AS DUAS SURPRESAS INESPERADAS
Primeira: a Turquia, de há anos com a violência e a pior
barbárie às portas de casa, finalmente saiu do que se classificou como
ambiguidade e atacou os terroristas do Estado Islâmico. Uma decisão confiável,
sob o ponto de vista de como é considerado, no mundo ocidental, o combate a tanta e
tão cruel violência? Certamente que acarreta dúvidas.
Entretanto, aproveitou a normal reacção ao primeiro atentado terrorista
no seu território - em Suruç, perto da fronteira com a Síria - para dar início
a uma guerra paralela ao Estado Islâmico e aos curdos do Partido dos
Trabalhadores do Curdistão (PKK). Mas sobretudo a estes últimos.
Segundo várias opiniões, “a Turquia tem na cabeça um
único inimigo, os curdos. O Estado Islâmico é secundário”.
Quem tem seguido as manipulações e reduções da
democracia turca por Erdogan, o já primeiro-ministro e actual presidente
da Turquia; quem tem seguido o caminho que iniciou em direcção do
fundamentalismo islâmico, facilmente acredita que Recep Tayyip Erdogan alimenta
ambições desmesuradas sobre a probabilidade do renascimento de um moderno califado
otomano e subsequente influência no mundo muçulmano.
Económica e militarmente tem a potência, mais que
necessária, para se impor no Médio Oriente.
Sempre me causou uma irritante e desagradável impressão
a imobilidade da Turquia ante as convulsões devastadoras das acções barbáricas
do autoproclamado Estado Islâmico. Ademais, nunca interpôs obstáculos à passagem
dos simpatizantes desses terroristas, provindos da Europa e doutros
continentes.
Sempre ignorou a passagem, no seu território, do petróleo
e objectos de arte que os terroristas vendiam para financiar a própria loucura.
A poucos quilómetros das fronteiras, o exército turco
assistia impávido ao massacre de minorias étnicas ou religiosas. Mas que motivos
políticos podem justificar insensibilidades tão arrepiantes?
Finalmente reagiu, mas os normais observadores deduzem
que o acordo dos Estados Unidos com o Irão sobre a questão nuclear desconjuntou
os projectos de Erdogan. Se é assim, ainda bem. Agora já permite o uso das suas
bases aéreas aos Estados Unidos. Um bom passo na direcção justa.
Segunda surpresa: o semanário alemão Der Spiegel
escreveu que Wolfgang Schäuble, o excelentíssimo e intratável ministro das
Finanças alemão, propõe – quem diria! - um imposto europeu, a fim de “dar
poderes e disponibilidades financeiras especiais à zona euro, de modo a
enfrentar qualquer emergência de orçamento soberano em crise ou conjuntura
negativa dentro dos países da moeda única” – assim reza a notícia.
A Senhora Merkel parece que se demonstra céptica;
outros dizem que ficou furibunda com esta iniciativa.
Os países que deverão contribuir para este fundo comum
serão os 19 da zona euro ou os 28 países da União Europeia. Com o egoísmo
soberano como instituição, será isto realizável?
“As estradas a seguir são duas: A primeira prevê que os
Estados devam destinar parte das entradas do IRS e IVA à UE. A segunda prevê um
imposto directo com uma contribuição autónoma paga pelos contribuintes dos
países singulares".
"Para gerir este imposto seria criada uma task force de
nove membros da Comissão Europeia, do Parlamento e do Conselho Europeu. Deverão
trabalhar durante meses para decidir que plano adoptar. Será guiado por Mário
Monti”
François Hollande pediu a criação de um ministro das
Finanças da zona euro.
Vejamos as opiniões de dirigentes e eurodeputados
alemães: “Uma tal transferência de poderes consentiria à Europa de ter margens
de manobra e de acção bem maiores, no caso de recessão ou crise social” –
Marcel Fratzscher, número um do Instituto alemã para a investigação económica.
“A zona Euro deve reflectir sobre a possível
necessidade de cobrar um imposto próprio. Ocorre um novo mecanismo de
estabilização fiscal para a área da moeda única”. – Elmar Brok, veterano dos eurodeputados
da CDU e CSU (o partido de Merkel e Schäuble).
Aguardemos o que daqui nascerá, se verdadeiramente for avante.
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