terça-feira, fevereiro 18, 2014

NOTÍCIAS QUE ARREPIAM
NOTÍCIAS QUE ESCANDALIZAM

Comecemos com a notícia que, verdadeiramente, é arrepiante. Vejamos como a descreve Francesca Pace, no jornal “La Stampa” de 14/02/2014:

Hashem Shabani tinha confessado. Antes de ser enforcado, juntamente com outros 14 activistas dos direitos humanos, o poeta pacifista iraniano de 34 anos tinha admitido, perante os seus torturadores, na TV, que atentara contra a segurança nacional, utilizando os seus versos para «difundir a corrupção na terra» - uma das loucas acusações pelas quais o Ministro do Interior e o juiz do tribunal revolucionário, Mohamed-Bagher Moussavi, o tinham condenado à pena capital. Além de esta e outras, também era acusado de ter sido um espião de Mubarak e de Ghaddafi e de ter organizado atentados terroristas”.

“Em Teerão, na qual o Ocidente se esforça de ver somente as perspectivas reformistas prometidas pelo novo presidente Rohani, continuam a ser eliminadas as vozes dissidentes. E quem escapa à morte é condenado a ficar em silêncio. (…)
Enquanto entre altos e baixos se aproxima o novo round de colóquios entre Teerão e o grupo 5+1, durante o qual, em Viena, se trabalhará para encontrar um acordo «omni-abrangente» sobre o programa nuclear da República Islâmica, o requiem por Hashem Shabani tornou-se o da inteira sociedade iraniana, esmagada (por enquanto) sob o peso da Historia.
As últimas palavras dos seus assassinos ecoaram como um aviso tanto anacrónico quanto feroz. «Traidor e espião», disseram-lhe um momento antes de o enforcarem”.

Shabani era professor de língua e literatura árabe, escrevia em árabe e traduzia a poesia farsi (persa) em árabe, actividade mais que subversiva no Irão obcecado – entre outras coisas – pela ameaça do separatismo de Ahwaz (a região de proveniência de Shabani), do Baluchistão e do Curdistão. (…)
Desde a eleição de Rohani até hoje, nestes meses de aproximação do Irão ao Ocidente, houve 400 execuções de dissidentes.
Resta um país roto, a sociedade esquizofrénica, a economia em colapso, o isolamento internacional e a guerra por procuração com a Síria.
Restam os versos de Shabani, sobretudo os últimos enquanto esperava o carrasco, intitulados: «Sete motivos pelos quais deverei morrer».
Por sete dias gritaram-me: «Estás a fazer a guerra a Alá, és um árabe, és de Ahwaz. Troças da sagrada revolução. És um homem, não é bastante para morrer?” (os sublinhados são meus)

Arrepia, insisto, tomar conhecimento de crimes deste género e que atingem pessoas inteligentes e almas nobres.
Mais arrepiante é ver esta hediondez apresentada com o manto e em nome de uma religião que nenhuma culpa tem, mas é usada para instalar autoritarismos sem limites, impondo às populações um estado perene de ignorância, alimentando-a com fanatismos absurdos.
Sinceramente, fiquei triste com esta notícia. Ademais, Hashmed Shabani deixa a mulher e um filho; um pai enfermo devido a uma lesão que sofreu na guerra contra o Iraque (1980-1988). Certamente que os monstros que decretaram o enforcamento do filho nada conheceram desses campos de guerra.

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E chegamos à notícia que deu escândalo, isto é, às palavras de John Elkann, presidente da Fiat, a propósito do desemprego juvenil.

John Elkann (cerca de 38 anos), num encontro com estudantes da cidade de Sondrio, sobre escola e trabalho, exprimiu-se deste modo:

“Muitos jovens não recolhem as muitas oportunidades de trabalho que existem, porque estão bem em casa e porque não têm ambições. Os jovens devem ser mais determinados na procura de trabalho, porque há muitas oportunidades, frequentemente colhidas por outros, precisamente porque eles não as aproveitam.
Este estímulo, ligado ao facto que ou não têm necessidade ou não existe a condição de fazer certas coisas”. (uma frase que não brilha por clareza)

Um estudante replicou-lhe que o desemprego juvenil é consequência de uma falta de oferta de trabalho que não existe. Resposta:
Há muitíssimos trabalhos para fazer, há muitíssima oferta, mas falta precisamente a procura. Certamente, eu sou afortunado por ter muitas oportunidades, mas quando as vi, soube aproveitá-las”.

Um outro estudante perguntou-lhe: Não obstante a sua posição, por que razão continua a trabalhar?
Trabalho porque tenho um grande desejo de fazer, de participar. Esta é a motivação principal que também me permite ter uma vida interessante. Seguramente é mais interessante estar ocupado, fazer alguma coisa do que viver em férias todo o tempo”.

Respostas desconcertantes! Ou é um ingénuo, o que não creio; ou pretendeu ser irónico, mas decididamente inoportuno e de péssimo gosto; ou seria muito melhor se estivesse calado.
 John Elkann é descendente de Giovanni Agnelli, fundador da Fiat e neto do famoso Gianni Agnelli. Constitui um bom exemplo daquilo a que chamam o “capitalismo hereditário”. Actualmente, é presidente da Fiat. Mais explicações para esclarecer por qual motivo é “muito afortunado por ter muitas oportunidades”?

As reacções a estes despautérios, considerando a grave crise de desemprego, não se fizeram esperar. A mais drástica foi a de Diego Della Valle, um dos grandes empresários italianos, proprietário da Tod’s. - “Quem se permite dizer que os jovens estão em casa porque não têm vontade de trabalhar, pois que o trabalho existe, é um imbecil.”

O Sr. Presidente da Fiat sentiu-se incompreendido. Que lamentava terem-no interpretado mal. “Era um tema sobre os jovens e o trabalho e apenas desejava encorajá-los, assunto de grande importância para dar lugar a polémicas demagógicas e instrumentalizações”.

Se tinha boas intenções, resta inegável que foi muito, mas muito infeliz nesses encorajamentos. A arrogância do príncipe nascido em berço de ouro sufocou o bom senso.