segunda-feira, novembro 04, 2013

EM FIM DE CONTAS, TODOS CULPADOS

Todos culpados, mas, na Europa, todos virgens. Será assim?
Os serviços secretos americanos (NSA) de há uma dezena de anos lançaram-se a espiar tudo e todos, urbi ed orbi, interceptando as  comunicações electrónicas; uma questão de segurança e prevenção contra o terrorismo. Todavia, mesmo em serviços deste género, deve haver contenção e decência. E sobre isto, penso que estamos todos de acordo.

Seguindo a enorme massa de informações que dia a dia vêm a lume, a reacção de certos países europeus, quais virgens ofendidas que nunca praticaram tais actos, descamba na hipocrisia e teatro, quando é bem conhecido que os seus serviços secretos ficam ou ficaram pouco aquém das façanhas da “Agência de Segurança Nacional” (NSA) americana. Abundam informações a esse respeito.
Bernard Barbie, director técnico dos serviços secretos franceses (DGSE), por exemplo, gabou-se que “a França, depois dos ingleses, possui o melhor centro da recolha de dados na Europa”.

O evento precipitou no escândalo quando veio a lume que o telemóvel de Frau Merkel, de há dez anos, era vítima da espionagem electrónica da NSA.
Quantos outros chefes de Estado foram ou são controlados? Duvido que somente o telemóvel daquela Senhora merecesse tal atenção, embora como czarina da UE tenha direito ao lugar de honra.

Nestes enredos de espionagem, onde não se salva nenhum país, infelizmente não se trata apenas de um problema de segurança, mas também de espionagem económica. Penetrar nos pensamentos e tácticas secretas dos responsáveis políticos e empresariais, faz parte do jogo; poder-se-á negar essa eventualidade?

Em todas estas actividades de espionagem, há factos que também apresentam o seu lado humorístico.  
Último G20 de Setembro passado em São Petersburgo, Rússia. No final da conferência, os chefes de Estado e de Governo receberam, segundo a praxe, alguns brindes-recordação, entre os quais chavetas USB e cabos para a recarga dos telemóveis.

Estes gadgets despertaram muitas perplexidades no presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy. Apenas chegado a Bruxelas, encarregou os responsáveis da segurança de analisar atentamente todos os dispositivos, envolvendo os serviços secretos alemães. Confirmou-se que tinham sido modificados, a fim de captar dados clandestinamente. Mas os acertamentos continuam.

Permanece o receio que estes objectos modificados sejam utilizados incautamente pelos chefes de Estado ou de Governo que participaram no G20 de São Petersburgo.
Alguns jornais enriqueceram a informação, indicando que “a descoberta dos objectos modificados aconteceu poucas semanas após a decisão do Kremlin (princípios de Agosto), de conceder hospitalidade a Snowden, a toupeira dos metadados”.

Confesso que li estas informações com um sorriso divertido.
Primeiro: Oferecer chavetas USB para computador e cabos para a recarga de telemóveis a altas personagens políticas – ademais, provenientes do Sr. Putin - é caso para pensar que algo não batia certo. E tanto assim que Van Rompuy ficou alerta.
Segundo, o que mais me divertiu ainda foi o receio que algum chefe de Estado ou de Governo caísse na armadilha.

Grande estupidez dos russos em oferecerem objectos de tal jaez, propensos a criar desconfianças, tanto mais num clima de grande agitação provocada pelas denúncias do ex-agente Edward Snowden.   
Grande ingenuidade – ou impreparação - de qualquer chefe de Governo ou de Estado usar essas prendinhas.

Outro facto que também merece um sorriso irónico foi apontado num editorial do jornal La Stampa:
(…) Obama deve impor regras à NSA, talvez recrutando com mais atenção: quando se lêem os currículos do soldado Manning e do agente Snowden, pergunta-se quem foi o doido que os pôs a trabalhar com os dados secretos – Gianni Riotta. (os sublinhados são meus)