AINDA SOBRE O REINO
UNIDO
Sim, ainda sobre o
que se escreve a propósito do referendo inglês, o qual se efectuará dentro de
uma dezena de dias.
Aprecio a leitura das
múltiplas opiniões e comentários sobre este tema, e quanto mais leio, mais
aumentam as minhas perplexidades. Aliás, acho este referendo tão parvo como
inteiramente fora do bom senso. Que perdeu a Grã-Bretanha com a entrada na
União Europeia?
A este respeito,
deliciou-me o artigo de opinião de Stefano Stefanini, no jornal “La Stampa” de
ontem.
Em vez de quaisquer
outras minhas considerações, agrada-me muito mais analisar, traduzindo, a quase
totalidade de uma opinião da grande competência. Ademais, recheada de
argumentos interessantíssimos. Há alguns, porém, que desejaria comentar. Mas
ficará para uma próxima vez.
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“POR QUE O REINO
UNIDO DEVE PERMANECER NA UE”
"Navegando sem
bússola, Europa e USA aproximam-se de duas passagens decisivas: o referendo da
Grã-Bretanha do dia 23 sobre a União; o voto americano de oito de Novembro
entre Clinton e Trump. Ambas se arriscam a quebrar, do interior, a capacidade de um
Ocidente ao qual não faltam, certamente, as ameaças e desafios externos: desde
a Síria à Rússia; do Estado Islâmico à China. Como sempre, o inimigo pior é o
que está dentro. Eis por que se torna necessário temê-lo."
"(…) Seja o ingresso
de Trump na Casa Branca, seja a saída do reino Unido da Europa marcariam um
ponto de não regresso. Em Cannes, George Cloony disse que Donald Trump não será
presidente dos Estados Unidos. Na série “Serviços de Urgência”, nunca errava
uma diagnose, mas já passou bastante tempo."
"As sondagens sobre o
Brexit oscilam entre 40% pró e 40% contra. Decidirão os indecisos. Quem vota
pela União Europeia vota razão e lucidez; os partidários do Brexit, com paixão e frustração. Pouco tranquilizante. Além
disso, as sondagens são falseadas quando os entrevistados mentem, porque se
envergonham de admitir o que farão no interior das urnas."
"Brexit e Trump são
desastres anunciados, mas evitáveis. O êxito está, democraticamente, nas mãos
dos eleitores britânicos e americanos. O resto do Ocidente não vota, mas pode
fazer-se ouvir. As nossas vozes, preocupações e sensibilidades pesam na rede
das interdependências e dos media sociais; os nossos governos estão ligados por
fio duplo. Também o resto do mundo teme o dúplice risco Brexit-Trump. Com
qualquer excepção míope à volta dos muros do Kremlin, o nervosismo adverte-se
de Pequim a Santiago. Mas, seria o Ocidente, in primis, a perder, atirando para as urtigas os seus pontos de força: a União
Europeia e a Comunidade Atlântica. Imperfeita, a primeira; encrespada, a
segunda, mas permanecem como os nossos fundamentos."
"Com a aproximação do
ano 2000 temia-se a queda dos sistemas informáticos, programados com duas
cifras, que não teriam reconhecido o novo século e milénio. As consequências
teriam sido catastróficas.
Não sucedeu nada e o
temidíssimo “Y2K bug” foi consignado ao relicário das curiosidades históricas.
Mas somente porque tivemos medo."
"Não de menor receio necessitamos
hoje. De Trump deverão cuidar, sobretudo os americanos. Faltam cinco meses.
Pelo contrário, Brexit decidir-se-á dentro poucos dias.
O eleitorado
britânico está submerso por avisos de borrasca. Londres tem muito a perder com
a saída da UE. Quem vota pode ignorá-lo, mas foi avisado.
Menos claro, para os
europeus, quanto deva perder a União Europeia. Não somente porque a saída de
Londres deixaria uma Europa geopolítica, militar e economicamente mais débil,
mas também pelo papel britânico dentro da União, determinante em conter os
reflexos centralizadores e dirigistas de Bruxelas. Paralelamente, sem Londres a
predominâncias alemã – não por vontade de Berlim, mas por inércia – encontraria
menores contrapesos.
A Itália perderia a
orla da Mancha que, frequentemente, nos evita a escravidão de alinhamentos
rígidos."
"Que Brexit aplane o
caminho para uma Europa “federal” é uma pia ilusão. Com quem? Com a Áustria que
ameaça muros no Brennero? Com a Holanda que repele, por referendo, o inócuo
acordo de associação com a Ucrânia? Quais opiniões públicas seguiriam, a
começar pela italiana? Quantas outras partes perderia a União Europeia? Quem
pararia e emulação e o efeito dominó das secessões?"
"Ninguém mais do que
Ulisses encarna o espírito da cultura e civilização ocidentais. Contudo, Já não
estamos na época homérica, mas no século XXI. Para superar a Cila de Brexit e
as Caríbdis de Donal Trump, o Ocidente deve esperar que o ADN permaneça igual."
De Stefano Stefanini; "La Stampa" - 12/06/2016
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