“DARIO FO, O SUMO
JOGRAL”
O grande actor e dramaturgo Dario Fo
Milão, Piazza Duomo: funeral de Dári Fo: "milhares de pessoas para o último aplauso"
Dario Fo sempre
captou o meu interesse e grande simpatia pela originalidade do seu humor, do
seu talento, da sua coragem de dizer o que pensava sem jamais cair na
bajulação.
“A mim ensinou a nunca ser cortesão, a divertir-me quando críticos e
nunca me tomar a sério” – testemunho do escritor Roberto Saviano.
"Foi constante o empenho político de Fo em todas as suas produções. O teatro, para ele, não podia ser senão o espelho da sociedade". - Marica Stocchi
E neste aspecto, a sua objectividade não alterava a imagem, apesar de as suas tendências políticas alinharem na extrema-esquerda.
E neste aspecto, a sua objectividade não alterava a imagem, apesar de as suas tendências políticas alinharem na extrema-esquerda.
Não me alongo sobre
quem foi Dario Fo, pois os nossos jornais publicaram amplas informações concernentes à morte e vida deste grande actor, escritor, dramaturgo, ilustrador, pintor, Nobel
da Literatura em 1997.
No jornal Público, o
encenador Jorge Silva Melo informa que “No fundo, ele é um filho da televisão
dos anos 50”. Não é exacto. Desde o início da sua carreira, sempre foi conhecido como actor teatral. Só em 1962 Dario Fo e a sua esposa, Franca Rame, conduziram
um programa televisivo e, obviamente, a popularidade destes dois actores
aumentou.
“O imponente corpus dramatúrgico, quase uma centena de textos teatrais,
valeu-lhe, em 1997, o Nobel da Literatura” – Corriere Della Sera,
13/10/2016.
Sendo assim, será
adequado estabelecer similitudes com o Nobel da Literatura de 2016? Responda
quem é competente nesta matéria.
Curiosa coincidência,
todavia, sobre a data 13 de Outubro 2016: atribuição do Nobel da Literatura a
Bob Dylon; morte de Dário Fo.
Os títulos da
imprensa italiana, anunciando o seu falecimento no passado dia 13, foram quase todos
coincidentes no aposto que caracterizava esta popularíssima figura do teatro
italiano: “Dario Fo, o sumo jogral”.
Vem então a propósito
o que o “Sumo Jogral” dizia:
“Ainda
não se compreendeu que é somente no divertimento, na paixão e no riso que se
obtém um verdadeiro crescimento cultural”.
“O
riso é sacro. Quando um bebé dá a primeira gargalhada é uma festa.
Mas também
acrescentava:
“O homem sem ideias, como dizia Voltaire, é um imbecil”.
“Em
toda a minha vida nunca escrevi nada para divertir e basta. Sempre procurei
introduzir, nos meus textos, aquela brecha que é capaz de mandar em crise as
certezas”.
Aquando do banimento
das suas obras na Turquia - “porque não encarnam o espírito nacional turco” - numa
entrevista em que as perguntas incidiam mais sobre o facto de ser posto fora da
lei conjuntamente a Shakespeare, Cechov, Bertold Brecht e similares, as
respostas caracterizam Dario Fo:
“É belíssimo! Mas que honra! Parece-me, todavia, que na Turquia se
esqueceram de alguém igualmente importante. Na lista dos rejeitados faltam os
antigos Gregos e, talvez, alguém da Comédia da Arte. Só assim o elenco estaria
completo.”
“Acomunado
a estes grandes, admito que me dá um grande prazer. Sinto-me como se me tivessem dado um outro prémio Nobel”.
O funeral de Dario Fo
realizou-se sábado passado. O cortejo partiu do Teatro Strehler para a Praça
Duomo (Praça da Catedral) onde se efectuou o funeral laico. Fo era ateu, mas alimentava dúvidas.
Um sacerdote do Duomo
quis negar o espaço Sagrado para o funeral. Uma reunião com a Câmara Municipal
de Milão e a promessa que, no Sagrado, apenas estariam o féretro e os familiares, esvaeceram o problema.
A Praça encheu-se de milhares de pessoas que
quiseram assistir ao último adeus a Dário Fo, embora a chuva fosse persistente.
Uma homenagem de Milão merecida. Dizem que não será a última. É credível.
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