segunda-feira, novembro 16, 2015

“NADA SERÁ COMO ANTES”

Após qualquer acontecimento fora do vulgar que emociona ou alarma a sociedade, é muito comum ouvir os normais comentadores vaticinarem, com esta frase já consagrada, que, no futuro, tudo será diferente - talvez no melhor sentido.
Tenho ouvido várias vezes esta enunciação, porém, quase sempre tudo continua na mesma. Passou a tempestade: os discursos que a emoção sempre produz e as boas intenções daí derivadas esvaíram-se; a vida retoma o seu curso normal.
Se houve vítimas, seja qual for a gravidade que as atingiu, então sim, nada jamais será como antes.

Sábado, dia 14, passei horas a seguir o esplêndido serviço jornalístico de RAI3 sobre o tremendo drama de Paris. Um dos intervenientes, num tom ligeiramente irritado, manifestou-se contra esta fórmula de classificar as consequências: “Anteriormente, em relação a factos similares, sempre disseram que nada seria como antes. Efectivamente, não o é, pois tudo mudou para pior”.

Pior do que aconteceu em Paris, que mais podemos esperar de tarados que se desumanizaram e só vêem na morte própria e dos alvos inocentes da sua loucura a magnificência de doutrinamentos que outros tarados lhes insuflaram?
Mas tratar-se-á de doutrinamentos religiosos ou o mundo está a lidar com um género de seres humanos que idolatram a violência e só com a violência se sentem cumpridos? É triste e repugnante que, para justificar estas aberrações, as justifiquem em nome do Deus da religião a que pertencem, mas que injuriam, sempre que o evocam.
Sendo assim, não se pode compreender a passividade dos seus correligionários, a grande maioria e verdadeiros crentes, que suportam estas acções atentatórias da dignidade da fé que professam. 

De tudo o que vi e ouvi, o que muito me impressionou (aliás, tudo me impressionou e comoveu) foi a idade dos terroristas. Para tão cinicamente semear morte e dor; para tão barbaramente fuzilar outros jovens inermes e aterrorizados, alguma vez, nas suas jovens vidas, sentiram, por mínimos que fossem, resquícios de sensibilidade? Certamente que não: desumanizados mestres; desumanizados os alunos servos que a tudo obedecem.

Dizem que as redes sociais são os melhores meios de propaganda e aliciamento de sectários. Insisto: sectários propensos para a violência e de consciência em coma irreversível. Logo, muito fáceis de serem influenciados e alistados no exército das bestas humanas.
  
Se os meios de comunicação social são então o instrumento principal dos jihadistas e do execrando autoproclamado Estado islâmico, é difícil de compreender a falta de cooperação entre as autoridades oficiais e os “colossos da Internet”.
Arranjem modo de, tecnicamente, neutralizar esses instrumentos difíceis de interpretar. Se aludem a consoles para videojogos, sobretudo a PlayStation 4 e outras do mesmo género, abram-nas aos serviços de segurança.

Um jornal italiano de extrema-direita, no dia seguinte ao atentado a Paris, saiu com este título: “Islâmicos bastardos”.
O director deste quotidiano já foi denunciado à magistratura e à ordem dos jornalistas.
Denúncias sacrossantas. Incitações ao ódio e à discriminação são horrendas e só merecem desprezo e actos de repulsa.
Não usemos os terríveis factos de Paris para desprezar e não dar ajuda aos refugiados, sobretudo sírios e iraquianos, que fogem da morte e destruição dos seus países.
Não me venham com medos que sirvam para justificar discriminações raciais e religiosas. Se assim for, pouco ou nada nos distingue de quem alimenta radicalismos. Já temos conhecimentos e exemplos suficientes para sabermos até onde os fundamentalismos conduzem.

G20 em Antalya, Turquia. Oxalá que os 20 países, económica e financeiramente mais desenvolvidos, encontrem uma união, séria e isenta de pressões financeiras, que saiba enfrentar e dissolver, completamente, estas ondas de terroristas, venham donde vierem.
   
Mas, acima de qualquer outra esperança, que Deus intervenha e tire as cataratas de olhos que só vêem os próprios interesses, sobrecarregue o cérebro com bom senso, apague os tacticismos políticos sem justificação e, finalmente, dote a Rússia e Estados Unidos de todos estes dons, de que muito necessitam.
Coloque estes dois países num plano de franca amizade até que, por fim, floresçam a confiança e solidariedade entre eles.
 Após este milagre – mas parece que já não é milagre – que se unam, saibam atrair outros povos de boa vontade e comecem a agir contra os semeadores do terror.

Só esta esperança nos pode salvar do flagelo que já tantas vidas inocentes imolou. Que recordem Paris e outros eventos igualmente dramáticos e ajam, dentro do melhor e mais equilibrado meio que saibam organizar.