segunda-feira, julho 13, 2015

A BELEZA DOS GESTOS ALTRUÍSTAS

Presentemente, aqui na Europa, estamos inundados por um tremendo egoísmo de países completamente cegos e surdos ao que o mundo civilizado e progressista, donde provêm, lhes deveria sugerir: solidariedade, coesão, humanidade e respeito por cidadãos que sofrem.
Não existem situações negativas que, com inteligência e competência adequada, não possam ser solucionadas. Não obstante, seja a competência, seja a inteligência, estão ao serviço de poderes que se agigantaram: preconceitos e interesses financeiros que tudo dominam.

Felizmente, porém, verificam-se actos de cidadãos comuns que, francamente, nos deslumbram. Referir-me-ei a duas histórias verdadeiras que bem o concretizam.

Nas Filipinas, cidade de Mandaje, uma criança fazia os deveres escolares no passeio da rua onde morava, debaixo de um lampião, visto que não tinha luz em casa.
 Com quatro pedaços de madeira improvisou uma mesa e, de joelhos, com o caderno pousado no “mesa de trabalho”, diligentemente cumpria o seu dever de bom aluno.
Uma rapariga filipina, Joyce Gilos Torrefranca, ante este espectáculo tão insólito, tirou uma fotografia a esta criança que estudava à luz do lampião. Publicou-a no Facebook com uma frase: “Fui inspirada por este menino”.

A imagem correu mundo e foi partilhada por milhares de simpatizantes. Hoje, Daniel vê-se noutras fotos, mas numa escola e sempre agarrado aos livros. Recebeu muitas doações, a fim de realizar o seu sonho: estudar para, mais tarde, ser um membro da polícia. A mãe informou que também lhe fora confiada uma bolsa de estudo universitária.

 A segunda história é mais complexa. Começou em Abril, na Ligúria, noroeste da Itália e narra a adopção de uma recém-nascida de origem africana, abandonada pela mãe, após o parto.

Uma senhora ainda jovem, Elena Scaramazzi, casada e com três filhas, foi ver um jogo de voleibol. Encontrou casualmente uma assistente social conhecida, pois ambas exerciam o voluntariado na Casa Família da zona.
A assistente social disse-lhe que devia ir embora, para assistir uma mulher que tinha dado á luz uma menina no banho. Helena respondeu que a acompanharia. Chegou-se a tempo ao hospital para salvar mãe e filha.

Helena ajudou a parturiente a enfrentar as complicações das primeiras horas. Falaram uma com a outra longamente. A certa altura, a mãe natural da criança, a quem deram o nome de Sara, disse á Helena: “Agora pensas tu nela”. A Helena respondeu que sim. Na manhã seguinte traria tudo quanto fosse necessário para a pequenina Sara.

Passado um dia ou dois e, conforme prevê a lei, a mãe da Sara assinou para sair do hospital. Também assinou para ali deixar a filha que dera à luz; isto é, abandonou-a.
Helena voltou ao hospital com vestidos e outro material para a bebé, mas informaram-na que a mãe abandonara o hospital sem a criança, dizendo que a Helena cuidaria dela.

Foi ver a menina e viu a solidão em que ficara. Tomou a menina nos braços e a pequenina sorriu. A interligação de afectos foi integral. O marido de Helena também ficou encantado com a menina de cor.
Um juiz inteligente concedeu imediatamente a entrega de Sara aos cuidados deste casal. 

Em toda esta história, toda ela pujante de generosidade e sentimentos, ressalta uma parte que, para mim, é uma das mais interessantes, ou seja,  a reacção das três filhas do casal que adopta a Sara: Nicole com 14 anos; Ginevra com 10; Victoria com 6 anos.
A mais novinha, quando a mãe a informa que “Sara é negra”, responde: “Mas tu não sabes que o leite e o chocolate combinam sempre bem?”
Toda a família se pôs de acordo para tratar de Sara e fazê-la entrar no mundo dos grandes: a cada um a sua tarefa.

Antes de levar Sara para casa, Helena quis estudar as reacções das filhas (o marido ficara imediatamente apaixonado pela menina).
E se quando Sara for para a escola, se alguém vos criará problemas, porque não é uma vossa irmã natural, porque é negra, porque…”   
As filhas interromperam-na: “Será uma grande coisa, porque compreenderemos quem é nosso amigo verdadeiro e quem finge que o é.