NOTÍCIAS QUE ARREPIAM
NOTÍCIAS QUE ESCANDALIZAM
Comecemos com a notícia que, verdadeiramente, é
arrepiante. Vejamos como a descreve Francesca
Pace, no jornal “La Stampa” de 14/02/2014:
“Hashem Shabani tinha confessado. Antes de ser enforcado, juntamente com outros 14
activistas dos direitos humanos, o poeta
pacifista iraniano de 34 anos
tinha admitido, perante os seus torturadores, na TV, que atentara contra a
segurança nacional, utilizando os seus versos para «difundir a corrupção na terra» - uma das loucas acusações pelas
quais o Ministro do Interior e o juiz do tribunal revolucionário,
Mohamed-Bagher Moussavi, o tinham condenado à pena capital. Além de esta e
outras, também era acusado de ter sido um espião de Mubarak e de Ghaddafi e de
ter organizado atentados terroristas”.
“Em Teerão, na qual
o Ocidente se esforça de ver somente as perspectivas reformistas prometidas
pelo novo presidente Rohani, continuam a ser eliminadas as vozes dissidentes. E quem escapa à morte é condenado a ficar em silêncio. (…)
Enquanto entre
altos e baixos se aproxima o novo round de colóquios entre Teerão e o grupo
5+1, durante o qual, em Viena, se trabalhará para encontrar um acordo «omni-abrangente»
sobre o programa nuclear da República Islâmica, o requiem por Hashem Shabani tornou-se o da
inteira sociedade iraniana, esmagada (por enquanto) sob o peso da Historia.
As últimas palavras
dos seus assassinos ecoaram como um aviso tanto anacrónico quanto feroz.
«Traidor e espião», disseram-lhe um momento antes de o enforcarem”.
Shabani era
professor de língua e literatura árabe, escrevia em árabe e traduzia a poesia
farsi (persa) em árabe, actividade mais que subversiva no Irão obcecado – entre
outras coisas – pela ameaça do separatismo de Ahwaz (a região de proveniência
de Shabani), do Baluchistão e do Curdistão. (…)
Desde a eleição de
Rohani até hoje, nestes meses de aproximação do Irão ao Ocidente, houve 400 execuções de dissidentes.
Resta um país roto,
a sociedade esquizofrénica, a economia em colapso, o isolamento internacional e
a guerra por procuração com a Síria.
Restam os versos de
Shabani, sobretudo os últimos enquanto esperava o carrasco, intitulados: «Sete
motivos pelos quais deverei morrer».
Por sete dias
gritaram-me: «Estás a fazer a guerra a Alá, és um árabe, és de Ahwaz. Troças da
sagrada revolução. És um homem, não é bastante para morrer?” (os
sublinhados são meus)
Arrepia, insisto, tomar conhecimento de crimes deste
género e que atingem pessoas inteligentes e almas nobres.
Mais arrepiante é ver esta hediondez apresentada com o
manto e em nome de uma religião que nenhuma culpa tem, mas é usada para instalar
autoritarismos sem limites, impondo às populações um estado perene de
ignorância, alimentando-a com fanatismos absurdos.
Sinceramente, fiquei triste com esta notícia. Ademais,
Hashmed Shabani deixa a mulher e um filho; um pai enfermo devido a uma lesão
que sofreu na guerra contra o Iraque (1980-1988). Certamente que os monstros
que decretaram o enforcamento do filho nada conheceram desses campos de guerra.
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E chegamos à notícia que deu escândalo, isto é, às
palavras de John Elkann, presidente da Fiat, a propósito do
desemprego juvenil.
John Elkann (cerca de 38 anos), num encontro com
estudantes da cidade de Sondrio, sobre escola e trabalho, exprimiu-se deste
modo:
“Muitos jovens não
recolhem as muitas oportunidades de trabalho que existem, porque estão bem em
casa e porque não têm ambições. Os jovens devem ser mais determinados na
procura de trabalho, porque há muitas oportunidades, frequentemente colhidas
por outros, precisamente porque eles não as aproveitam.
Este estímulo, ligado
ao facto que ou não têm necessidade ou não existe a condição de fazer certas
coisas”. (uma frase que não brilha por clareza)
Um estudante replicou-lhe que o desemprego juvenil é
consequência de uma falta de oferta de trabalho que não existe. Resposta:
“Há muitíssimos
trabalhos para fazer, há muitíssima oferta, mas falta precisamente a procura.
Certamente, eu sou afortunado por ter muitas oportunidades, mas quando as vi,
soube aproveitá-las”.
Um outro estudante perguntou-lhe: Não obstante a sua
posição, por que razão continua a trabalhar?
“Trabalho porque
tenho um grande desejo de fazer, de participar. Esta é a motivação principal
que também me permite ter uma vida interessante. Seguramente é mais
interessante estar ocupado, fazer alguma coisa do que viver em férias todo o
tempo”.
Respostas desconcertantes! Ou é um ingénuo, o que não
creio; ou pretendeu ser irónico, mas decididamente inoportuno e de péssimo
gosto; ou seria muito melhor se estivesse calado.
John Elkann é
descendente de Giovanni Agnelli, fundador da Fiat e neto do famoso Gianni
Agnelli. Constitui um bom exemplo daquilo a que chamam o “capitalismo
hereditário”. Actualmente, é presidente da Fiat. Mais explicações para
esclarecer por qual motivo é “muito afortunado por ter muitas oportunidades”?
As reacções a estes despautérios, considerando a grave crise
de desemprego, não se fizeram esperar. A mais drástica foi a de Diego Della
Valle, um dos grandes empresários italianos, proprietário da Tod’s. - “Quem se permite dizer que os jovens estão
em casa porque não têm vontade de trabalhar, pois que o trabalho existe, é um
imbecil.”
O Sr. Presidente da Fiat sentiu-se incompreendido. Que
lamentava terem-no interpretado mal. “Era um tema sobre os jovens e o trabalho
e apenas desejava encorajá-los, assunto de grande importância para dar lugar a
polémicas demagógicas e instrumentalizações”.
Se tinha boas intenções, resta inegável que foi muito,
mas muito infeliz nesses encorajamentos. A arrogância do príncipe nascido em
berço de ouro sufocou o bom senso.
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