PERMANÊNCIA DA
GRÃ-BRETANHA NA UNIÃO.
REFORMA DO
EURO.
Traduzo uma
entrevista do jornal “La Stampa” ao Prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz.
Todas as
respostas deste economista são interessantes. Há algumas, porém, que condena,
sem eufemismos, quem e o que deve ser reprovado.
Vejamos.
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“A GRÃ-BRETANHA
NÃO DEIXE A UNIÃO, MAS SERVE UMA REFORMA DO EURO”
“A Grã-Bretanha
não deve deixar a União Europeia, porque seria um passo com consequências
desastrosas para todos. Todavia, o euro deve ser reformado ou desmantelado,
porque é, claramente, uma instituição falida”.
“São muito
explícitos os juízos expressos pelo Prémio Nobel da Economia, Joseph Stiglitz,
que encontrámos num almoço oferecido pelo Council
on Foreign Relations. O professor da Columbia University está prestes a
publicar um livro sobre o euro, consequentemente intervém de boa vontade sobre
temas também levantados pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, na
entrevista com “La Stampa”
“Em 23 de Junho, O Reino Unido decidirá a sua
permanência na União Europeia: segundo a sua opinião, o que deverá escolher?
O verdadeiro
problema é político, não económico. Na gestão da União Europeia foram cometidos
muitos erros. È uma instituição verticalizada que não fez o necessário para
democratizar-se, para criar uma cultura e uma identidade política comuns entre
os seus cidadãos. No entanto, estes são problemas que podem ser corrigidos, e o
arco da história pende para a integração.”
“Portanto, nada de Brexit?
Não seria útil,
no plano económico, e lançaria um sinal muito perigoso sobre o plano político, nomeadamente
em relação a outros países que poderiam seguir o exemplo da Grã-Bretanha. O
discurso seria diverso se, pelo contrário, Londres fizesse parte do euro e
devesse decidir abandoná-lo.”
“Neste caso, seria a favor da saída da moeda única?
O euro foi, sem
a mínima dúvida, um mau desenvolvimento para a Europa.”
“O seu próximo livro será dedicado a este tema. Por
que considera o euro uma experiência falhada?
Dizem-no os
dados, não o digo eu. A economia europeia certamente que não tem andado bem
depois da crise de 2008. Logo, é necessário perguntarmos por qual razão: foi
culpa de uma doença imprevista, das instituições, das pessoas que já não são
tão inteligentes como antes, das empresas doentes, da justiça ineficiente? Qual
era a diferença-chave em relação ao passado?
Eu creio que foi
o euro que impediu os ajustamentos necessários. Todos os economistas o tinham
dito, advertindo que se surgissem crises sérias, a moeda única obstacularia as
adequações indispensáveis para reagir. Agora vemos os resultados.”
“Para países como a Itália e Grécia foi um impedimento
mais grave?
Muito grave.
Para a Grécia, obviamente, foi um desastre, mas há uma outra consideração a ter
em conta. Se somente um país fosse atingido, a questão ficaria circunscrita:
ok, a Grécia não soube administrar-se bem e, agora, paga as consequências. No
entanto, o problema também atingiu a Espanha, a Irlanda, Portugal, Chipre, a
Itália, a França. Todos tiveram dificuldades, alguns de natureza empresarial e
outros não. Assim como a Europa do Norte. Temos então de reconhecer que é um
problema sistémico.”
“O euro deve ser reformado ou desmantelado?
Ainda se pode
reformar, mas a pergunta é uma outra: sê-lo-á?”
“Como deveria ser reformado?
Podereis lê-lo
no livro, mas é claro que se deveria partir da possibilidade de fazer os
ajustamentos necessários, a fim de responder às crises.”
“O Senhor também foi muito crítico da rigidez com a
qual a Alemanha impôs a austeridade a todos os outros países. Porquê?
É um exemplo
bem claro do que não funcionou no euro. Sob o ponto de vista económico, a austeridade
era uma linha errada que se não deveria seguir. Para uma situação de crise,
como aquela vivida pela Europa, teria servido, exactamente, o oposto.
Era oportuno
estimular a economia, em vez de a sufocar. Em seguida, uma vez aviada a retoma,
poderíamos tornar a concentrarmo-nos sobre responsabilidades fiscais.
Porém, sob o
ponto de vista político, a obstinação da Alemanha teve efeitos ainda mais
prejudiciais, porque impediu de encontrar uma solução europeia compartilhada e
concordada para a crise, demonstrando, precisamente, as razões pelas quais o
sistema, assim como está delineado agora, não funciona.”
Paolo
Mastrolilli (enviado a Nova Iorque); La Stampa - 04 Abril, 2016
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