política europeia( e americana), mas não tinha noção disso.
O que eu queria realçar era a atitude de Craxi, sendo socialista, que fugiu à Justiça; Giulio Andreotti, sim, foi queimada em público, mas foi a tribunal.
Um bom debate é sempre útil: não estava a par desses males de Berlusconi, apesar dos media em Portugal serem muito críticos com ele.
A referência a Prodi tinha na base o facto de ele ser o chefe do governo: sei que os radicais lhe fizeram a vida negra; mas creio que o PR não se inclinava para eleições.Prodi teria que tentar novo governo, embora reconheça que seria bem difícil com tão más companhias...
Cumprimentos
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