O TRANSFORMISTA, VULGO: VIRA-CASACAS
Também se poderia qualificar tal espécime como o clássico camaleão. Este tipo, porém, já pressupõe um mimetismo hábil que reveste todas as aparências de pessoa séria, mas que séria não é.
Dou um exemplo que bem retrata o autêntico vira-casacas sem o mínimo sentido de aprumo e dignidade.
O termo transformismo, nestas últimas semanas, foi constante em quase toda a imprensa italiana.
A dissidência entre Berlusconi e o ex-aliado Fini – ou ainda aliado, mas com reservas - criou uma situação de maioria periclitante para os desígnios berlusconianos de congelar os três processos que o envolvem e dar avio a uma reforma da Justiça, submetendo-a ao poder político.
Deu-se início a um segundo acto, a fim de obter uma tranquilizadora maioria: a compra de senadores ou deputados, nos partidos da oposição, que preenchessem as vagas dos contestadores que deixaram de obedecer ao boss.
As promessas eram tentadoras, assim rezam os jornais. Na abertura do Parlamento, quem desse o voto de confiança a favor de Berlusconi, teria lugar garantido nas próximas eleições, além da promessa de obterem um mandato de secretário de Estado ou outros cargos com o mesmo prestígio.
E, segundo ainda informaram, não descuraram ofertas pecuniárias, como a liquidação de encargos de créditos da habitação.
Aqueles parlamentares aliciados mantiveram a dignidade e reagiram indignados a um tão alto insulto à própria coerência? Impossível, para alguns.
O transformismo estava latente e a varinha mágica do oportunismo funcionou. Eis os vira-casacas que, sem o mínimo pudor, invocaram todo o género de razões patrióticas para a justificação do transformismo.
É este um fenómeno já pouco fenómeno, mas uma prática que nenhuma força política desdenha. A diferença está nos métodos. Há quem seja elegante e persuasor discreto e há os feirantes sem rebuços que contratam. Enquanto os primeiros se ficam pela incorrecção do acto, os segundos chafurdam no abandalhamento das instituições.
E quanto ao nosso lusitano transformismo? Fizemos transbordar todas as medidas no “25 de Abril”. Foi uma inundação de vira-casacas.
Quanto me diverti com a alegada e gritada democraticidade de tantos ex-devotos salazaristas que eu bem conhecia!
Quem sabe! Talvez por um analfabetismo político que nunca raciocinou, porque não tinha a informação e formação necessárias.
A propósito destas piruetas dos representantes eleitos para o Parlamento, ocorreram-me outras considerações.
Sempre que é necessário exprimir o meu voto, nunca desertei as urnas. Entendo que é um acto obrigatório. De outro modo, como podemos reivindicar a nossa qualidade de cidadãos com plenos direitos se, pelos mais diversos motivos, decidimos ignorar o sacrossanto direito e dever de elegermos quem nos represente na Assembleia da República?
Somente por que se paga impostos - quando não são evadidos! - já nos cremos cidadãos de primeira classe, dotados de uma estúpida arrogância de tudo pretender e criticar?
Votemo-los e, só então, avancemos o direito de verberar sem reservas o que nos parece errado.
Neste “votemo-los”, tropecei num senão. Quem é que nós votamos? O nosso sistema eleitoral – assim como o italiano – dá-nos a nós, eleitores, a faculdade de escolhermos quem se irá sentar no Parlamento ou rouba-nos essa prerrogativa?
Claro que somos defraudados por uma lei eleitoral injusta e incompleta, pois são os chefes dos partidos quem tudo decide, segundo as conveniências partidárias e não uma escolha dos melhores. E nós, com o nosso voto, ratificamos este género de democracia sem jamais opormos qualquer objecção!
Não é raro assistirmos, consequentemente, a míseros testemunhos de mediocridade e calculismos, lá onde eu gostaria de ver competências e um empenho sério na governação e resolução dos problemas.
Todavia, apesar de, continuamente, ser espectadora desse estado de coisas, quando introduzo o boletim de voto na urna, penso sempre que estou a contribuir para a escolha de pessoas bem conscientes do que vão fazer; profundas conhecedoras das regiões que representam; estudiosas dos complexos dossiês que retratam a situação e necessidades do País.
Que santa ingenuidade!
Observemos como as oposições – seja qual for a cor política - se exprimem na sua específica ágora, o Parlamento. A única variante está num virtuosismo, melhor ou pior, da crítica cerrada ao que o Governo faz ou não faz: tudo mal e nada se aproveita.
Até aqui, nada errado: é este o papel da oposição.
Começam a ser monótonas e estéreis, porém, quando às críticas não sucede uma contraproposta de novas ideias. E se estas timidamente espreitam, ficam submersas pela embriaguez de discursos tribunícios vãos e retóricos.
Acima de tudo, é na Assembleia da República que gostaríamos de ouvir ideias sólidas, propostas pertinentes e bem estruturadas, sugestões racionais e receptíveis, qual demonstração de um profundo conhecimento da boa ou má saúde do País e de paixão por aquilo por que foram eleitos.
Mas de novo, santa ingenuidade de quem isto espera!
