ESCOLA ONDE SE ENSINA, SERIAMENTE,
A DIFERENÇA ENTRE GOVERNAR E COMANDAR
E insisto no vocábulo
“seriamente”, visto que esta diferença entre o governar e comandar, em política,
é matéria ambígua que bem poucos sabem ou querem destrinçar, precipitando naqueles
abusos que, deliberada e ostensivamente, põem em prática. Obviamente, uma
prática encapotada na habitual e oca retórica de “fiel servidor do Estado”.
Enrico
Letta, 49 anos, académico
italiano, detentor de um vasto e rico currículo político – ministro,
ex-primeiro-ministro, eurodeputado, etc. – em Abril 2015 demitiu-se do
Parlamento italiano e decidiu dedicar-se à sua carreira de professor do ensino universitário,
aceitando o cargo de presidente do “Institut
d’Études Politiques de Paris-Sciences PO”.
Abandonou a política
activa, mas conservou o seu entusiasmo por tudo o que concerne a política no
seu puro e verdadeiro alcance.
Alimentou um sonho do
qual nunca desistiu de concretizar: criar uma “escola de políticas” gratuita,
aberta aos jovens entre os 19 e os 25 anos “que amem a política e que saibam
interiorizar o lema: os carreiristas,
aqui, não têm lugar. “Entre os mais
jovens, empenhados nos partidos, predomina a corrida para a carreira que impele
para o profissionalismo político”.
Não necessitamos de
ir a Itália para observarmos tais exemplos. Os nossos jotas, sejam quais forem
as bandeiras adoptadas, dão um inegável e vistoso retrato dessas realidades.
Mas continuemos.
É uma escola onde estes
jovens aprenderão “a diferença mais importante de todas: a diferença entre
governar e comandar. Estudar-se-á para que se tornem competentes e rigorosos”
Diz Eurico Letta: “Na Itália ocorrem lugares de construção do
pensamento. Isto é, de pensamento pesado.
E servem iniciativas de formação para redescobrir que a política é, ainda, a
mais nobre das actividades humanas. É dedicação à comunidade e espírito de
serviço; é paixão e participação”.
Plenamente de acordo.
Como seria feliz se também pudesse ouvir o mesmo, sobre uma iniciativa idêntica, de um Enrico Letta português!
Nasceu então a “ Escola de Políticas”. Será uma academia frequentada por 100
jovens, escolhidos entre 672 concorrentes. Destes 100 participantes, 45 são
mulheres e 55 são homens.
“Foram seleccionados
sobre a base de critérios de diversidade e inclusão (de género, territorial,
estudos, cultura política); de empenho e performance nos estudos; de paixão
pela coisa pública”
"As aulas iniciarão
no próximo dia 09 deste mês, em Roma: desenvolver-se-ão de 09 de Outubro 2015 a
Maio 2016 e articular-se-ão em 3 classes paralelas. As aulas terão lugar todos os fins-de-semana (tendo em conta alunos que ainda estudam ou trabalham). A
participação é gratuita e obrigatória e é previsto um empenho de 8 jornadas com uma sexta-feira por mês.
"A Europa, mundo
global, filosofia política, economia italiana, inovação, sociedade, bens públicos,
comunicação política: estes são alguns dos aprofundamentos didácticos propostos
pela escola. Também oferecerá seminários e conferências de personalidades da
política italiana ou internacional.” - La Repubblica - de 01 de Outubro, 2015
Relativamente aos
professores que prepararão estes jovens, além de Enrico Letta, contar-se-ão
mais 50 entre docentes universitários, prestigiados políticos, profissionais
liberais, editores, etc. e nos quais avultam nomes internacionais de peso,
como Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu; Herman Van Rompuy,
presidente emérito do Conselho Europeu; Pascal Lamy, Marc Lazar. Todas estas
ilustres personagens ofereceram, gratuitamente, o seu tempo e
competências.
“A Europa será um dos
temas-chave desta escola que, por sua vez, após o primeiro ano, poderia assumir
uma dimensão mais europeia com cursos noutras capitais da União”.
Se assim for, insisto,
oxalá que Portugal tenha um rasgo de coragem e consciência necessária para
descobrir o que é bom para a Terra Lusa e entusiasmar os nossos melhores
cérebros – se é que estes cérebros querem, ao menos uma vez nesta nossa história
contemporânea, sair da apatia habitual.
Porém… ontem votou-se
numa jornada de grande ventania. Estes ventos não me auguraram nada de bom.
Aguardemos
“A ideia fundamental da nossa escola é que
neste mundo de uma sempre maior complexidade, interdependência e especialização
técnica, a política que quer incidir sobre a realidade, governar e mudar, exige
um grau elevado de competência e rigor. Exige, acima de tudo, o discernimento
da diferença mais importante de todas: a diferença entre governar e comandar”.
Sublinhei esta parte
do documento da fundação da “Escola de
Políticas” (políticas, no plural!).
Sublinhando-a, é como
se, em sonho, tivesse o dom de gritar e ser ouvida por todo Portugal Continental e Insular
estes nobilíssimos princípios, tão miserável vejo o modo de “fazer” política por
quem nos comanda e que, apática e acriticamente, aceitamos como governação.
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