PORTUGAL, ESTE
DESCONHECIDO
É de há longo tempo
que conheço a profunda ignorância que reina no Continente europeu - e não
somente na Europa - sobre este “jardim à beira-mar plantado” que se chama
Portugal.
Na Itália, entre as
pessoas menos informadas, embora não totalmente ignorantes, ouvi perguntas
deste teor: “Em Portugal fala-se o francês, não é verdade”? À pergunta
respondia com outra pergunta: “A Senhora (ou senhor) fala a língua italiana;
por que razão os portugueses não devem falar a língua portuguesa?”
Em várias outras ocasiões
tive de explicar que o português não é o espanhol e as afinidades desta língua
com a nossa não estavam longe das afinidades do português com o italiano.
Mas isto eram
insignificâncias. O verdadeiro desconhecimento da nação portuguesa
manifestava-se noutros aspectos bem mais importantes com inexactidões que eu
reputava inaceitáveis e, por vezes, ofensivas. Sempre protestei, corrigindo-as.
Todavia, o que em
igual medida me desagradava era o silêncio do nosso corpo diplomático. Se
Portugal é “esse desconhecido”, parte das culpas não caberá às nossas
embaixadas espalhadas pelo mundo? Além das funções diplomáticas, não deveriam
estar sempre atentas a corrigir, tanto quanto possível, a ignorância sobre o
país que representam? Ou interessa somente os contratos comerciais, embora
importantes?
Tive também a alegria
de receber manifestações de surpresa de pessoas amigas e conhecidas que
visitavam Portugal pela primeira vez. Esperavam visitar o país pobre e atrasado
a que todos aludiam, porém, com agradável e grande surpresa, encontravam “um
país civilizado, bonito, pessoas muito cordiais e atenciosas, comida excelente
e a pobreza normal de um país normal” – esta é a síntese do que me diziam, e
não creio que o fizessem por cortesia.
No artigo do
eurodeputado Rui Tavares de
quarta-feira passada (jornal Público, 20 Nov. 2013), o espanto obrigou-me a
reler o primeiro parágrafo, a fim de ficar com a certeza de ter compreendido
bem. Transcrevo-o:
“Segue-se
uma história insólita, mas real. Há 24 horas, mais ou menos, recebi um
funcionário de representação permanente de um país da Europa do Norte para
tratar de um assunto relacionado com liberdades e Estado de Direito na União
Europeia. No fim pediu-me para introduzir um assunto novo na nossa reunião e
começou a falar sobre a preocupação do seu país com a Constituição e o Tribunal
Constitucional português.”
Rui Tavares,
obviamente, explicou-lhe o valor e o significado da Constituição portuguesa e
do nosso Tribunal Constitucional.
Não fiquei só espantada
com o atrevimento da preocupação
daquele “funcionário de representação permanente”, mas muito mais com a sua impressionante
ignorância. Se a nossa Constituição tanto preocupava o país donde provinha, era
difícil à própria embaixada encontrar uma tradução do português e lê-la com a
devida atenção, antes de emitir dúvidas e inquietações? Além disso, não sabem
interpretar o valor e a função imprescindível de um Tribunal Constitucional num
Estado democrático?
Esses senhores lá do
Norte da Europa orientam as suas acções e convicções políticas, baseando-se no
que ouvem acerca de um qualquer Estado-membro da União? Não procuram verificar
se essas vozes negativas, alarmistas ou superficiais correspondem à realidade?
Ou Portugal é assim tão mísero e insignificante que tudo o que o apouque é sempre
aceitável? Ou, ainda, a arrogância desses países não exprimirá um espírito de
casta superior? Mas que ganhem juízo e bom senso!
Já satura o espírito
dos tempos. Apenas o aspecto económico financeiro dignifica as nações, o resto
é insignificante: o oscilante a esmagar valores inalienáveis, quando tudo
deveria ser sensatamente equilibrado.
Atrás aludi ao que
esperaria das nossas embaixadas. Contudo, os primeiros e máximos responsáveis são as altas
instituições que jamais deveriam permitir humilhações e ofensas à dignidade do
país que dirigem e de que são garante, esforçando-se por difundir, em
acção permanente, um conhecimento daquilo que somos, no bom e no mau –
sobretudo no bom e muito bom que existe. De caminho, e sem patrioteirismos contraproducentes,
metamos também pelo meio a nossa História de nove séculos, uma das mais ricas
da Europa.
Como ponto final, e
sempre a propósito deste Portugal amesquinhado, não sei compreender nem aceitar
o modus operandi da Comissão Europeia,
do BCE, do FMI, a famosa Troika, e mito menos o do actual Governo português.
Certamente que
devemos seguir normas que nos conduzam a uma consolidação do orçamento;
certamente que devemos aceitar sacrifícios até atingirmos os fins desejados, porém, quem deve traçar as vias, a forma e a consistência dessas normas? Com
qual direito os técnicos da Troika comandam, impõem, decidem? As instituições
da União Europeia não têm o dever de discernir a diferença entre funções vigilantes e a lesão de uma soberania?
Perante as pretensões
e intromissões da Troika, por qual razão o governo de um país soberano não deve
opor um firme e decidido alto lá?
Fornecestes-nos
financiamentos - que agradecemos - mas não nos financiastes gratuitamente, pois
pagamos e pagaremos juros que não são de favor: uma taxa média de 3%. Acham
pouco?!
Tudo faremos a fim de
pormos em ordem as nossas contas (a bem do país, acima de tudo), todavia, será
a nossa competência e profundo conhecimento do país que administramos, isto é, nós,
o Governo português, o único que decidirá onde, como, o quê e quanto.
Dar-vos-emos explicações do que decidirmos, mas as iniciativas são e serão
exclusivamente nossas.
Por que não existe esta coragem? Medo de quê? Que nos
expliquem.
Portugal, este desconhecido,
mas não é bem assim. É um Portugal infeliz que está nas mãos de quem nos
humilha perante os economicamente mais fortes e de quem vende a dignidade do
próprio país a troco de finalidades que nada têm que ver com o país geral, mas
com o que dentro dele o infecta.
2 Comments:
Bravo Alda. Consolei-me a ler o que primorosamente escreveu.Doi a maneira como tratam a nossa linda Pátria e a sua gloriosa História.
Deixá-los:dos pobres de espírito será o Reino dos céus?Hum.......
o Reino dos Céus para estes pobres de espírito?! Iriam estragar tudo lá por aquelas paragens. Que fiquem cá pela Terra, a fim de termos oportunidade de mandá-los para diabo de vez em quando.
Um beijinho e grata pela paciência de me ler e pelo seu comentário
Alda
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