Também se poderia qualificar tal espécime como o clássico camaleão. Este tipo, porém, já pressupõe um mimetismo hábil que reveste todas as aparências de pessoa séria, mas que séria não é.
Dou um exemplo que bem retrata o autêntico vira-casacas sem o mínimo sentido de aprumo e dignidade.
O termo transformismo, nestas últimas semanas, foi constante em quase toda a imprensa italiana.
A dissidência entre Berlusconi e o ex-aliado Fini – ou ainda aliado, mas com reservas - criou uma situação de maioria periclitante para os desígnios berlusconianos de congelar os três processos que o envolvem e dar avio a uma reforma da Justiça, submetendo-a ao poder político.
Deu-se início a um segundo acto, a fim de obter uma tranquilizadora maioria: a compra de senadores ou deputados, nos partidos da oposição, que preenchessem as vagas dos contestadores que deixaram de obedecer ao boss.
As promessas eram tentadoras, assim rezam os jornais. Na abertura do Parlamento, quem desse o voto de confiança a favor de Berlusconi, teria lugar garantido nas próximas eleições, além da promessa de obterem um mandato de secretário de Estado ou outros cargos com o mesmo prestígio.
E, segundo ainda informaram, não descuraram ofertas pecuniárias, como a liquidação de encargos de créditos da habitação.
Aqueles parlamentares aliciados mantiveram a dignidade e reagiram indignados a um tão alto insulto à própria coerência? Impossível, para alguns.
O transformismo estava latente e a varinha mágica do oportunismo funcionou. Eis os vira-casacas que, sem o mínimo pudor, invocaram todo o género de razões patrióticas para a justificação do transformismo.
É este um fenómeno já pouco fenómeno, mas uma prática que nenhuma força política desdenha. A diferença está nos métodos. Há quem seja elegante e persuasor discreto e há os feirantes sem rebuços que contratam. Enquanto os primeiros se ficam pela incorrecção do acto, os segundos chafurdam no abandalhamento das instituições.
E quanto ao nosso lusitano transformismo? Fizemos transbordar todas as medidas no “25 de Abril”. Foi uma inundação de vira-casacas.
Quanto me diverti com a alegada e gritada democraticidade de tantos ex-devotos salazaristas que eu bem conhecia!
Quem sabe! Talvez por um analfabetismo político que nunca raciocinou, porque não tinha a informação e formação necessárias.
A propósito destas piruetas dos representantes eleitos para o Parlamento, ocorreram-me outras considerações.
Sempre que é necessário exprimir o meu voto, nunca desertei as urnas. Entendo que é um acto obrigatório. De outro modo, como podemos reivindicar a nossa qualidade de cidadãos com plenos direitos se, pelos mais diversos motivos, decidimos ignorar o sacrossanto direito e dever de elegermos quem nos represente na Assembleia da República?
Somente por que se paga impostos - quando não são evadidos! - já nos cremos cidadãos de primeira classe, dotados de uma estúpida arrogância de tudo pretender e criticar?
Votemo-los e, só então, avancemos o direito de verberar sem reservas o que nos parece errado.
Neste “votemo-los”, tropecei num senão. Quem é que nós votamos? O nosso sistema eleitoral – assim como o italiano – dá-nos a nós, eleitores, a faculdade de escolhermos quem se irá sentar no Parlamento ou rouba-nos essa prerrogativa?
Claro que somos defraudados por uma lei eleitoral injusta e incompleta, pois são os chefes dos partidos quem tudo decide, segundo as conveniências partidárias e não uma escolha dos melhores. E nós, com o nosso voto, ratificamos este género de democracia sem jamais opormos qualquer objecção!
Não é raro assistirmos, consequentemente, a míseros testemunhos de mediocridade e calculismos, lá onde eu gostaria de ver competências e um empenho sério na governação e resolução dos problemas.
Todavia, apesar de, continuamente, ser espectadora desse estado de coisas, quando introduzo o boletim de voto na urna, penso sempre que estou a contribuir para a escolha de pessoas bem conscientes do que vão fazer; profundas conhecedoras das regiões que representam; estudiosas dos complexos dossiês que retratam a situação e necessidades do País.
Que santa ingenuidade!
Observemos como as oposições – seja qual for a cor política - se exprimem na sua específica ágora, o Parlamento. A única variante está num virtuosismo, melhor ou pior, da crítica cerrada ao que o Governo faz ou não faz: tudo mal e nada se aproveita.
Até aqui, nada errado: é este o papel da oposição.
Começam a ser monótonas e estéreis, porém, quando às críticas não sucede uma contraproposta de novas ideias. E se estas timidamente espreitam, ficam submersas pela embriaguez de discursos tribunícios vãos e retóricos.
Acima de tudo, é na Assembleia da República que gostaríamos de ouvir ideias sólidas, propostas pertinentes e bem estruturadas, sugestões racionais e receptíveis, qual demonstração de um profundo conhecimento da boa ou má saúde do País e de paixão por aquilo por que foram eleitos.
Mas de novo, santa ingenuidade de quem isto espera!
Alda M. Maia
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