segunda-feira, abril 18, 2016

POR QUE ESCREVO? EXPLICO

Hã dias perguntaram-me por que razão eu continuo a escrever regularmente neste blogue. Onde encontro tanta paciência. Paciência?!
Explicando-me metaforicamente, digamos que eu não escrevo, mas, como já várias vezes disse, gosto de “conversar com o computador”… e quem não gosta de conversar?

Visto que a leitura, desde criança, sempre foi o meu maior entretenimento; visto que sempre alimentei interesse pelo que decorre e sucede no país e no mundo, nunca faltam temas que capturem a atenção. Logo, serão eventos que, no dia-a-dia, me surpreendem, me desagradam, me indignam, que me provocam satisfação, alegria ou profunda tristeza. É sobre tudo isto que gosto de conversar, escrevendo.

Explodiu o caso mundial dos “Documentos do Panamá”, os tais “Panamá Papers” - abençoado “Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação”, tipo de jornalismo que mais aprecio.
De novo surgiu, em todo o seu esplendor, algo que já conhecemos de há longo tempo e, nesta explosão de notícias, foi bem recalcado que não é ilegal, entenda-se bem isto!...
 Este algo traduz-se por refúgio em paraísos fiscais e offshores de capitais de elite, de grandes empresas, das multinacionais, além da lavagem do que é o fruto da criminalidade organizada, e não só.

Certamente que, em certos aspectos, não serão ilegais, mas são indecentes, altamente incorrectos, traidores dos países a quem sonegam impostos, os quais deverão ser pagos pelos demais cidadãos com rendimentos modestos e por aqueles que nada querem esconder nos paraísos fiscais. Não hesito em dizer que considero essas “legalidades” simplesmente abjectas.

Relativamente ao panorama fiscal, é já um lugar-comum, mas verdadeiro, que onde todos pagam, todos pagam menos e o Estado progride.
Nas proporções correctas, adequadas e objectivas a que devem submeter os seus rendimentos, seria excelente se a totalidade dos cidadãos fizesse disto um ponto de honra, um preceito irrenunciável.

Nos Documentos do Panamá, o mais chocante é a constatação que, naqueles milhares de documentos, não falta nenhum exemplar relevante das mais diversas camadas sociais. Entre os multimilionários que estacionam os seus haveres em paraísos fiscais, há de tudo e em todos os continentes. Asqueroso!

Há quantos anos leio que se deve encetar luta contra tais paraísos! Mas estes bons propósitos são já patéticos. Belos discursos, mas sabem antecipadamente que apenas os dirigem à plateia. Os actores políticos vociferam, esbracejam, e o teatro prossegue. Frequentemente, não conseguem ir além de insultos recíprocos ao respectivo adversário: campanha eleitoral ad infinitum, mas de fachada.

O pior, todavia, é que a política prostrou-se aos pés da finança e da tão citada economia de mercado. Ninguém, impoluto e num regime seriamente democrático, envida esforços para regulamentar um fenómeno que só contribui para o regresso das economias nacionais e a desesperante situação de desemprego que não se atenua.   
  
Nos órgãos de informação é um fenómeno denunciado e amplamente argumentado; a política, nas assembleias onde todos os problemas graves devem ser debatidos com paixão e seriedade, ilude esses problemas, e não saímos disto.
Esperemos que o “Panamá Papers” dê o abanão que todos desejamos àquelas instituições internacionais idóneas para enfrentar e regulamentar, com determinação, esta indecência de Ilhas Virgens – virgens de vergonha e escrúpulos – e demais paraísos deste jaez.