INTERNET,
POLÉMICAS E
OUTRAS CURIOSIDADES
Umberto
Eco, na sua normal
espontaneidade e nunca renunciando a dizer o que pensa sem recorrer a
eufemismos rebuscados, provocou grande polémica, dentro e fora da Itália.
Na cidade de Turim e
na Universidade onde obtivera, em 1954, a licenciatura em Filosofia, no passado
dia 10 de Junho foi homenageado com o título Dr. Honoris Causa em “Comunicação e Cultura dos Media”:
“Por
ter enriquecido grandemente a cultura italiana e internacional nos
campos da filosofia, da análise da sociedade contemporânea e da literatura; por
ter renovado profundamente o estudo da comunicação e a teoria semiótica; pela
síntese original de teoria, intervenção cultural e escrita literária que
caracteriza a sua vastíssima produção”.
Na sua Lição de
Sapiência, Umberto Eco falou, obviamente, de social network. E foi nesta sua intervenção que pronunciou
conceitos muito sinceros, alguns provocatórios, mas que só parcialmente foram realçados.
Antes de transcrever
essa parte que desencadeou grandes polémicas e mesmo insultos, desejo traduzir
o que disse sobre a atendibilidade do que podemos ler na Internet. Umberto
Eco fez o seguinte
convite a jornalistas e professores:
“Os jornalistas deveriam filtrar, com uma equipa de especialistas, as
informações da Internet, de forma a compreender hoje se um site é atendível ou
não.
Os
jornais deveriam dedicar, pelo menos duas páginas, à análise crítica dos sites,
assim como os professores deveriam ensinar os jovens a utilizar os sites para
desenvolver os temas. Saber copiar é uma virtude, mas é necessário confrontar
as informações, a fim de compreender se são ou não atendíveis.”
E vamos agora às
“blasfémias” (para os enamorados da Internet) que o homem dos 40 títulos de “Dr.
honoris causa” disse na sua lectio magistralis, isto é, a primeira parte dos
conceitos expressos por Umberto Eco:
“As redes sociais dão o direito de palavra a
legiões de imbecis que, antes, falavam somente no bar, após um copo de vinho,
sem prejudicar a colectividade. Imediatamente os faziam estar calados. Hoje,
têm o mesmo direito de palavra de um Prémio Nobel. É a invasão dos imbecis.
A TV tinha promovido o
idiota de aldeia em relação ao qual o espectador se sentia superior. O drama da
Internet é que elegeu o idiota de aldeia como portador de verdades”.
É o caso de dizer que "caiu o Carmo e a Trindade"! Críticas, contestações, insultos, objecções
simpáticas e compreensivas, como se pode ler no pequeno artigo de Rui Zink (Público, 16/06/2015).
A questão, porém, está
na parcialidade do que foi proferido por Umberto Eco e no que a atenção
jornalística, exclusivamente, apontou os reflectores. Desta forma, estava
garantido o impacto da sugestão de um Eco “antiquado e reaccionário”.
Vejamos então o que
disse, como continuação do discurso anterior, em prol das redes sociais e que,
injusta e incorrectamente, os meios de comunicação preferiram ignorar:
“O fenómeno das redes
sociais é também positivo, não somente porque permite às pessoas de permanecer
em contacto entre elas. Pensemos somente no que aconteceu na China e na
Turquia, onde o grande movimento de protesto contra Erdogan nasceu precisamente
nas redes, graças ao tam-tam.
Alguém também disse
que, se houvesse Internet nos tempos de Hitler, os campos de extermínio nunca
teriam sido possíveis, porque as informações teriam sido difusas viralmente.”
Em que ficamos? O
grande intelectual italiano é um retrógrado no que concerne a Internet ou disse
claro e explícito o que esse vasto mundo tecnológico pode conter, de positivo e
negativo? É tão difícil aceitar esta verdade? (O vídeo integral do que disse U.
Eco está no Youtube. É fácil verificá-lo).
«É mais “imbecil” e danoso um anónimo “imbecil” no Facebook ou, pelo
contrário, um “sistema” que, por exigências sensacionalistas, frequentemente
chega a descontextualizar as palavras de quem as pronuncia, a fim de as tornar caricaturais?» - de Paolo
Papi - revista Panorama, 12 / 06 / 2015
Responder a esta pergunta, não sinto a mínima dificuldade
na escolha.
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