ENTRE A INSENSATEZ E DESPAUTÉRIOS
E assim vivemos no
mundo actual: a insensatez predomina; os despautérios são expressos com a
máxima naturalidade e em posições onde seriam exigidos equilíbrio e bom senso.
Mas o equilíbrio e
bom senso quem os viu? Será que se tornaram apanágio exclusivo do cidadão comum
e desertaram dos centros de poder ou de entidades responsáveis?
Nestes últimos dias,
olho para a Itália e vejo o partido mais votado e partido de governo, o Partido
Democrático (PD), em lutas intestinas.
Matteo Renzi, o
secretário do partido e ex-primeiro-ministro, tornou-se o pomo da discórdia.
Justa ou injustamente? Dada a sua apetência pelo egocentrismo – e talvez um
pouco de egolatria - certamente que irrita muitos colegas, sobretudo da velha
guarda. Houve cisões, sucedeu o que mais se temia, isto é, secessões no
partido.
Eram inevitáveis? Não
creio. Um pouco mais de humildade e poder dialogante do Sr. Renzi, creio que atenuariam
discórdias e secessionismos latentes. Paralelamente, os que se afastaram tudo
deveriam ter feito para manter o partido íntegro. Assim, eis o resultado de uma grande
ausência: o bem senso.
Se virarmos agora a
atenção para o outro lado do Atlântico, impõe-se a América de Trump e, aqui, a
insensatez bate todos os recordes. E não só a falta de bom senso, mas o
despautério (disparate grande, contra-senso, desconchavo) tornou-se moeda
corrente. Quando aquele homem (o Sr Presidente dos Estados Unidos) abre boca,
torna-se forçoso recorrer ao velho ditado: “… ou entra mosca ou sai asneira”.
Mas como às moscas, ali, não é permitido habitar, desgraçadamente sai asneira.
“Aumentar o arsenal nuclear para fazer dos Estados Unidos o país mais
potente entre todas as nações que possuem a atómica. Os Estados Unidos não
cederão a supremacia sobre os armamentos”.
Arrepiante ouvir estes
desconchavos. Aonde podem conduzir? Ademais, tudo isto soa como provocações a
outros países, como a Rússia. É salutar para a paz mundial?
A maioria do povo
americano está surda? Na Califórnia ”sonha-se a secessão da América de Trump”.
Algo quase impossível, mas as demonstrações contra um presidente, tão mal
escolhido, sucedem-se.
A piorar a situação, este
mesmo presidente resolveu declarar guerra aos meios de comunicação que ousem
ocupar-se de factos ou de notícias que o coloquem sob luz negativa. Não
contesta com a verdade ou esclarecimentos objectivos. Como tem demonstrado
grande facilidade em dizer mentiras, é com grande naturalidade que Mr. Trump
não hesita em chamar mentirosos aos outros; neste caso, aos jornalistas. E não
hesitou em excluir correspondentes de vários meios de comunicação de referência,
como CNN, BBC, New York Times e outros, da conferência de imprensa na Casa
Branca.
Uma decisão que
ultrapassa o admissível. Tanto mais, no país onde, praticamente, sempre reinou
a democracia. Insisto: o povo americano aceita este desafio sem precedentes e
não reage?
Mas deixemos Trump
aos seus desvarios. Quiseram-no como presidente? Não penso que a América mereça
um incompetente daquele jaez, mas aturem-no e procurem limitar, dentro da
legalidade, os desconchavos que, no dia-a-dia, vai exteriorizando.
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