"SAUDADE! GOSTO AMARGO"
Rosas de Henri Fantin-Latour
“Saudade!
Gosto amargo de infelizes, / delicioso pungir, de acerbo espinho, / que me estás
repassando o íntimo peito / com dor que os seios de alma dilacera. (…) Misterioso
númen que aviventas / corações que estalaram e gotejam / não já sangue de vida,
mas delgado / soro de estanques lágrimas – Saudade!”
E chega esta altura
de princípios de Novembro em que as saudades, indo muito além do “gosto
amargo”, apresentam-se, sobretudo, como o “acerbo espinho” que não se consegue
extrair de “corações que estalaram e gotejam”.
Continuam a gotejar
ante a memória do que foi, das tristezas que nos avassalam, do que se passou, dos que
passaram.
Ante a solidão que
tudo substituiu e do peso amargo como ela esmaga o sentimento que tanto
procuramos: o de uma saudade intensa, mas com gosto suave, daqueles que nos
deixaram e abalaram para o eterno.
Para tal efeito, dizem
que só o tempo será um bom apaziguador e o melhor suavizante. Será? Tratar-se-á,
então, de um tempo longo que, incessantemente, deve sigilar acordos com a
memória.
Mas saberá esta arredar
os espinhos e esperar, confiando? Resposta difícil.
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