EM FIM DE CONTAS, TODOS CULPADOS
Todos culpados, mas,
na Europa, todos virgens. Será assim?
Os serviços secretos
americanos (NSA) de há uma dezena de anos lançaram-se a espiar tudo e todos, urbi ed orbi, interceptando as comunicações electrónicas; uma questão de segurança
e prevenção contra o terrorismo. Todavia, mesmo em serviços deste género, deve
haver contenção e decência. E sobre isto, penso que estamos todos de acordo.
Seguindo a enorme
massa de informações que dia a dia vêm a lume, a reacção de certos países
europeus, quais virgens ofendidas que nunca praticaram tais actos, descamba na
hipocrisia e teatro, quando é bem conhecido que os seus serviços secretos ficam
ou ficaram pouco aquém das façanhas da “Agência de Segurança Nacional” (NSA) americana.
Abundam informações a esse respeito.
Bernard Barbie,
director técnico dos serviços secretos franceses (DGSE), por exemplo, gabou-se que “a França, depois dos ingleses,
possui o melhor centro da recolha de dados na Europa”.
O evento precipitou
no escândalo quando veio a lume que o telemóvel de Frau Merkel, de há dez anos, era vítima da espionagem electrónica
da NSA.
Quantos outros chefes
de Estado foram ou são controlados? Duvido que somente o telemóvel daquela
Senhora merecesse tal atenção, embora como czarina da UE tenha direito ao lugar
de honra.
Nestes enredos de
espionagem, onde não se salva nenhum país, infelizmente não se trata apenas de
um problema de segurança, mas também de espionagem económica. Penetrar nos
pensamentos e tácticas secretas dos responsáveis políticos e empresariais, faz
parte do jogo; poder-se-á negar essa eventualidade?
Em todas estas actividades
de espionagem, há factos que também apresentam o seu lado humorístico.
Último G20 de Setembro
passado em São Petersburgo, Rússia. No final da conferência, os chefes de
Estado e de Governo receberam, segundo a praxe, alguns brindes-recordação, entre
os quais chavetas USB e cabos para a
recarga dos telemóveis.
Estes gadgets despertaram muitas perplexidades
no presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Apenas chegado a Bruxelas,
encarregou os responsáveis da segurança de analisar atentamente todos os
dispositivos, envolvendo os serviços secretos alemães. Confirmou-se que tinham
sido modificados, a fim de captar dados clandestinamente. Mas os acertamentos
continuam.
Permanece o receio
que estes objectos modificados sejam utilizados incautamente pelos chefes de
Estado ou de Governo que participaram no G20 de São Petersburgo.
Alguns jornais enriqueceram
a informação, indicando que “a descoberta dos objectos modificados aconteceu
poucas semanas após a decisão do Kremlin (princípios de Agosto), de conceder
hospitalidade a Snowden, a toupeira dos metadados”.
Confesso que li estas
informações com um sorriso divertido.
Primeiro: Oferecer
chavetas USB para computador e cabos para a recarga de telemóveis a altas personagens
políticas – ademais, provenientes do Sr. Putin - é caso para pensar que algo
não batia certo. E tanto assim que Van Rompuy ficou alerta.
Segundo, o que mais
me divertiu ainda foi o receio que algum chefe de Estado ou de Governo caísse
na armadilha.
Grande estupidez dos
russos em oferecerem objectos de tal jaez, propensos a criar desconfianças,
tanto mais num clima de grande agitação provocada pelas denúncias do ex-agente
Edward Snowden.
Grande ingenuidade – ou
impreparação - de qualquer chefe de Governo ou de Estado usar essas prendinhas.
Outro facto que
também merece um sorriso irónico foi apontado num editorial do jornal La
Stampa:
(…) Obama deve impor regras à NSA, talvez
recrutando com mais atenção: quando se
lêem os currículos do soldado Manning e do agente Snowden, pergunta-se quem foi o doido que os
pôs a trabalhar com os dados secretos” – Gianni Riotta. (os sublinhados são meus)
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