E A TERRA CONTINUA A
TREMER!
Mensagem que Andrea, bombeiro, depôs no féretro da pequena Giulia
Ao incomensurável
susto da primeira arremetida destruidora do terramoto das regiões Lácio, Umbria Marche, no centro de
Itália, da madrugada de 24 de Agosto até hoje, a terra não se acalma e o pavor,
para os sobreviventes das zonas atingidas e habitantes das localidades
próximas, tornou-se contínuo.
Tenho seguido com
atenção reportagens e notícias provindas de Amatrice, Accúmoli e as demais cidades
devastadas. Paralelamente ao horror, os actos de grande solidariedade e o
trabalho incansável de todos aqueles socorristas, bombeiros e agentes da
protecção civil que tudo tem feito para salvar vidas e afastar perigos, são
comoventes.
Escavar horas e horas
nos escombros para resgatar seres humanos: alguns já cadáveres; outros,
felizmente, ainda com vida.
É admirável o carinho
como estes profissionais reagem ante os efeitos dos seus esforços; esforços que
não deixam de ser perigosos, mas que os não afastam nem fazem desanimar. São
profissionais bem preparados, mas, sobretudo, dotados de muita humanidade.
Até no salvamento de
animais, o que também me emociona, não diminui a satisfação que sempre manifestam
pelos resultados obtidos.
Mas não quero
perder-me em mais considerações que, em fim de contas, tornam-se óbvias.
Houve imagens que foram
classificadas como ícones do terramoto. Talvez o exemplo mais conhecido seja o
caso de Georgia, uma menina de 4 anos, salva pela irmã mais velha, Giulia, de
10 anos. É a este exemplo que desejo dar atenção especial.
Após 16 horas de
escavação entre os escombros, encontraram Giulia em posição protectiva, fazendo
de escudo à irmãzinha.
Giulia foi encontrada
já sem vida; a pequenina Giorgia ainda respirava. Foi uma alegria quando os
seus salvadores emergiram com a menina, viva, ao colo. A fotografia deste acontecimento
correu mundo.
No primeiro funeral das
vítimas, em Ascoli Piceno, um dos bombeiros que cooperou no salvamento das duas
crianças, enternecido, instintivamente escreveu e deixou uma mensagem que depôs
no caixão de Giulia. Traduzo-a, procurando interpretar, na nossa língua, toda a
ternura que exprime.
“Olá, pequenina, apenas dei uma ajuda para
tirar-te fora daquela prisão de escombros. Desculpa se chegámos tarde.
Infelizmente, já não respiravas, mas quero que saibas, lá de cima, que fizemos
tudo quanto foi possível para tirar-vos fora dali.
Quando regressar à
minha casa em Acquila, saberei que me verás do céu e, de noite, serás uma
estrela luminosa. Adeus, Giulia. Embora nunca me tivesses conhecido, quero-te
mito bem.
Andrea”.
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