A AUSTERILÂNDIA
O novo führer da UE, sobretudo no que concerne questões orçamentais: "Obecei ao que eu digo, mas não olheis para o que nós, alemães, fazemos"
Austerilândia: onde existirá esta localidade, este país? O primeiro
pensamento, todavia, voa para uma região continental que abrange 28/27 Estados
soberanos (todos soberanos?) a que chamam Estados-membros da União Europeia.
Lendo com mais atenção o texto escrito por Maurizio
Ricci, no jornal “La Repubblica” de 09/07/2016, parece que a Austerilândia situa-se em território
alemão. Que novidade!...
Quando acho interessante a leitura de um editorial, por
vezes agrada-me traduzi-lo e transcrevê-lo neste blogue. Vejamos a que
propósito surge o neologismo “Austerilândia”.
“OS ECONOMISTAS BCE AOS GOVERNOS: ABRI OS
CORDÕES À BOLSA.”
Estais convencidos
que a austeridade estrangulou a economia europeia muito mais de quanto Berlim e
Bruxelas estejam dispostos a admitir?
Que um cartãozinho
vermelho da UE aos défices de Orçamento de Madrid e Lisboa seja uma forma
masoquista de autolesão?
Que os erros de contagem
sobre a Grécia não seja um facto excepcional?
Que chegou o
momento de reanimar a moribunda economia europeia com potentes incentivos
fiscais a consumos e investimentos?
Não sois os únicos:
O Banco Central Europeu diz o mesmo.
Na realidade,
muitos destes argumentos são defendidos pelo Fundo Monetário Internacional (ou,
pelo menos, o seu departamento de estudos).
Neste caso, porém,
a advertência não provém da remota Washington, mas do coração da Austerilândia alemã: de Francoforte, onde o BCE de Draghi começa a assemelhar-se a uma
patrulha de heréticos assediados em território hostil.
Com efeito,
precisamente como nos tempos da inquisição, a heresia é posta a circular à luz
do sol (no caso específico, a homepage do BCE), mas sepultada sob gráficos e
fórmulas matemáticas, e proposta dentro de um debate que mais exotérico não
poderia ser: a discussão sobre o
«output gap», o equivalente económico do sexo dos anjos.
O output gap, na
verdade, não existe no estado natural, não se pode ver, não se pode medir e nem
todos estão de acordo sobre o que seja exactamente. Marek Jarocinski e Michele Lenza, no artigo do último número do
Boletim BCE, explicam que, em linha de princípio, corresponde ao desvio da
actividade económica (real) do seu potencial (presumível). As complicações vêm
imediatamente depois. Porque em período de economia débil, um output gap grande
em absoluto, porque a economia parou, reclama incentivos á procura; mas se o
problema é, pelo contrário, que o potencial da economia cresce mito lentamente,
são necessárias reformas estruturais que a relancem.
Em conclusão,
a situação é sempre mesma desde a crise de 2009: o estímulo fiscal de Obama ou as
reformas de estrutura com a etiqueta Schäuble? Obama, aconselham os dois
investigadores do BCE, embora estejam bem atentos a não dizê-lo em voz alta.
(…) A crise custou
á economia europeia, somente em 2014 e 2015, um output gap de 6% (…) Uma
travagem assustadora que subverte as avaliações oficiais, limitadas, para os
últimos dois anos, a 2 - 3%. Deduz-se que a economia europeia não somente estacionou,
mas vai a pique.
De qualquer
maneira, como dizem os dois investigadores, significa que mesmo as estimas
oficiais «subavaliaram a amplidão do afrouxamento económico da zona euro»
(…) O output gap é
demasiado amplo, a economia real deve ser relançada e «políticas directas a
estimular a procura agregada (via monetário e de orçamento) deveriam ter um
papel ainda mais importante no mix da política económica».
É uma absolvição do
Quantitative Easing (QE), lançado pelo Banco Central Europeu com a aquisição de
títulos públicos, mas também claro convite aos governos singulares para abrir
os cordões á bolsa, a fim de estimular a economia.” – Maurizio
Ricci; La Repubblica – 09/07/2016
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