GRAMÁTICA, ESSA
DESCONHECIDA
Universidade de Pisa,
notícia do dia 2 de Junho 2015: a Universidade, departamento de Jurisprudência,
organiza cursos de gramática, porque os estudantes entram na universidade sem
saber escrever”.
Uma professora de
direito, cansada de ler textos onde predominavam erros gramaticais e deficiências nos conhecimentos mais basilares da própria língua, com a colaboração de um
linguista, deu impulso à abertura de cursos onde se partirá das noções elementares:
“iniciar-se-á um curso de escrita e de gramática da frase”.
Achei interessante, e
fez-me sorrir, o esclarecimento e a opinião que deu o autor desta crónica
(Paolo di Stefano - Corriere Della Sera, 2/06/2015):
“(…)
um curso de escrita e de gramática da frase. Não a retórica ou o estilo, mas a
gramática. Aquela que seria indispensável adquirir no percurso escolar entre o ensino básico e o secundário. Pelo contrário, é tranquilamente eludida ou
descurada em nome de outras prioridades. Se não provocasse tristeza,
poder-se-ia sorrir do paradoxo: todos a encher-se a boca com a necessidade de
aprender o inglês e de afinar as competências informáticas, enquanto a
verdadeira emergência é a língua italiana.”
Para concretizar essa
falta de conhecimentos gramaticais, mas pelo lado cómico involuntário,
encarregou-se o Secretário Federal do partido “Liga Norte”, Matteo Salvini.
Entrevistado ou
participando em programas televisivos, Salvini levanta a voz e arrasa tudo e
todos. O homem não conhece eufemismos, exprime-se com fluência e, para dar
maior relevo aos seus argumentos, o insulto aos adversários sai-lhe com toda a
naturalidade.
Na semana passada, num programa de RAI2, falando
dos migrantes, esclarece que a palavra migrante foi uma invenção da Presidente
da Câmara dos Deputados. Em seguida, diz o ex-membro do Parlamento Europeu,
hoje Secretário Federal da Liga Norte: “Migrante é um gerúndio e quando os migrantes entram na Itália são
clandestinos”.
Confundiu o
particípio presente com o gerúndio do verbo migrar. Uso o verbo confundir, no
caso em que o Sr. Salvini saiba o que é um gerúndio e um particípio presente!...
No dia seguinte, a
troça foi geral e praticamente todos os jornais noticiaram a calinada, publicando
o vídeo onde Salvini “ensina” que migrante é um gerúndio.
E agora viremo-nos
para outro lado, isto é, olhemos para dentro do nosso país. Isto não nos traz à
ideia situações que retratam o que acabo de descrever, relativamente à faculdade
de Direito da Universidade de Pisa (e em muitas outras universidades italianas,
obviamente), ao que escreve Paolo di Stefano e às calinadas de senhores da política?
Certamente que sim. O
conhecimento da gramática, também nesta parte mais ocidental da Europa, anda
pelas ruas da amargura.
Actualmente temos uma
gramática estupidamente complicada pela nova e desiluminada “Terminologia Linguística
para os Ensinos Básico e Secundário” (a famosa TLEBS), e por uma cacografia imposta
por ignorantes. Descurada e depois traída por programas improvisados, onde a
estrutura da língua portuguesa foi forçada a substituir os seus sólidos
alicerces por frágeis estacas plantadas em terreno pantanoso.
Pobres professores de
português! Mas merecerão a nossa solidariedade? Tenho dúvidas, sobretudo sobre uma certa percentagem não insignificante. Esta percentagem, melhor do que outros
profissionais, conhece a nossa língua: por que aceita tudo o que conspurca a
matéria que estudou, aprofundou e ensina, não se opondo a este descalabro de um
património que nos dignifica e é de todos?
Mas a este ponto, o Sr.
Ministro da Educação e Ciência quis lançar uma pequena bomba… ou tratar-se-á de
fogo de vistas, visto que estamos em período de festa aos santos populares?
O Latim e o Grego, a
partir do próximo ano lectivo, vão ser ensinados nas escolas básicas. Porém,
atenção: serão as escolas que decidirão se o ensino das línguas clássicas deve
ressurgir ou não e em que modalidade.
Francamente, percebi
pouco sobre este projecto. Acho supérfluas tantas explicações, quando deveria
ser anunciado, com toda a simplicidade, a introdução de uma nova e
imprescindível matéria: “a introdução à Cultura e Línguas Clássicas”.
Jamais com “carácter
opcional”, mas fazendo parte integrante das matérias obrigatórias. Em qual intensidade de aprendizagem, isso, então, é que se pode programar.
Oxalá que deste
projecto nasça um plano em que os estudos clássicos vigorem e enriqueçam o
nosso ensino e os nossos estudantes.
Parafraseando Paolo
di Stefano: todos a vomitar sentenças sobre a importância da língua portuguesa,
quando a verdadeira necessidade e emergência é um profundo e competente ensino
da nossa língua em todas as suas cambiantes, sem trair as suas origens. Depois,
sim, vangloriemo-nos do português, esta língua novilatina que sabemos falar e escrever correctamente.
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