A
PRAGA DO TRABALHO INFANTIL
Há quem chame ao chocolate o “alimento mais saboroso do
mundo”. Efectivamente, são poucas as pessoas que o não apreciem nas suas
variadas formas.
É chocante, todavia, verificar o que se encobre ou o
que se omite sobre as condições de trabalho na cultivação da matéria-prima
deste saboroso alimento, o cacau.
“As crianças e
rapazes que trabalham nas plantações de cacau africanas seriam, segundo algumas
estimas, mais de 200 mil com a idade entre os cinco e os quinze anos, vítimas
de um autêntico «tráfico»”.
Este é o primeiro parágrafo de um artigo de Federica
Ciavoni – La Stampa, 11/12/2013.
“Trabalham com pagas
ínfimas, quando não gratuitamente, em péssimas condições: são maltratados e
fechados em barracas; frequentemente, mal alimentados. O fenómeno diz respeito
a numerosos países da África Ocidental, entre os principais produtores de cacau
no mundo. Setenta por cento da produção mundial de cacau é cultivada aqui:
Costa do Marfim, Mali, Benim, Togo, Gana, Nigéria, Camarões, Burkina Faso.
As crianças
trabalhadoras são muitas vezes expostas a condições extremamente danosas para a
sua saúde física e mental, como afirma a International Labor Rights Forum, ONG
americana.”
Em 2005, a Nestlé foi denunciada pelo uso de
mão-de-obra reduzida a escravidão. Respondeu que o trabalho infantil era contra
os princípios da sociedade. Se era e é contra os seus princípios e embora
tivesse assinado, juntamente com outras grandes empresas do ramo, um Protocolo
do cacau, por que razão tudo continua como antes e pouco ou nada se faz para
ajudar aqueles países africanos a atenuar o uso do trabalho infantil?
A autora do artigo de La Stampa cita um documentário
(viagem de investigação) de dois jornalistas com o título «The dark side of chocolate» “que demonstra, com imagens cruas e
inequívocas, como o tráfico de seres humanos e o trabalho infantil na Costa do
Marfim alimentem o mercado mundial do chocolate”.
Sempre em relação ao chocolate, existem iniciativas
para que haja certificados confirmativos de que os produtos não provêm do
trabalho infantil. Óptimas iniciativas, mas se não se fomenta uma consciência
generalizada essas certificações serão quase ineficazes nos efeitos pretendidos.
Desgraçadamente, o trabalho infantil é global. Segundo
a “Organização Internacional do Trabalho”, em 2012 havia quase 168 milhões de
menores a trabalhar, 73% dos quais com
menos de onze anos. É arrepiante ler estas e outras estatísticas e verificar
aonde conduzem a grande pobreza e a degradação humana!
Segundo esse relatório da OIT, “há 5,5 milhões de
crianças em «trabalho forçado»: um quarto das vítimas totais do trabalho escravo.
Entre estas, 960.000 estão envolvidos na exploração sexual”.
Sempre dentro do mesmo tema, na semana passada teve
grande relevo a notícia da morte de um rapaz chinês de 15 anos (em Outubro
passado, mas só agora veio a lume) cujo nome é Shi Zaokun.
Oficialmente, vítima de uma pneumonia. A verdade,
porém, era outra. Trabalhava numa fábrica da Pegatron, em Xangai, que constrói
o iPhone 5 para a Apple, além de componentes electrónicos para a Sony, Toshiba
e outros gigantes afins.
Turnos de trabalho extenuantes: 12 horas por dia sem
intervalos. O rapazinho não resistiu. Como esta, houve outras três mortes
semelhantes.
A empresa diz que o rapaz, a fim de obter o emprego,
falsificou os documentos, indicando 20 em vez de 15 anos. Explicação difícil de
aceitar.
A Apple decidiu enviar “inspectores independentes” à
Petgatron de Xangai. Confesso que vejo esta decisão como uma palhaçada, digamos
mesmo cínica. Como é possível que a grande empresa informática californiana
aceite as empreitadas chinesas, desconhecendo as condições de trabalho e o
género de trabalhadores?
Só agora envia inspectores, e com toda esta publicidade,
quando precedentemente houvera denúncias sobre as condições de trabalho desumanas
nessas empresas chinesas? Desconheciam-nas?
Conhecem-nas muito bem. Contrariamente, não haveria
estas indecentes deslocalizações para países onde a mão-de-obra barata ou
escrava é uma das mais consistentes fontes de lucros
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home