“NUNCA ACREDITEI
QUE
FÔSSEMOS TÃO ESTÚPIDOS”
Este é o desabafo de
uma jovem inglesa, perante o desfecho do referendo nacional. Na minha opinião, só
foram egoisticamente “estúpidos” os cidadãos mais velhos, geração cujos valores continuam ligados a uma excessiva insularidade.
Impressionou-me, muito
positivamente, a atitude dos jovens britânicos na luta pela permanência do seu
país na União Europeia. Merecem esta carta de encorajamento do Director do jornal La Repubblica.
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“Caros jovens, a Europa é
vossa: não permitais que vençam os vendedores de medos”
“Caros jovens,
nascestes num continente de paz, nunca tivestes a guerra às portas de casa,
crescestes sem fronteiras, projectando estudar num outro país, enamorando-vos
durante o Erasmus, trocando mensagens com os amigos sobre ocasiões para
encontrar trabalho ou sobre os voos mais baratos para assistir a um concerto.
Não importa se
nascestes em Cardife, em Bolonha, em Marselha, em Barcelona ou em Berlim. Hoje,
os medos dos vossos pais e dos vossos avós decidiram que a Grã-Bretanha
voltasse a ser uma ilha, que vós voltásseis a ser estrangeiros no outro lado do
Canal da Mancha.”
“Os vossos avós, que
sabem o que foi a guerra, deveriam tomar a peito um futuro de liberdade para
vós. Porém, juntamente com os vossos genitores, estão a deixar-se encantar por
quem afirma que, recolocar muros, fronteiras e arame farpado servirá para
fazer-nos viver mais tranquilos, seguros e serenos. Que voltar a ter cada um a própria moeda, recriará emprego, prosperidade e futuro.”
“Estão a narrar-vos
que a democracia directa e as sondagens em tempo real resolvem, magicamente, os
problemas; que existem sempre soluções simples de fácil alcance; que não há
necessidade de peritos e competências; que a fadiga e a paciência já não são
valores; que destruir vale mais do que construir. O continente está enfermo,
mas a febre de hoje é a simplificação, a ideia que seja suficiente destruir a
casa que se nos tornou estreita para vivermos todos comodamente. É pena que só
fiquem os escombros.”
“Abri os olhos, olhai
para a frente e pretendei uma herança melhor do que dívidas. Queremos ter
paz, esperança e liberdade; não a raiva, gritos e medos.”
“Tapai os ouvidos,
não escuteis vendedores da banha da cobra e pretendei políticos humildes,
pessoas que provem a medir-se com as complexidades do mundo e sejam
construtores, não demolidores.”
“Marcai no calendário
a data de ontem, 24 de Junho 2016, e começai a caminhar noutra direcção,
semeando as cores e as esperanças.”
“Uma rapariga inglesa
que votou sim à União Europeia, mas não conseguiu convencer o seu pai e o seu
tio a fazer o mesmo, ontem prometeu aos seus amigos europeus, com uma voz
tremente que demonstrava embaraço e raiva: «Virá o turno da nossa geração e então voltaremos».
Contamos com isso.”
Mário Calabrese (Director do jornal La
Repubblica) – 25 Junho 2016
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