CARTA ABERTA DE
ACADÉMICOS EUROPEUS
PARA A INTEGRAÇÃO DA
UE
A iniciativa partiu
do Prof. Roberto Castaldi, em 16 de Junho, e em dois dias aderiram mais de cem
académicos e altas personalidades europeias.
A carta é dirigida
aos presidentes das instituições europeias - Comissão Europeia, Parlamento
Europeu, Conselho Europeu, Eurogrupo, Banco Central Europeu.
O tema predominante é
o apelo para que se realizem, no mais breve tempo possível, as quatro uniões
indispensáveis para uma União sólida e inspiradora da plena confiança dos seus
cidadãos.
Confiemos na
esperança de uma plêiade de líderes, num futuro muito próximo, dignos das
instituições europeias e sem jamais curvar a espinha a economias poderosas.
Eis o texto da carta
aberta aos excelentíssimos de turno:
******
Excelentíssimos
Presidentes
"No próximo Conselho
Europeu, apresentareis um relatório crucial sobre a reforma da União Económica
e Monetária que fixará a agenda política da integração europeia para a
legislatura em curso.
Podeis basear-vos
sobre o sucesso da integração europeia cujo núcleo é a compartição da soberania
através de instituições democráticas supranacionais. Deveis partir das lições
apreendidas da crise: não podemos viver
num mercado único com uma moeda única e 19 políticas económicas e fiscais.
O reconhecimento da
insustentabilidade de longo prazo desta assimetria tinha levado os vossos
antecessores a estabelecer, no documento de Dezembro 2012, Towards a Genuine
Economic and Monetary Union, os objectivos das uniões bancária, fiscal,
económica e política.
Os cidadãos europeus
esperam dos Senhores uma visão ambiciosa do futuro da Europa, com um percurso
claro e prazos certos, a fim de atingir estas uniões e criar uma União Europeia
mais eficiente e democrática.
A acção importante do
Banco Central Europeu atenuou a pressão dos mercados e, hoje, a União Monetária
assemelha-se a uma criança abandonada da qual ninguém queira cuidar.
Desde 2012, por falta
de vontade política dos Estados-membros, apenas houve progressos significativos
no que concerne a União Bancária. Mas sem progressos em relação às 4 Uniões, a
crise poderia ainda piorar.
Os instrumentos de
emergência, digamos o Mecanismo Europeu de Segurança, deve ser reposto no
quadro jurídico da União e transformado num Fundo Monetário Europeu, administrado
por um Vice-presidente da Comissão, o qual também deverá ser o presidente do Eurogrupo.
Encarregar-se-á de gerir uma capacidade fiscal e de empréstimo, fundada sobre
recursos próprios, pelo menos para a Eurozona, sob o efectivo controlo
democrático do Parlamento Europeu.
Isto é essencial para
uma política económica europeia, para investimentos destinados ao crescimento e
para passar da solidariedade entre os estados à solidariedade entre os cidadãos.
A crise mostrou a
ineficácia da mera coordenação das políticas económicas e fiscais nacionais e a
parálise produzida pela unanimidade. Os Estados-membros têm agora mais vínculos
de orçamento que num sistema federal plenamente desenvolvido, mas sem
beneficiar de um orçamento e de políticas federais. Deste modo, a Europa não
consegue superar a crise. O completamento das uniões, bancária, fiscal,
económica e política, é necessário para conduzir a UE a uma estável e
sustentável prosperidade económica e social.
A integração
diferenciada pode conjugar o aprofundamento da Eurozona com o desejo de alguns
Estados-membros de reduzir o seu nível de integração, sem, todavia, dar-lhes um
poder de veto sobre as necessidades dos cidadãos europeus.
O desvio do focus estratégico americano sobre o
Pacífico criou um vazio de poder que promove instabilidade, inteiramente à
volta da Europa, de Este a Sul.
A Europa deve passar
de consumidora a produtora de segurança. Somente os Estados de dimensão
continental – como USA, China, Índia, Rússia e Brasil – contam no mundo global.
A UE deve avançar
para a União Política com uma única política estrangeira de segurança e de
defesa, a fim de estabilizar os seus confins, enfrentar as actuais ameaças e os
desafios geopolíticos.
O início de uma
Cooperação estruturada permanente sobre a defesa é uma questão de vontade
política e não de recursos, visto que os países “Euro-Plus” têm a segunda
despesa militar do mundo.
O “todo o necessário” do presidente Draghi
foi crucial no momento mais difícil da crise. O vosso Relatório deveria ser o “todo o necessário” político da parte de
todas as instituições da União. Deveria fornecer um percurso e prazos fixos
para completar a união bancária e criar a união fiscal, económica e política
dentro do período desta legislatura europeia. Se isto implica uma alteração dos
Tratados, que seja feita.
Os cidadãos têm
necessidade de uma visão e de um percurso para uma Europa fundada sobre a
democracia, a solidariedade e a subsidiariedade; nada mais poderá restituir a
confiança na União. A alternativa é a difusão de uma percepção social de um
declínio, inevitável e irreversível, que alimenta o populismo, o nacionalismo e
a xenofobia.
A
liderança implica uma responsabilidade em relação aos cidadãos de hoje e de
amanhã. Os europeus
contam com a vossa liderança, responsabilidade e visão para os tirar, assim
como à sua União, fora da crise.”
*****
Este documento foi
publicado no jornal La Repubblica em “20 / 06 / 2015, citando alguns nomes das
ilustres personagens que o assinaram.
Os sublinhados são
meus.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home