REFUGIADOS SÍRIOS:
EUROPA E JORDÂNIA
Transcrevo o parágrafo
final de uma reportagem, de há poucos dias, sobre refugiados sírios:
“A Jordânia, um país de 8 milhões de habitantes, com escassez de água e
de recursos, porque tem 85% de território desértico, consegue hospedar cerca de
um milhão e meio de sírios, dos quais apenas 630 mil foram registados como
refugiados. Os outros vivem fora dos campos.
É
um dos pouquíssimos países de Médio Oriente a permanecer estável, não obstante
as guerras e o terrorismo embraveçam nas suas fronteiras: Síria, Iraque, Sinai,
Israel, Palestina.
Geralmente,
apesar das fibrilações que atravessam a Europa, são as regiões em vias de
desenvolvimento que, na realidade, recebem 86% dos refugiados a nível global. O
primeiro lugar, por número de pessoas acolhidas, é a Ásia”. – Raffaella Cosentino; La Repubblica
-10/05/2016
O título deste
serviço jornalístico inspira tristeza: “É
melhor morrer na Síria do que «a não
vida» nos campos de refugiados”.
Descreve o centro de
acolhimento da cidade Zaatari, no
deserto jordano, a poucos quilómetros da fronteira com a Síria. É um dos
maiores campos de refugiados do mundo. Ali residem 80 mil migrantes os quais
procuram criar actividades comerciais e artesanais que lhes dêem uma razão da própria
existência.
As condições de vida,
porém, são péssimas e as possibilidades de trabalho escassas. Desesperados por
uma guerra interminável, desde o verão passado que muitas famílias decidiram
retornar ao país de origem. Precisamente: é melhor morrer na Síria do que uma
vida sem esperanças nos campos onde se acolheram, embora a região donde
provinham e aonde regressam, a região síria Daraa,
tivesse sido exposta a pesados bombardeamentos pelo regime de Bashar al-Assad, e com
armas proibidas pelas convenções internacionais.
Na Síria, de há cinco
anos que aquele terrível conflito não dá tréguas. A população é diariamente
martirizada ou simplesmente massacrada por bombardeamentos indiscriminados.
Mas
o resto do mundo limita-se a olhar! Talvez pior do que isso: nesta civilizada e
cristianíssima Europa, olha-se, sim, mas com enfado. A solidariedade que os
refugiados tanto esperam pôs a nu uma falta de humanidade inimaginável. Emergiram
egoísmos e impiedades que hoje reinam quase incontrastáveis.
Por uma espontânea associação
de ideias, nasce o desejo de estabelecer comparações com a Jordânia.
Como pode este
pequeno país acolher um milhão e meio de quem foge da morte e destruição e
consegue manter a serenidade?
Procurou ajuda,
alguma foi-lhe concedida, mas não tem as condições económicas que gozam,
por exemplo, os países do centro e norte da Europa. No entanto, não consta que
haja egoísmos tão manifestos como os europeus. Não consta que exista a desapiedada exploração do trabalho infantil e a miserável precariedade do trabalho de adultos,
como se verifica na Turquia.
E sobre o que se
passa na Turquia, as notícias correram, as denúncias de jornais de referência (“The
Independent” e “The Guardian” e o “Expresso” de 03/02/2016, por exemplo) foram circunstanciadas
e sem margens para dúvidas.
Na Turquia, as
infelizes crianças refugiadas são forçadas a trabalhar 12 horas por dia e seis
dias da semana, em fábricas turcas que fornecem multinacionais.
“O emprego de
refugiados é uma prática padrão em sectores como a agricultura, têxtil e
construção, sectores com alto grau de precariedade…”. E para completar, também se
tem verificado a exploração sexual e muitas refugiadas têm sido vítimas desse odioso
tráfego.
Assim, apesar de todas
estas denúncias, aliadas ao ostentado ataque do presidente turco, Erdogan, aos
princípios básicos da democracia, a União Europeia não teve pruridos em
estabelecer um tratado com aquele país: um tratado de 6 mil milhões de euros e a
concretização de tantas outras pretensões turcas, a fim de a União não ser
incomodada com a massa de desesperados que batem às portas da Europa para que esta
os acolha e os proteja.
Esclareça-se que uma grande
percentagem destes refugiados são pessoas qualificadas que muito contribuiriam
para o progresso dos países acolhedores, embora seja natural que eles esperem
regressar à pátria que os viu nascer.
Europa, acorda! Não
te acovardes a dar ouvidos a nacionalistas que são a perfeita expressão do
egoísmo e do total desconhecimento da solidariedade. Aliás, no passado não
muito longínquo, já deram provas bem nefastas, aqui na nossa Europa, daquilo que
são capazes.
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