SÍRIA, CONVIVÊNCIAS
MILENÁRIAS
A longa entrevista - mais
de uma hora - que o líder de Al-Nusra, ramo de Al-Qaeda na Síria, concedeu à TV
Al-Jazeera, no passado dia 28 de Maio, fez retornar a minha atenção sobre a tragédia que se consuma, desde
2011, naquele país.
Vi, por alguns
minutos, essa entrevista do chefe de Al-Nusra, Mohammed al-Golani. Sempre de
costas voltadas, não foi possível ver-se-lhe o rosto, mas muito explícito na
mensagem de pacificação que quis enviar ao Ocidente:
“Assad está prestes a cair, seremos nós a governar a Síria e não
atacaremos o Ocidente. A nossa única
missão é abater o regime e derrotar os agentes, começando do Hezbollah. Talvez
Al-Qaeda tenha planos contra USA, mas não aqui na Síria.
Al-Nusra
não tem planos nem ordens para atacar o Ocidente. É Al-Zawahiri que nos dá as
directivas e não temos recebido pedidos claros para usar a Síria como
plataforma para ataques contra os Estados Unidos e a Europa, porque não
queremos sabotar a missão de abater o regime de Assad.”
Explicou que Al-Nusra
não é aliada do autoproclamado “Estado Islâmico”.
Pergunta-se, é gente
em quem se possa confiar? Embora provindas de um líder de Al-Qaeda, são
mensagens dignas de atenção? Penso que a prudência e todas as cautelas
serão sempre escassas e mais que oportunas.
Lembrando o que era a
Síria, pensando nas esperanças que acompanharam, em 2000, a subida ao poder de
Bashar Al-Assad, esperava-se que este iniciasse e prosseguisse nas suas promessas
de reformador. Após algumas pequenas reformas, porém, o autoritarismo ressurgiu,
exactamente como nos tempos do antecessor, Hafez Assad.
Em 2011, a resposta
brutal que deu aos manifestantes contra o regime, isto é, a violenta repressão
contra a “primavera síria”, lançou o país numa guerra civil que se tem
prolongado até hoje e ninguém se atreve a prever que género de barbárie se desenvolverá
na civilizada Síria; os bárbaros do “Estado islâmico” já se instalaram em
grande parte do território, exactamente como sucede não Iraque.
Em quase 18 milhões
de habitantes, a guerra civil síria, com o auxílio dos piores grupos jihadistas
que ali afluíram, já provocou 200 mil vítimas e 9,5 milhões de refugiados.
Embora, e infelizmente, sob um regime ditatorial feroz contra os opositores, o que era a Síria? Acima de tudo, um país onde convivências milenárias, de etnias e
religiões, eram naturais e pacíficas. “Era garantida a liberdade de culto,
embora a Constituição previsse que o presidente devesse ser de religião
islâmica”, a religião maioritária.
Nessa maioria, 64% é
de fé sunita; 26% pertence a outras correntes islâmicas, como os drusos e os
alauitas (um ramo dos xiitas).
Os cristãos são 10%,
metade dos quais aderente à Igreja Ortodoxa grega de Antioquia. Os demais
cristãos pertencem à Igreja Católica nas suas várias comunidades (maronitas,
sírios, católicos arménios, caldeus, etc.); Além de outras Igrejas cristãs, existem
pequenas minorias protestantes. Ficaram no país poucas dezenas de judeus que vivem
em Damasco e outras duas cidades.
A maioria da
população, 95%, é constituída por árabes e arameus arabizados. Existem depois
curdos, arménios, turcos e outros povos.
A propósito do sistema de ensino na Síria. “A instrução é livre em todas as escolas públicas e é
obrigatória até ao 9.º grau”, quer para o sexo masculino, quer para o feminino.
De como é descrito o
sistema de educação sírio, deduz-se que é idêntico ao ensino ocidental. Aliás,
dizem que se baseia sobre o velho sistema francês.
Quantos países islâmicos
apresentam este grau de desenvolvimento, no respeito, insisto, da salvaguarda
de convivências milenárias de etnias e religiões díspares?
A Rússia é aliado
deste desgraçado país. Juntamente com as armas que lhe fornece, por que o não
auxiliou a repelir os extremistas islâmicos? Porque os soldados russos disponíveis
estavam muito ocupados na Ucrânia?
E o mundo ocidental,
perante a avançada terrorista no Médio e Próximo Oriente e a perseguição aos cristãos, seus correlegionários (assim como a outras minorias), julga-se intocável,
apesar de certas experiências já vividas?
Continua cego,
surdo e palrador, mas sempre sem qualquer intenção solidária e decisiva.
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