segunda-feira, junho 22, 2015

INTERNET,
 POLÉMICAS E OUTRAS CURIOSIDADES

Umberto Eco, na sua normal espontaneidade e nunca renunciando a dizer o que pensa sem recorrer a eufemismos rebuscados, provocou grande polémica, dentro e fora da Itália.

Na cidade de Turim e na Universidade onde obtivera, em 1954, a licenciatura em Filosofia, no passado dia 10 de Junho foi homenageado com o título Dr. Honoris Causa em “Comunicação e Cultura dos Media”:
“Por ter enriquecido grandemente a cultura italiana e internacional nos campos da filosofia, da análise da sociedade contemporânea e da literatura; por ter renovado profundamente o estudo da comunicação e a teoria semiótica; pela síntese original de teoria, intervenção cultural e escrita literária que caracteriza a sua vastíssima produção”.

Na sua Lição de Sapiência, Umberto Eco falou, obviamente, de social network. E foi nesta sua intervenção que pronunciou conceitos muito sinceros, alguns provocatórios, mas que só parcialmente foram realçados.

Antes de transcrever essa parte que desencadeou grandes polémicas e mesmo insultos, desejo traduzir o que disse sobre a atendibilidade do que podemos ler na Internet. Umberto Eco fez o seguinte convite a jornalistas e professores:
Os jornalistas deveriam filtrar, com uma equipa de especialistas, as informações da Internet, de forma a compreender hoje se um site é atendível ou não.
Os jornais deveriam dedicar, pelo menos duas páginas, à análise crítica dos sites, assim como os professores deveriam ensinar os jovens a utilizar os sites para desenvolver os temas. Saber copiar é uma virtude, mas é necessário confrontar as informações, a fim de compreender se são ou não atendíveis.”

E vamos agora às “blasfémias” (para os enamorados da Internet) que o homem dos 40 títulos de “Dr. honoris causa” disse na sua lectio magistralis, isto é, a primeira parte dos conceitos expressos por Umberto Eco:

As redes sociais dão o direito de palavra a legiões de imbecis que, antes, falavam somente no bar, após um copo de vinho, sem prejudicar a colectividade. Imediatamente os faziam estar calados. Hoje, têm o mesmo direito de palavra de um Prémio Nobel. É a invasão dos imbecis.
A TV tinha promovido o idiota de aldeia em relação ao qual o espectador se sentia superior. O drama da Internet é que elegeu o idiota de aldeia como portador de verdades”.

É o caso de dizer que "caiu o Carmo e a Trindade"! Críticas, contestações, insultos, objecções simpáticas e compreensivas, como se pode ler no pequeno artigo de Rui Zink (Público, 16/06/2015).
A questão, porém, está na parcialidade do que foi proferido por Umberto Eco e no que a atenção jornalística, exclusivamente, apontou os reflectores. Desta forma, estava garantido o impacto da sugestão de um Eco “antiquado e reaccionário”.

Vejamos então o que disse, como continuação do discurso anterior, em prol das redes sociais e que, injusta e incorrectamente, os meios de comunicação preferiram ignorar:

“O fenómeno das redes sociais é também positivo, não somente porque permite às pessoas de permanecer em contacto entre elas. Pensemos somente no que aconteceu na China e na Turquia, onde o grande movimento de protesto contra Erdogan nasceu precisamente nas redes, graças ao tam-tam.
Alguém também disse que, se houvesse Internet nos tempos de Hitler, os campos de extermínio nunca teriam sido possíveis, porque as informações teriam sido difusas viralmente.”

Em que ficamos? O grande intelectual italiano é um retrógrado no que concerne a Internet ou disse claro e explícito o que esse vasto mundo tecnológico pode conter, de positivo e negativo? É tão difícil aceitar esta verdade? (O vídeo integral do que disse U. Eco está no Youtube. É fácil verificá-lo).

«É mais “imbecil” e danoso um anónimo “imbecil” no Facebook ou, pelo contrário, um “sistema” que, por exigências sensacionalistas, frequentemente chega a descontextualizar as palavras de quem as pronuncia, a fim de as tornar caricaturais?» -  de Paolo Papi - revista Panorama, 12 / 06 / 2015
  
Responder a esta pergunta, não sinto a mínima dificuldade na escolha.