TRAGÉDIAS, OBSCURANTISMOS, DESPEITOS
Mas também mensagens de amizade
entre comunidades diversas. “Compartilhemos o nosso dia de festa”: assim
entenderam muitas famílias da comunidade muçulmana em Turim, na celebração do início
da conclusão do longo jejum do Ramadão.
Muitas famílias deram avio ao
impulso de convidar amigos italianos, a fim de compartilhar este dia tão
importante para a fé que professam.
Estas são atitudes que gostaria
fossem a normalidade entre cristãos, muçulmanos, budistas, judeus, enfim, todos
e quaisquer outros credos religiosos que somente devem inspirar, uns aos
outros, respeito e natural aceitação.
Infelizmente, assim não é. O
obscurantismo é a arma primordial dos regimes totalitários instalados ou que
aspiram ao domínio de populações manipuláveis. Uso o adjectivo “primordial”,
não somente pelo significado de primeira importância, mas porque, desde os
primórdios, o obscurantismo já abria alas aos déspotas da época.
Hoje e ontem, a religião é o
elemento ideológico por excelência dos obscurantistas. E quer se trate de
revelações teológicas ou costumes civis tradicionais, mas ligados intrinsecamente, tudo
faz parte do dogmatismo religioso, sempre imposto severamente.
Os princípios fundamentais, como o
“estado de direito e uma laicidade que deve defender os crentes de todas as
religiões e os não crentes”, não são contemplados: apresentemos a Arábia
Saudita como exemplo incontestável.
A enésima tragédia provocada por
terroristas deflagrou em Bangladesh. Entre as vinte vítimas, foram assassinados
nove italianos: quatro senhoras e cinco homens, em grande parte empresários da
indústria têxtil. As histórias pessoais de todas estas vítimas comovem; alguns italianos tencionavam regressar a Itália; regressarão num féretro.
A Itália, obviamente, ficou chocada.
Os serviços televisivos têm coberto intensamente esta tragédia. A selecção
nacional italiana decidiu jogar com sinal de luto no braço.
Embora seja já consuetudinário os
terroristas islâmicos exigirem, aos reféns, citações do Corão, esta
particularidade sempre me chocou. Em Bangladesh, quem não soube recitar
versículos do Corão foi degolado.
Usar o Livro Sagrado do Islamismo como
justificação para a prática dos crimes mais hediondos, intensificam a hediondez
desses crimes e acrescentam um outro, mas este contra o Islão.
A enorme maioria dos honestos e
sinceros muçulmanos nada têm a dizer contra blasfémias similares? Usar o Alcorão em
actos de natureza puramente criminosa é aceitável, compreensível?
Por que razão os vemos passíveis perante esta
onda de monstruosidades que, a coberto do Islão, semeiam ódios, morte e
crueldades sem fim?
Por que não manifestam, alto e bom
som, um geral, claro e decisivo repúdio destes fundamentalistas aventureiros?
Porque, para alguns destes sinceros crentes,
ainda dominados pelo obscurantismo, lá no fundo os terroristas são os
verdadeiros guerreiros contra a contaminação dos “infiéis ocidentais”?
Estes facínoras não defendem nem
lutam por coisa nenhuma. Apenas recolheram a ocasião para extravasar uma
natureza árida e eivada de violência: bárbaros da pior espécie, tout court.
E falemos dos despeitosos que se
ofendem quando se acena a verdades que lhes dizem respeito e nunca as aceitaram.
Palavras de Sua Santidade, Papa
Francisco, na última viagem à Arménia: “Aquela
tragédia, aquele genocídio,
infelizmente inaugurou o triste elenco das catástrofes imanes do século
passado, tornadas possíveis por aberrantes motivações raciais, ideológicas ou
religiosas, obscureceram as mentes dos carrascos até ao ponto de predeterminarem
a intenção de aniquilar povos inteiros. É tão triste que, seja nesta, como nas
outras, as grandes potências viraram a cara para o outro lado. Presto homenagem
ao povo arménio…”
E a Turquia protestou. É
historicamente comprovado que cerca de 1 milhão e meio de arménios, em
1915, foram massacrados pelo império Otomano. A Turquia nunca aceitou a
classificação de genocídio, referente a esta carnificina. Aliás, sempre a diminuiu:
quando muito, tratava-se “só” de 300 mil pessoas!....
Contra o reconhecimento do genocídio,
protesta, ofende-se, entende que é um ultraje ao país.
Se, desde o princípio, aceitassem
honestamente o que realmente sucedeu, em nada ficariam diminuídos e só
cresceriam em dignidade.
Basílica de Santa Sofia, em
Istambul: primeiro, Igreja cristã; depois, mesquita; em 1931 convertida em Museu secular
Entretanto, o Governo turco, mais uma vez ofendido contra o uso da
palavra genocídio de Papa Francisco, depois dos protestos veio o despeito aos
cristãos.
Pela primeira vez, depois de 85 anos, do interior da Basílica de Santa
Sofia, em Istambul, "partiu a voz do muezim, após a chamada «noite do poder», na última sexta-feira do Ramadão”.
Um
gesto de desafio consciente ao mundo cristão, também porque de há anos existe a
ameaça de ali voltar a orar, elevando louvores ao profeta Mohamed, levada avante com o consentimento directo do Governo turco”.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home