ENALTEÇAMOS O JUMENTO
Asno de Miranda
Quase sempre evoca-se
este animal - asno, burro, jerico, jumento - como paradigma dos humanos
ignorantes, estúpidos, imbecis, idiotas, pataratas e por aí adiante. Dizem, todavia,
que o asno é mais inteligente que o seu “nobre parente”, o cavalo. Ademais, é
dotado de uma mansidão e afectuosidade comoventes.
São excelentes
ajudantes nos trabalhos pesados, mas devem ser tratados com atenção e carinho,
ao contrário do que fazem tantos brutamontes humanos que só conhecem a
brutalidade, diminuindo as capacidades do animal.
Sempre gostei dos
burrinhos (animais, entenda-se!) e se tivesse uma casa com um grande quintal,
de certeza que haveria a presença de um exemplar asinino como animal de
estimação: o jumento de Miranda, por exemplo. Mas deixemo-nos de divagações e
vamos ao concreto.
Existe na Itália,
região central de Reggio Emilia, uma empresa agrícola que se tornou líder na
Europa: a criação de asnos e exploração inteligente do que esta espécie de equídeos
pode oferecer. E oferece tanto.
Iniciou com dois
exemplares. Actualmente, possui 800 de oito raças diferentes. Li com atenção
donde provêm: além dos naturais de Itália, adquiriu jumentos irlandeses,
egípcios, espanhóis… e nenhum português! Que pena.
O leite de asna é
muito semelhante ao leite materno de mulher. Após a mungidura, liofilizam-no e
distribuem-no pelas lojas biológicas de toda a Itália. Também é largamente utilizado
para produtos de beleza.
Cada fêmea de asno apenas
produz um litro e meio por dia, muito inferior aos 40 litros extraídos de uma
vaca. Daqui, o preço de um litro atingir os 15 euros; o liofilizado chega aos
30.
O proprietário desta
empresa agrícola, chamada Montebaducco, projecta criar um queijo natural,
embora não seja fácil. Porém, quem luta pelas próprias ideias obtém resultados.
Mas em Montebaducco existe
outro aspecto comercial, não menos importante: os jumentos são muito procurados
como animal de companhia e para aquilo a que chamam “pet therapy”. Aliás, a manutenção é fácil e barata: diariamente,
apenas são necessários 4 quilos de feno e um de farinha. Vendem cerca de 200
animais por ano.
No ano passado, o
Vaticano tivera conhecimento da actividade desta empresa agrícola e o
proprietário quis oferecer dois jumentos ao Papa Francisco - os dois jumentos, agora,
pastoreiam nos terrenos de Castel Gandolfo.
Quando foi recebido
pelo Santo Padre, o Papa contou que o interesse por estes animais provinha do
facto que, quando bebé, a mãe não tinha leite e fora alimentado com leite de
asna, acrescentando: “Naqueles tempos remediava-se deste modo”.
Termino com um
desejo e uma forte esperança. Estamos em crise económica. Esta rasteja, não
caminha e não é capaz de levantar a cabeça.
Penso que em Portugal
existam personagens inteligentes e com ideias criativas. Olhem este exemplo… e
tantos outros pelo mundo fora. Dêem vulto à criatividade, removam obstáculos e
rochedos que obstruem a chegada aos capitais necessários. Ajam, mandando para
as urtigas medos e sujeições a quem nada faz e tudo impede.
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