A BELEZA DOS GESTOS
ALTRUÍSTAS
Presentemente, aqui
na Europa, estamos inundados por um tremendo egoísmo de países completamente
cegos e surdos ao que o mundo civilizado e progressista, donde provêm, lhes
deveria sugerir: solidariedade, coesão, humanidade e respeito por cidadãos que
sofrem.
Não existem situações
negativas que, com inteligência e competência adequada, não possam ser
solucionadas. Não obstante, seja a competência, seja a inteligência, estão ao
serviço de poderes que se agigantaram: preconceitos e interesses financeiros
que tudo dominam.
Felizmente, porém, verificam-se
actos de cidadãos comuns que, francamente, nos deslumbram. Referir-me-ei a duas
histórias verdadeiras que bem o concretizam.
Nas Filipinas, cidade
de Mandaje, uma criança fazia os deveres escolares no passeio da rua onde
morava, debaixo de um lampião, visto que não tinha luz em casa.
Com quatro pedaços de madeira improvisou uma
mesa e, de joelhos, com o caderno pousado no “mesa de trabalho”, diligentemente
cumpria o seu dever de bom aluno.
Uma rapariga
filipina, Joyce Gilos Torrefranca, ante este espectáculo tão insólito, tirou
uma fotografia a esta criança que estudava à luz do lampião. Publicou-a no
Facebook com uma frase: “Fui inspirada
por este menino”.
A imagem correu mundo
e foi partilhada por milhares de simpatizantes. Hoje, Daniel vê-se noutras
fotos, mas numa escola e sempre agarrado aos livros. Recebeu muitas doações, a
fim de realizar o seu sonho: estudar para, mais tarde, ser um membro da polícia.
A mãe informou que também lhe fora confiada uma bolsa de estudo universitária.
A segunda história é mais complexa. Começou em
Abril, na Ligúria, noroeste da Itália e narra a adopção de uma recém-nascida de
origem africana, abandonada pela mãe, após o parto.
Uma senhora ainda
jovem, Elena Scaramazzi, casada e com três filhas, foi ver um jogo de voleibol.
Encontrou casualmente uma assistente social conhecida, pois ambas exerciam o
voluntariado na Casa Família da zona.
A assistente social
disse-lhe que devia ir embora, para assistir uma mulher que tinha dado á luz
uma menina no banho. Helena respondeu que a acompanharia. Chegou-se a tempo ao
hospital para salvar mãe e filha.
Helena ajudou a
parturiente a enfrentar as complicações das primeiras horas. Falaram uma com a
outra longamente. A certa altura, a mãe natural da criança, a quem deram o nome
de Sara, disse á Helena: “Agora pensas tu nela”. A Helena respondeu
que sim. Na manhã seguinte traria tudo quanto fosse necessário para a pequenina
Sara.
Passado um dia ou
dois e, conforme prevê a lei, a mãe da Sara assinou para sair do hospital.
Também assinou para ali deixar a filha que dera à luz; isto é, abandonou-a.
Helena voltou ao
hospital com vestidos e outro material para a bebé, mas informaram-na que a mãe
abandonara o hospital sem a criança, dizendo que a Helena cuidaria dela.
Foi ver a menina e
viu a solidão em que ficara. Tomou a menina nos braços e a pequenina sorriu. A interligação
de afectos foi integral. O marido de Helena também ficou encantado com a menina
de cor.
Um juiz inteligente
concedeu imediatamente a entrega de Sara aos cuidados deste casal.
Em toda esta
história, toda ela pujante de generosidade e sentimentos, ressalta uma parte
que, para mim, é uma das mais interessantes, ou seja, a reacção das três filhas do casal que adopta
a Sara: Nicole com 14 anos; Ginevra com 10; Victoria com 6 anos.
A mais novinha, quando
a mãe a informa que “Sara é negra”, responde: “Mas tu não sabes que o leite e o
chocolate combinam sempre bem?”
Toda a família se pôs
de acordo para tratar de Sara e fazê-la entrar no mundo dos grandes: a cada um a
sua tarefa.
Antes de levar Sara
para casa, Helena quis estudar as reacções das filhas (o marido ficara imediatamente
apaixonado pela menina).
“E se quando Sara for para a escola, se alguém vos criará problemas,
porque não é uma vossa irmã natural, porque é negra, porque…”
As filhas
interromperam-na: “Será uma grande coisa,
porque compreenderemos quem é nosso amigo verdadeiro e quem finge que o é.
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