IR AOS COPOS OU TOMAR
UMA BEBIDA?
Na primeira variante
e a mais banal, já sabemos que se trata de ir beber o normal copo de vinho ou
qualquer outra bebida alcoólica em recipiente idêntico; na segunda, a mais
elegante, vai-se ingerir qualquer outra bebida, alcoólica ou não, quer seja num
copo ou em cálice.
O caso da falta de
educação, ou boas maneiras, do presidente do Eurogrupo (ministro das Finanças
na Holanda), Jeroen Dijsselbloem,
foi muito discutido na semana passada. O sul da Europa não achou graça nenhuma
ao comentário desastrado daquele senhor, numa entrevista concedida ao quotidiano
alemão Frankfurter Allgemein Zeitung. Vejamos o que afirmou:
Durante
a crise do euro, os países do Norte demonstraram solidariedade para com os
países mais atingidos. Como social-democrata, dou muita importância à
solidariedade, mas também há obrigações: não se pode gastar todo o dinheiro em álcool e mulheres e, depois, pedir ajuda.
Este princípio é válido a nível pessoal, local, nacional e até a nível europeu.”
Uma belíssima ocasião
para estar calado, como imediatamente comentou Matteo Renzi, exigindo a sua
demissão da presidência do Eurogrupo. O nosso Primeiro-ministro exigiu o mesmo,
assim como houve protestos de políticos espanhóis, mas o homem entende que é indispensável.
Face à indignação dos
países visados, recusou-se a pedir desculpa. “Não, certamente que não. Referia-me a todos os países do Eurogrupo que
pedem ajudas e não a qualquer país em particular. Lamento se alguém se
sentiu ofendido com as minhas observações”.
Tentou ignorar que se
referia, sobretudo, aos países do Sul da Europa e o que disse era aquilo que,
na sua confirmada arrogância, sentia verdadeiramente.
Uma observação: Traduzir
“gastar todo o dinheiro em copos e
mulheres”, como pudemos ouvir nas notícias televisivas e alguns jornais
escreveram, confesso que me soou mal. Aqueles “copos” ali expressos pareceu-me
mais linguagem de taberna do que uma tradução mais cuidada. Mas continuemos.
Os despropósitos de
Dijsselbloem já são conhecidos e têm causado problemas. Porém, continua impertérrito
pela sua estrada sem tentar corrigir esta qualidade de trapalhão e mentiroso.
Asseriu que tinha o
mestrado em Business Economics da
Universidade de Cork, na Irlanda. Uma mentira descarada, pois um mestrado desta
natureza não existe naquela universidade.
Jeroen Dijsselbloem
esteve apenas dois meses na Irlanda para estudar “Food Business”, que é um
curso, não um mestrado.
Tem uma forte ligação
com a Alemanha, a qual sempre o apoiou e encorajou a proclamar o rigor
orçamental: “A austeridade não é a causa
do crescimento débil, mas são necessários orçamentos em ordem”.
O mais interessante,
porém, na qualidade de Presidente do Eurogrupo, declarou guerra às
multinacionais que eludem o fisco; como Ministro das Finanças holandesas, “competiu
com outros países europeus a fim de proporcionar as melhores condições às multinacionais
que desejam poupar nas questões fiscais”. E viva a coerência!
Mas o sentido da
palavra coerência não é para aqui chamado. É a esperteza destes senhores que
driblam, por vezes descaradamente, quaisquer normas ou princípios, sempre que o
interesse próprio, do grupo ou país a que pertencem estejam em jogo.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home