PASSOU A TORMENTA;
RESTA E RESTARÁ O TORMENTO
Primeiro falemos da tormenta, embora já a ela tivesse aqui
acenado em 09/12/2013.
Estrada Famalicão/Guimarães, quinta-feira, cinco de
Dezembro 2013, ocorreu o gravíssimo atropelamento de uma pessoa que, tranquilamente,
atravessava a estrada numa passadeira existente e bem visível, mas inobservada
por um motorista irresponsável e, digamo-lo, criminoso.
Socorro imediato e transporte para o hospital de Braga.
Um pormenor anómalo (ou não?): alguém que se fingiu
socorrista colheu a oportunidade para surripiar a carteira do atropelado. Apareceram
todos os objectos pessoais, como óculos e chaves, mas a carteira, dado o embate
violento, voou para distâncias atingíveis somente por larápios.
Decorreram semanas. O sinistrado, que sofrera lesões
múltiplas e grave traumatismo craniano, após o coma induzido, permaneceu num
estado de inconsciência.
Como uma desgraça nunca vem só, no hospital foi atacado
por uma bactéria no pulmão: calamidade muito comum nos hospitais e aceitada
como algo natural. Mas não, não é natural, não deve ser aceite e é incompreensível
por que não se procura eliminar ou reduzir ao mínimo esta praga.
Obviamente, o paciente foi posto em isolamento.
Alguns dias depois, a direcção, ou quem por ela,
decidiu enviá-lo para uma unidade perto da família, isto é, para o hospital de Vila
Nova de Famalicão.
Chegado a esta cidade e sem que a família fosse informada, como esta unidade de saúde não
tinha lugar de isolamento disponível, reenviaram-no para o hospital de Santo
Tirso.
A pergunta é legítima: a intenção era de o aproximar da
família ou, muito simplesmente, de o despachar?
Se a forma como tudo isto se processa, como toda esta
insensibilidade para com a angústia dos familiares - esposa, filhos, netos, irmãos - é considerada um facto normal, então
dêmos vivas à desumanização dos seres atingidos pela tormenta, por um ciclone
que varre uma vida e, paralelamente, varre a serenidade, a alegria e o sossego de
quem assiste impotente. Conclui-se, portanto, que não é pesada nem considerada
a humanização destes sentimentos.
Sempre inerte, inconsciente e, por último, complicações
respiratórias. Entretanto, no afã de alimentar e segurar com firmeza a
esperança, vivia-se no anseio de saber se o trauma craniano provocara graves
consequências.
A esperança estilhaçou-se. Na quinta-feira passada, dia 23 de Janeiro, “deu a alma a quem lha tinha
dado”.
E na tormenta, também se ficou com a dúvida angustiosa se
o tormento, o sofrimento foi advertido pelo corpo que albergava aquela alma
restituída ao Criador. Mas confia-se na misericórdia de Deus; é o único
recurso.
Foram quarenta e nove dias de tormento sem tréguas.
Após o dia 23, o tormento persiste, mas já sem angústia. Esta deu lugar a uma
imensa saudade e a uma dor infinda.
Dizem que o tempo é um excelente médico. Por
experiência própria, sei que é um médico muito, mas muito moroso a chegar!
Para finalizar, falemos de um acto incrível. O
excelentíssimo médico que passou a certidão de óbito declarou que o atropelado,
o sinistrado, a vítima da irresponsabilidade de outrem, isto é, um queridíssimo irmão, falecera por causas naturais.
Não faço comentários; o acto, em si, é já gritante.
Será a justiça a pronunciar-se - ou qualquer outra autoridade - a fim de que
este infame agravo aos familiares desapareça do historial médico.
2 Comments:
Não, Alda,está correcto, sentido,está muito bem documentado, oque não é mau ,é horrível. E foi horrível tudo o que aconteceu.Insensibilidade, desumanidade,vão desde o ladrão, aos hospitais, ao´médico. trata-se de um ser humano e de dezenas de familiares em sofrimento e incerteza.É Exasperante!
Um abraço grande pelas suas palavras
Alda
Enviar um comentário
<< Home