domingo, novembro 01, 2015

"SAUDADE! GOSTO AMARGO"

Rosas de Henri Fantin-Latour

  “Saudade! Gosto amargo de infelizes, / delicioso pungir, de acerbo espinho, / que me estás repassando o íntimo peito / com dor que os seios de alma dilacera. (…) Misterioso númen que aviventas / corações que estalaram e gotejam / não já sangue de vida, mas delgado / soro de estanques lágrimas – Saudade!”

E chega esta altura de princípios de Novembro em que as saudades, indo muito além do “gosto amargo”, apresentam-se, sobretudo, como o “acerbo espinho” que não se consegue extrair de “corações que estalaram e gotejam”.

Continuam a gotejar ante a memória do que foi, das tristezas que nos avassalam, do que se passou, dos que passaram.
Ante a solidão que tudo substituiu e do peso amargo como ela esmaga o sentimento que tanto procuramos: o de uma saudade intensa, mas com gosto suave, daqueles que nos deixaram e abalaram para o eterno.

Para tal efeito, dizem que só o tempo será um bom apaziguador e o melhor suavizante. Será? Tratar-se-á, então, de um tempo longo que, incessantemente, deve sigilar acordos com a memória.
Mas saberá esta arredar os espinhos e esperar, confiando? Resposta difícil.