IGNORÂNCIA?
OU INTERPRETAÇÕES INOPORTUNAS?
"CRUCIFICAÇÃO BRANCA", de Marc Chagall.Obra exposta em Florença: "Beleza Divina"
Mostra de arte em
Florença intitulada “Beleza Divina”.
Estará aberta até 24 de Janeiro 2016, no Palácio
Strozzi.
É uma mostra dedicada
à produção artística, a nível mundial, que vai da segunda metade do séc. XIX à
primeira do séc. XX” (até 1950). “Uma visão do sacro na arte moderna e
contemporânea, da parte de artistas como Van Gogh, Picasso, Fontana, Chagall”.
Apresenta mais de cem
obras de grandes nomes da pintura, quer italianos, quer internacionais, onde a
arte sacra resplende em toda a sua criatividade e beleza, nomeadamente sobre a
crucificação de Cristo.
De Renato Guttuso,
Felice Casorati, Gino Severini e outros italianos famosos a Picasso, Vincente
van Gogh, Jean-François Millet, Edvard Munch, Henri Matisse, Marc Chagall, Max
Ernst e outros grandes mundiais.
Como se vê, as obras
expostas são dignas do maior interesse e constituem uma ocasião única para
conhecermos a beleza, em todo o seu esplendor, na interpretação do tema sacro na
arte moderna e contemporânea.
Só lamento estar
longe de Florença, pois não seria uma, mas repetidas vezes que visitaria
Palácio Strozzi.
Sempre em Florença,
escola primária Matteotti (perdão, escola do primeiro ciclo). Em assembleia, o
conselho escolar decidiu anular a visita dos alunos à grande mostra “Beleza
Divina”.
Causa primária do
anulamento, segundo o que revelou o quotidiano florentino La Nazione: “A
visita foi anulada para ir ao encontro da sensibilidade das famílias não
católicas, dado o tema religioso da mostra”.
Precisamente num
período de atrocidades alicerçadas em motivos religiosos, pensa-se desta forma
sobre uma mostra de arte que nada tem que ver com manifestações de
religiosidade, mas sim com a grandiosidade da arte sacra, isto é, da arte, pura
e simplesmente?
A “Crucificação
Branca”, obra de Marc Chagall, o célebre pintor judeu, não diz nada a quem usou
aquela motivação, privando os alunos de uma oportunidade magnífica para iniciar
o contacto e agudizar a sensibilidade, perante aqueles grandes artistas?
Todavia, mesmo que se
tratasse de um testemunho religioso, onde existe o insulto à sensibilidade das
famílias não católicas? Será que estas famílias são todas implacavelmente
fundamentalistas? Se o são, devemos secundar fanatismos que, em qualquer
circunstância, são absolutamente recusáveis?
O caso foi muito
falado, muito discutido; falou-se em ignorância dos professores; houve protesto
de pais de alunos; o director da escola referida deu várias explicações sobre o
exagero das notícias; os professores alegaram que houve um mal-entendido;
solicitaram-se inspectores.
Conclusão, a polémica
deu os seus frutos e fez-se marcha atrás: os alunos da escola Matteotti de
Florença irão ver a exposição de arte sacra.
Pelo que compreendi,
parece que se trata de um instituto privado com vários graus de ensino. Pois
bem, todos estes alunos irão em cortejo, caso seja possível.
Resta acrescentar que
foi uma polémica abençoada e que a visita em cortejo é dispensável. Apenas se
espera que a visita seja educativamente bem preparada e eficazmente motivada.
Quanto à anulação da
visita, não creio que tivesse derivado da ignorância dos professores. Houve,
sim, uma interpretação inoportuna que pretendia exprimir, desajeitadamente,
respeito por crentes de fés diversas.
Este respeito é justo
e aconselhável, obviamente. O que não é aceitável é o simultâneo apagamento da
nossa identidade ou de motivos nobres que em nada podem ofender a religiosidade
de quem quer que seja. Se ofendem, é porque se enfrenta radicalismos envolvidos
em estupidez e arrogância, o que são uma autêntica praga.
Estamos a testemunhar
as tremendas consequências dessas crenças exacerbadas.
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