segunda-feira, maio 01, 2017

REFERENDO: 
DEMOCRACIA DIRECTA OU DEMAGOGIA?

Certamente que seria um instrumento correcto, quando aplicado numa democracia sólida e onde a política, obviamente, é desenvolvida com paixão no desenvolvimento de ideias amplas e concretas para uma administração centrada no progresso do país. Mas existem democracias claudicantes. O referendo, em determinadas circunstâncias, apresenta-se como um instrumento oportuno a que recorrem os aspirantes a um poder totalitário.
Para tal fim, a informação torna-se retórica e jamais pormenorizada sobre a autêntica finalidade que estes aspirantes pretendem obter. Confiam na boa-fé da maioria dos votantes, e esta maioria, mal informada, dá-lhes o prémio ambicionado.

Outra forma discutível, no recurso a referendos, situa-se nas tácticas de políticos que, ante problemas governamentais, desejam ser reeleitos ou garantir o tempo integral do respectivo mandato através da promoção do fatídico referendo, ignorando ou subavaliando as consequências que tal acto possa arrastar.

O exemplo recente é o famigerado Brexit. O Reino Unido referendou o divórcio da União Europeia. Na sua elevada inconsciência, descurou a reduzida margem da vitória do referendo: 51,8% contra 48,2%.
Os seus dirigentes - Cameron na primeira fila - auscultaram com seriedade o pensamento dos cidadãos britânicos? Ou melhor: elucidaram-nos concretamente sobre o que significava, sobretudo para a economia do país, o abandono de uma União que em nada os prejudicava nem, contrariamente ao que o orgulho nacional insinuava, lhes subtraía soberania no que concerne o respeito de algumas regras? Orgulho desmesurado ou superficialidade?

Nos últimos dias, as notícias giram à volta das negociações da União Europeia com a Grã-Bretanha, a fim de estabelecer as normas da separação.
Pelos vistos, a dirigente britânica, a Sra. Theresa May, insiste na rejeição das propostas da União que não coincidem com as conveniências do seu país. Resumindo: nós viramos costas à União Europeia, porém, fora ou dentro, tudo deve permanecer igual, o que não é possível.

E aqui surge a prova sobre referendos por táctica política e sempre muito discutíveis. Uma sondagem recente, no Reino Unido, indica que a maioria, hoje, votaria pela permanência na União Europeia: 45% lamenta o abandono; 43% insiste na separação; 12% é indeciso. As consequências negativas são já perceptíveis e a população adverte o erro da separação.

Numa entrevista ao conhecido ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, na leitura das suas respostas vislumbra-se o bom senso. Quando lhe perguntam se ainda crê na União Europeia, respondeu:
As razões para a existência da Europa unida são ainda mais fortes do que no passado. Certamente que a UE tem necessidade de reformas, mas quem acredita na sua desintegração é um iluso.
No mundo globalizado, contam as dimensões. O único modo de competir com gigantes como China e Índia, para as nações europeias, é estar juntas. Pessoalmente, não perco a esperança de que a Grã-Bretanha ainda possa tornar a fazer parte da União. O debate sobre a Brexit está longe de ficar concluído.”