EMERGÊNCIA MIGRANTES
E O COMPROVADO
EGOÍSMO EUROPEU
Mas antes de falar da
quotidiana tragédia que envolve milhares de adultos e crianças, em fuga dos
próprios países em guerra ou em busca de melhores condições de vida, desejaria
reportar-me a um outro género de tragédia social não menos comovente.
No mundo, existem
cerca de 186 milhões de crianças e adolescentes com menos de 16 anos que são
constrangidos a trabalhar. Mas pior ainda, oitenta e cinco milhões desses
menores vivem imersos em trabalhos de alto risco.
Uma percentagem mais
elevada trabalha na agricultura; seguem-se as actividades domésticas, o trabalho
nas fábricas e minas. Frequentemente, em circunstâncias de grande perigo, além de
cruelmente explorados.
Apontam a África subsariana
como zona onde o trabalho de menores é mais intenso, todavia, nos ditos países
avançados - na nossa Europa, por exemplo - esse triste fenómeno é bem real.
Existe na Itália e sei que o nosso país não está imune dessa penosa verdade.
O dossiê da “Organização
Internacional do Trabalho”, apresentado no Dia Mundial contra o Trabalho
Infantil de 12 de Junho, é muito completo e ilustrativo sobre o que sucede:
quer a realidade dos factos, quer no que concerne as consequências negativas
para o futuro destes menores. Mas em primeiro lugar, é ao sofrimento destas
pobres crianças que se deve pôr cobro, e sem quaisquer reservas, embora o
período de crise acresça conjunturas deste género.
Estes dossiês servem
e servirão sempre para recordar aos diversos Estados a falta de atenção a estas
situações inadmissíveis, assim como as medidas necessárias para as combater e
remediar. Aliás, existem leis que clarificam as regras de admissão de um menor
ao trabalho. O problema é que são deliberadamente ignoradas.
Migrantes: centenas, por vezes milhares, os
que quotidianamente são resgatados das águas do Mediterrâneo e postos a salvo nos
portos do Sul de Itália, as portas de entrada mais próximas do inferno donde
provêm.
Nestas duas últimas
semanas, só em quatro dias desembarcaram cerca de sete mil migrantes nas costas
italianas do sul.
A maior parte destes migrantes,
provenientes sobretudo da Eritreia, Somália, Etiópia, Costa do Marfim e Sudão,
desejam prosseguir viajem até aos países onde têm parentes ou uma comunidade de
compatriotas, isto é, Alemanha, Áustria, Suécia e França. Porém, este último
país determinou um bloqueio total nas suas fronteiras com a Itália.
Tem-me deixado
atónita a falta de humanidade e um certo racismo, embora camuflado, no que se
tem verificado em Ventimiglia, cidade de confim entre Itália e França.
O país da “Liberté,
Égalité, Fraternité” deu um pontapé ao famosíssimo lema e decidiu não permitir
a entrada, nomeadamente a quem tem a pele mais escura. As notícias aludem a 200
pessoas acampadas nas proximidades da fronteira e que não desistem de chegar ao
destino almejado. Alguns têm dormido nos escolhos, outros arranjam-se como
podem, embora auxiliados pela Cruz Vermelha e organizações similares.
O Sr. Ministro da
Administração Interna francesa, Bernard Cazeneuve, disse muito claramente que é
a Itália que deve assumir o encargo dos migrantes, qual primeiro país de
acolhimento. Que se arranje e que, acima de tudo, os identifique, distinguindo
se são migrantes económicos ou refugiados.
Mais diz o Sr.
Cazeneuve: “O fenómeno migratório perante
o qual nos encontramos é de uma amplidão sem precedentes em relação aos anos
passados. Os migrantes da África ocidental, migrantes económicos irregulares,
devem ser repelidos nas fronteiras. Depois há os que são considerados
refugiados e dos quais devemos examinar o seu pedido de asilo. Serve uma
política europeia de acolhimento”.
Política europeia?!
Pressupõe-se política de solidariedade, seja para com os migrantes que arrostam
com perigos sem fim, seja para com a Itália e Grécia onde estes infelizes
aportam. Distribuí-los nesta Europa sem fronteiras é o mais lógico e conforme
as possibilidades de cada país. No entanto, o que se tem observado?
Solidariedade ou o comprovado egoísmo que tem caracterizado a UE dos últimos tempos?
A “emergência
migrantes” está à vista de todos, mas na União decide-se de não decidir. Os
Estados-membros dizem sim, mas que a repartição se efectue unicamente sobre
base voluntária.
Pobre coesão, sempre ignorada. Execrável miopia da Europa, sempre exibida.
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