REFERENDO:
DEMOCRACIA
DIRECTA OU DEMAGOGIA?
Certamente que seria
um instrumento correcto, quando aplicado numa democracia sólida e onde a
política, obviamente, é desenvolvida com paixão no desenvolvimento de ideias
amplas e concretas para uma administração centrada no progresso do país. Mas existem
democracias claudicantes. O referendo, em determinadas circunstâncias, apresenta-se
como um instrumento oportuno a que recorrem os aspirantes a um poder
totalitário.
Para tal fim, a
informação torna-se retórica e jamais pormenorizada sobre a autêntica
finalidade que estes aspirantes pretendem obter. Confiam na boa-fé da maioria
dos votantes, e esta maioria, mal informada, dá-lhes o prémio ambicionado.
Outra forma
discutível, no recurso a referendos, situa-se nas tácticas de políticos que,
ante problemas governamentais, desejam ser reeleitos ou garantir o tempo
integral do respectivo mandato através da promoção do fatídico referendo,
ignorando ou subavaliando as consequências que tal acto possa arrastar.
O exemplo recente é o
famigerado Brexit. O Reino Unido referendou o divórcio da União Europeia. Na
sua elevada inconsciência, descurou a reduzida margem da vitória do referendo:
51,8% contra 48,2%.
Os seus dirigentes -
Cameron na primeira fila - auscultaram com seriedade o pensamento dos cidadãos
britânicos? Ou melhor: elucidaram-nos concretamente sobre o que significava,
sobretudo para a economia do país, o abandono de uma União que em nada os
prejudicava nem, contrariamente ao que o orgulho nacional insinuava, lhes
subtraía soberania no que concerne o respeito de algumas regras? Orgulho
desmesurado ou superficialidade?
Nos últimos dias, as
notícias giram à volta das negociações da União Europeia com a Grã-Bretanha, a
fim de estabelecer as normas da separação.
Pelos vistos, a dirigente
britânica, a Sra. Theresa May, insiste na rejeição das propostas da União que
não coincidem com as conveniências do seu país. Resumindo: nós viramos costas à
União Europeia, porém, fora ou dentro, tudo deve permanecer igual, o que não é possível.
E aqui surge a prova sobre
referendos por táctica política e sempre muito discutíveis. Uma
sondagem recente, no Reino Unido, indica que a maioria, hoje, votaria pela
permanência na União Europeia: 45% lamenta o abandono; 43% insiste na
separação; 12% é indeciso. As consequências negativas são já perceptíveis e a
população adverte o erro da separação.
Numa entrevista ao
conhecido ex-primeiro-ministro britânico, Tony Blair, na leitura das suas
respostas vislumbra-se o bom senso. Quando lhe perguntam se ainda crê na União
Europeia, respondeu:
“As razões para a existência da Europa unida são ainda mais fortes do que
no passado. Certamente que a UE tem necessidade de reformas, mas quem acredita
na sua desintegração é um iluso.
No
mundo globalizado, contam as dimensões. O único modo de competir com gigantes
como China e Índia, para as nações europeias, é estar juntas. Pessoalmente, não
perco a esperança de que a Grã-Bretanha ainda possa tornar a fazer parte da
União. O debate sobre a Brexit está longe de ficar concluído.”
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