“NADA SERÁ COMO
ANTES”
Após qualquer
acontecimento fora do vulgar que emociona ou alarma a sociedade, é muito comum
ouvir os normais comentadores vaticinarem, com esta frase já consagrada, que,
no futuro, tudo será diferente - talvez no melhor sentido.
Tenho ouvido várias
vezes esta enunciação, porém, quase sempre tudo continua na mesma. Passou a
tempestade: os discursos que a emoção sempre produz e as boas intenções daí
derivadas esvaíram-se; a vida retoma o seu curso normal.
Se houve vítimas,
seja qual for a gravidade que as atingiu, então sim, nada jamais será como
antes.
Sábado, dia 14,
passei horas a seguir o esplêndido serviço jornalístico de RAI3 sobre o
tremendo drama de Paris. Um dos intervenientes, num tom ligeiramente irritado,
manifestou-se contra esta fórmula de classificar as consequências: “Anteriormente, em relação a factos similares,
sempre disseram que nada seria como antes. Efectivamente, não o é, pois tudo
mudou para pior”.
Pior do que aconteceu
em Paris, que mais podemos esperar de tarados que se desumanizaram e só vêem na
morte própria e dos alvos inocentes da sua loucura a magnificência de
doutrinamentos que outros tarados lhes insuflaram?
Mas tratar-se-á de
doutrinamentos religiosos ou o mundo está a lidar com um género de seres
humanos que idolatram a violência e só com a violência se sentem cumpridos? É
triste e repugnante que, para justificar estas aberrações, as justifiquem em nome
do Deus da religião a que pertencem, mas que injuriam, sempre que o evocam.
Sendo assim, não se
pode compreender a passividade dos seus correligionários, a grande maioria e
verdadeiros crentes, que suportam estas acções atentatórias da dignidade da fé
que professam.
De tudo o que vi e
ouvi, o que muito me impressionou (aliás, tudo me impressionou e comoveu) foi a
idade dos terroristas. Para tão cinicamente semear morte e dor; para tão
barbaramente fuzilar outros jovens inermes e aterrorizados, alguma vez, nas
suas jovens vidas, sentiram, por mínimos que fossem, resquícios de sensibilidade?
Certamente que não: desumanizados mestres; desumanizados os alunos servos que a
tudo obedecem.
Dizem que as redes
sociais são os melhores meios de propaganda e aliciamento de sectários.
Insisto: sectários propensos para a violência e de consciência em coma
irreversível. Logo, muito fáceis de serem influenciados e alistados no exército
das bestas humanas.
Se os meios de
comunicação social são então o instrumento principal dos jihadistas e do
execrando autoproclamado Estado islâmico, é difícil de compreender a falta de
cooperação entre as autoridades oficiais e os “colossos da Internet”.
Arranjem modo de,
tecnicamente, neutralizar esses instrumentos difíceis de interpretar. Se aludem
a consoles para videojogos, sobretudo a PlayStation 4 e outras do mesmo género,
abram-nas aos serviços de segurança.
Um jornal italiano de
extrema-direita, no dia seguinte ao atentado a Paris, saiu com este título: “Islâmicos
bastardos”.
O director deste
quotidiano já foi denunciado à magistratura e à ordem dos jornalistas.
Denúncias sacrossantas.
Incitações ao ódio e à discriminação são horrendas e só merecem desprezo e actos
de repulsa.
Não usemos os
terríveis factos de Paris para desprezar e não dar ajuda aos refugiados,
sobretudo sírios e iraquianos, que fogem da morte e destruição dos seus países.
Não me venham com medos
que sirvam para justificar discriminações raciais e religiosas. Se assim for, pouco
ou nada nos distingue de quem alimenta radicalismos. Já temos conhecimentos e
exemplos suficientes para sabermos até onde os fundamentalismos conduzem.
G20 em Antalya,
Turquia. Oxalá que os 20 países, económica e financeiramente mais desenvolvidos,
encontrem uma união, séria e isenta de pressões financeiras, que saiba
enfrentar e dissolver, completamente, estas ondas de terroristas, venham donde
vierem.
Mas, acima de
qualquer outra esperança, que Deus intervenha e tire as cataratas de olhos que só
vêem os próprios interesses, sobrecarregue o cérebro com bom senso, apague os
tacticismos políticos sem justificação e, finalmente, dote a Rússia e Estados
Unidos de todos estes dons, de que muito necessitam.
Coloque estes dois
países num plano de franca amizade até que, por fim, floresçam a confiança e
solidariedade entre eles.
Após este milagre – mas parece que já não é
milagre – que se unam, saibam atrair outros povos de boa vontade e comecem a
agir contra os semeadores do terror.
Só esta esperança nos
pode salvar do flagelo que já tantas vidas inocentes imolou. Que recordem Paris
e outros eventos igualmente dramáticos e ajam, dentro do melhor e mais
equilibrado meio que saibam organizar.
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