MAS O QUE É, AFINAL,
UMA GERINGONÇA?
Linguagem
corrupta, má de entender;
coisa mal engendrada; engenhoca”. - Dicionário
de José Pedro Machado.
Linguagem vulgar, informal, calão, gíria; o que é malfeito, com estrutura frágil e funcionamento precário…” -
Dicionário Houaiss.
Carripana,
carro velho e frágil; maquinismo complicado; mulher com andar desengonçado;
desajeitada. – Dicionário
de Expressões Populares Portuguesas, de Guilherme Augusto Simões.
Outros dicionários
não oferecem uma maior riqueza de acepções deste vocábulo, hoje de grande
actualidade. Precisamente pelo uso e abuso, quando atribuída a um importante
órgão de Estado, a palavra “geringonça” torna-se-me extremamente antipática e
só releva falta de elegância e bom gosto na linguagem que temos o dever de
equilibrar, sobretudo em relação aos organismos mais representativos da nossa democracia.
Um Governo tem
maioria parlamentar e é eleito democraticamente. Podemos concordar ou discordar
da sua formação ideológica, quer de centro, de direita ou de esquerda; podemos
concordar ou discordar da sua actuação como administrador da coisa pública.
Porém, é sempre o Órgão executivo, um dos principais pilares de um Estado de direito.
Critiquemo-lo sem
ambages e quando o mereça, mas a língua portuguesa proporciona-nos um
vocabulário riquíssimo que poderemos seleccionar sem cair nos vulgarismos. Ademais,
sempre acreditei que tudo se pode dizer, mesmo expressando juízos desassombradamente
contundentes. Todavia, uma expressividade curada fustiga com mais eficácia do
que uma verbosidade pejada de apreciações grosseiras.
Deploro que, nos
tempos actuais, esta verbosidade grosseira seja normal na classe política portuguesa; aliás, mostrando-se ufana em exibir, com ostentação, esta penosa ausência de elegância expressiva. É triste!
Dizem que foi o Sr.
Paulo Portas que classificou o actual Governo como geringonça, ou seja: uma
engenhoca, uma caranguejola.
O termo pegou, os
jornais usam-no frequentemente, mesmo a despropósito. Vejo esse exemplo no meu
jornal preferido, o jornal “Público”, e lamento-o.
Mas voltemos ao
político geringonça, isto é, ao Senhor Paulo Portas, e olhemos os significados
de geringonça referentes à linguagem: linguagem
corrupta, má de entender; linguagem vulgar, informal, calão, gíria.
Surge-me a impressão que
Paulo Portas, prestigiado jornalista, confunde o sentido das palavras, e isto é
inexplicável.
Como Ministro de
Estado e dos Negócios Estrangeiros, lê-se o ponto 2, na sua Carta de 02/07/2013,
o seguinte: Com a apresentação do pedido
de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer”.
Como foi possível que,
tendo obedecido à sua consciência, esta não tivesse sabido interpretar, na sua
completude, o vocábulo “irrevogável”, visto o que se verificou posteriormente?
Esclarecendo melhor, verificou-se uma marcha atrás, atropelando mortalmente aquele
“irrevogável” sem quaisquer titubeações.
Conclui-se, portanto,
que para Paulo Portas o irrevogável e
geringonça entram no que se
classifica como “linguagem corrupta, má
de entender”. Será? Poder-se-ia dizer, então, que Paulo Portas – futuro
comentador político televisivo – foi um político geringonça? “Uma coisa mal engendrada”?
Não imitemos os impulsos agressivos da sua dialéctica e concedamos-lhe o benefício da dúvida.
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