FESTIVIDADES DE NATAL ABOLIDAS
SERÃO ESTAS INICIATIVAS OPORTUNAS?
Não só oportunas, mas também serão justas? Expliquemos
o motivo destas perplexidades.
Como reacção ao atentado parisiense e outros casos de
terrorismo islâmico, vários institutos de ensino italianos decidiram anular ou
alterar as festividades natalícias.
Um exemplo que bem caracteriza estas originalidades:
Em Rozzano, município
da Cidade Metropolitana de Milão, o director de uma escola primária decidiu
anular o tradicional concerto de Natal. Adiou-o para 21 de Janeiro, intitulando-o “Concerto de Inverno”, e substituindo os cânticos de Natal por
canções absolutamente laicas.
O tradicionalíssimo cântico “Tu desces das estrelas” (Tu scendi dalle stelle) e outros
similares não deveriam ser executados, a fim de não ofender os 20% de alunos
que não eram cristãos.
Rebentou o escândalo e as polémicas não se fizeram
esperar. Pais e alunos protestaram, várias entidades oficiais manifestaram
indignação, a imprensa não foi benévola. Porém, o director escolar mostrou-se
irremovível na sua decisão e afirmou: “Um
concerto de cânticos religiosos no Natal, depois do que aconteceu em Paris,
teria sido uma provocação perigosa”. Mas teve de capitular: demitiu-se.
O mais interessante é que muitos pais de alunos
muçulmanos daquela escola também se indignaram contra o director, pois não viam
qualquer razão para que as festas de Natal sofressem alterações. Os filhos sempre
se sentiram felizes em participar e nada os chocava na própria fé. Aliás, o
Islão considera Jesus um seu profeta.
Como inevitável, surgiu o aproveitamento deste facto,
na forma mais antipática. Os extremistas da direita, os populistas na sua
pior faceta e os xenófobos imediatamente se assenhorearam do acontecido
e logo demonstraram o mau gosto e o latente racismo que lhes é próprio. Juntaram-se
em frente da escola de Rozzano, ostentando presépios de mistura com slogans de pura xenofobia.
Este é um dos vários casos. Outros surgiram (cerca de
uma dezena, pelo que li) idênticos na sua motivação. Pelos vistos, nasceu a
moda, neste Natal 2015, arredar tudo o que simbolize uma época de alegria para
crentes e não crentes, mas, sobretudo, para as crianças.
Estas atitudes, a que prefiro chamar “originalidades”,
não serão uma descabida demonstração de ignorância e um ocultamento do que
nos identifica? Devemos “ter medo de dizer quem somos”? Inaceitável.
Em segundo lugar, estes gestos são oportunos e legitimamente aceites, ante a
barbárie de terroristas que se proclamam islâmicos e que assolam o mundo
ocidental? Não constituirão, para esses fanáticos violentos, motivo de regozijo
e ainda maior arrogância na prossecução de outras tragédias?
Os senhores professores ou directores escolares que reflictam
bem sobre tais iniciativas e procurem, antes de mais, informar os próprios
alunos sobre a fé na qual foram educados e o credo dos colegas que não são
católicos.
Aprendamos a conhecermo-nos, e sempre mais convicto
será o respeito por credos diferentes cuja história e caminho percorrido
deixarão de ser por nós ignorados. Saber, conhecer, reflectir é o modo fundamental para expulsarmos preconceitos e mantermos firmes a consciência da
nossa identidade dentro da civilização europeia; só deste modo saberemos interpretar correcta e adequadamente
a de outrem.
Termino com as palavras de Rifat Aripen, “originário do Bangladeche e coordenador das
associações islâmicas no Lácio, Itália”.
“O Natal é mais o
símbolo de uma civilização do que de uma religião. Na Itália e na Europa, a
civilização cristã tem raízes profundas que devem ser respeitadas; negá-las
significa não conhecer a história e fechar os olhos perante a realidade.
O Natal também é
símbolo para um agnóstico e os símbolos não prejudicam ninguém.
Um homem é um homem
antes de ser muçulmano, cristão ou judeu. Ninguém de mente sã o ignora. E
condenar o massacre de Paris é um dever absoluto de todo o ser humano”. - La Stampa, 29 / 11 / 2015 – Giacomo Galeazzi.
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