domingo, maio 15, 2016

REFUGIADOS SÍRIOS: EUROPA E JORDÂNIA

Transcrevo o parágrafo final de uma reportagem, de há poucos dias, sobre refugiados sírios:
A Jordânia, um país de 8 milhões de habitantes, com escassez de água e de recursos, porque tem 85% de território desértico, consegue hospedar cerca de um milhão e meio de sírios, dos quais apenas 630 mil foram registados como refugiados. Os outros vivem fora dos campos.
É um dos pouquíssimos países de Médio Oriente a permanecer estável, não obstante as guerras e o terrorismo embraveçam nas suas fronteiras: Síria, Iraque, Sinai, Israel, Palestina.
Geralmente, apesar das fibrilações que atravessam a Europa, são as regiões em vias de desenvolvimento que, na realidade, recebem 86% dos refugiados a nível global. O primeiro lugar, por número de pessoas acolhidas, é a Ásia”. – Raffaella Cosentino; La Repubblica -10/05/2016

O título deste serviço jornalístico inspira tristeza: “É melhor morrer na Síria do que «a não vida» nos campos de refugiados”.
Descreve o centro de acolhimento da cidade Zaatari, no deserto jordano, a poucos quilómetros da fronteira com a Síria. É um dos maiores campos de refugiados do mundo. Ali residem 80 mil migrantes os quais procuram criar actividades comerciais e artesanais que lhes dêem uma razão da própria existência.
As condições de vida, porém, são péssimas e as possibilidades de trabalho escassas. Desesperados por uma guerra interminável, desde o verão passado que muitas famílias decidiram retornar ao país de origem. Precisamente: é melhor morrer na Síria do que uma vida sem esperanças nos campos onde se acolheram, embora a região donde provinham e aonde regressam, a região síria Daraa, tivesse sido exposta a pesados bombardeamentos pelo regime de Bashar al-Assad, e com armas proibidas pelas convenções internacionais.

Na Síria, de há cinco anos que aquele terrível conflito não dá tréguas. A população é diariamente martirizada ou simplesmente massacrada por bombardeamentos indiscriminados. 
Mas o resto do mundo limita-se a olhar! Talvez pior do que isso: nesta civilizada e cristianíssima Europa, olha-se, sim, mas com enfado. A solidariedade que os refugiados tanto esperam pôs a nu uma falta de humanidade inimaginável. Emergiram egoísmos e impiedades que hoje reinam quase incontrastáveis.

Por uma espontânea associação de ideias, nasce o desejo de estabelecer comparações com a Jordânia.
Como pode este pequeno país acolher um milhão e meio de quem foge da morte e destruição e consegue manter a serenidade?
Procurou ajuda, alguma foi-lhe concedida, mas não tem as condições económicas que gozam, por exemplo, os países do centro e norte da Europa. No entanto, não consta que haja egoísmos tão manifestos como os europeus. Não consta que exista a desapiedada exploração do trabalho infantil e a miserável precariedade do trabalho de adultos, como se verifica na Turquia.

E sobre o que se passa na Turquia, as notícias correram, as denúncias de jornais de referência (“The Independent” e “The Guardian” e o “Expresso” de 03/02/2016, por exemplo) foram circunstanciadas e sem margens para dúvidas.
Na Turquia, as infelizes crianças refugiadas são forçadas a trabalhar 12 horas por dia e seis dias da semana, em fábricas turcas que fornecem multinacionais.
O emprego de refugiados é uma prática padrão em sectores como a agricultura, têxtil e construção, sectores com alto grau de precariedade…”. E para completar, também se tem verificado a exploração sexual e muitas refugiadas têm sido vítimas desse odioso tráfego.

Assim, apesar de todas estas denúncias, aliadas ao ostentado ataque do presidente turco, Erdogan, aos princípios básicos da democracia, a União Europeia não teve pruridos em estabelecer um tratado com aquele país: um tratado de 6 mil milhões de euros e a concretização de tantas outras pretensões turcas, a fim de a União não ser incomodada com a massa de desesperados que batem às portas da Europa para que esta os acolha e os proteja.
Esclareça-se que uma grande percentagem destes refugiados são pessoas qualificadas que muito contribuiriam para o progresso dos países acolhedores, embora seja natural que eles esperem regressar à pátria que os viu nascer.

Europa, acorda! Não te acovardes a dar ouvidos a nacionalistas que são a perfeita expressão do egoísmo e do total desconhecimento da solidariedade. Aliás, no passado não muito longínquo, já deram provas bem nefastas, aqui na nossa Europa, daquilo que são capazes.