DEPORTADOS APENAS PORQUE SÃO CIGANOS?
Em qualquer um dos vários significados próprios do termo deportação, pressagia-se sofrimento, inumanidade. Se olharmos a acepção jurídica, quase sempre pressupõe injustiça, prepotência, autoritarismo; por vezes, racismo.
É triste que seja a França actual a dar um péssimo exemplo, neste sentido! Custa aceitar que se proceda com tanto rigor e espectacularidade, levando a pensar o que tantos opinionistas assinalam: “uma comunidade de pessoas expulsa ou deportada, não por aquilo que fazem, mas pelo que são”.
Como para mim esta linha de pensamento já não é nova, indigna-me todo aquele rigor contra o povo Rom, toda aquela insistência no tema segurança pública, identificando-se com as piores pulsões dos novos bárbaros que se instalaram no poder italiano.
“A França segue a nossa linha; nós ainda seremos mais duros” – Roberto Maroni, ministro italiano da Administração Interna
O Presidente francês nunca me inspirou grande simpatia, embora lhe reconheça algumas, poucas, qualidades como homem de Estado. Nunca esperei, todavia, que descesse a este baixo nível populista por cálculos políticos - captar simpatias na extrema-direita francesa, segundo a voz corrente. Não creio, porém, que tivesse de violentar as suas tendências políticas: enquadra-se bem no espaço donde pretende obter votos.
Certamente que a nova onda migratória de ciganos, provindos da Europa Oriental, cria problemas de ordem pública. Será assim tão difícil, para qualquer administração, solucionar esse problema e procurar incutir o respeito pelas regras com firmeza, inteligência e princípios de humanidade?
É difícil ajudar esta etnia a integrar-se sem a abandonar às piores condições de sobrevivência? Basta olhar com atenção os espaços miseráveis onde acampam e onde, frequentemente, é fácil a inserção de delinquentes habituais no tráfico de prostituição, drogas e mendicidade.
Convém não esquecer que nos países donde são oriundos – sobretudo Hungria, Bulgária e Roménia – são desprezados e tratados como seres sub-humanos.
O Sr. Sarkozy, descendente de emigrantes húngaros, não deve desconhecer essa realidade!
Tolerância zero no que concerne o respeito pelas leis; compreensão e solidariedade por quem pode ser banido apenas porque pertence a uma determinada comunidade: este é um ostracismo, chamemos-lhe assim, e que frequentemente testemunho, que eu não tolero nem quero tolerar, gostemos ou não de certos costumes, de certas atitudes de clã.
Se bem que, alguma vez procurámos compreender o modo de ser da etnia cigana e conhecer a história deste povo? Procurámos demonstrar-lhe esse interesse?
Quando uso o vocábulo “cigano”, sou completamente alheia ao sentido pejorativo com que a palavra nasceu. Para mim, é um nome com a mesma dignidade de qualquer outro.
[…] “Muitas vezes não é a raça a despertar execrações; é o modo de viver itinerante. […] No século XV, quando migraram para a Europa, os ciganos tinham um salvo-conduto de protecção universal, não nacional ou local: a protecção do Papa e a do Imperador.
Só uma protecção de natureza universal pode garantir «as legítimas diversidades humanas» às quais acenou Bento XVI no Angelus, pronunciado em francês em 22 de Agosto.
Em qualquer um dos vários significados próprios do termo deportação, pressagia-se sofrimento, inumanidade. Se olharmos a acepção jurídica, quase sempre pressupõe injustiça, prepotência, autoritarismo; por vezes, racismo.
É triste que seja a França actual a dar um péssimo exemplo, neste sentido! Custa aceitar que se proceda com tanto rigor e espectacularidade, levando a pensar o que tantos opinionistas assinalam: “uma comunidade de pessoas expulsa ou deportada, não por aquilo que fazem, mas pelo que são”.
Como para mim esta linha de pensamento já não é nova, indigna-me todo aquele rigor contra o povo Rom, toda aquela insistência no tema segurança pública, identificando-se com as piores pulsões dos novos bárbaros que se instalaram no poder italiano.
“A França segue a nossa linha; nós ainda seremos mais duros” – Roberto Maroni, ministro italiano da Administração Interna
O Presidente francês nunca me inspirou grande simpatia, embora lhe reconheça algumas, poucas, qualidades como homem de Estado. Nunca esperei, todavia, que descesse a este baixo nível populista por cálculos políticos - captar simpatias na extrema-direita francesa, segundo a voz corrente. Não creio, porém, que tivesse de violentar as suas tendências políticas: enquadra-se bem no espaço donde pretende obter votos.
Certamente que a nova onda migratória de ciganos, provindos da Europa Oriental, cria problemas de ordem pública. Será assim tão difícil, para qualquer administração, solucionar esse problema e procurar incutir o respeito pelas regras com firmeza, inteligência e princípios de humanidade?
É difícil ajudar esta etnia a integrar-se sem a abandonar às piores condições de sobrevivência? Basta olhar com atenção os espaços miseráveis onde acampam e onde, frequentemente, é fácil a inserção de delinquentes habituais no tráfico de prostituição, drogas e mendicidade.
Convém não esquecer que nos países donde são oriundos – sobretudo Hungria, Bulgária e Roménia – são desprezados e tratados como seres sub-humanos.
O Sr. Sarkozy, descendente de emigrantes húngaros, não deve desconhecer essa realidade!
Tolerância zero no que concerne o respeito pelas leis; compreensão e solidariedade por quem pode ser banido apenas porque pertence a uma determinada comunidade: este é um ostracismo, chamemos-lhe assim, e que frequentemente testemunho, que eu não tolero nem quero tolerar, gostemos ou não de certos costumes, de certas atitudes de clã.
Se bem que, alguma vez procurámos compreender o modo de ser da etnia cigana e conhecer a história deste povo? Procurámos demonstrar-lhe esse interesse?
Quando uso o vocábulo “cigano”, sou completamente alheia ao sentido pejorativo com que a palavra nasceu. Para mim, é um nome com a mesma dignidade de qualquer outro.
[…] “Muitas vezes não é a raça a despertar execrações; é o modo de viver itinerante. […] No século XV, quando migraram para a Europa, os ciganos tinham um salvo-conduto de protecção universal, não nacional ou local: a protecção do Papa e a do Imperador.
Só uma protecção de natureza universal pode garantir «as legítimas diversidades humanas» às quais acenou Bento XVI no Angelus, pronunciado em francês em 22 de Agosto.
Hoje, a etnia Rom têm a protecção do Papa; a do Imperador (a política) brilha por cruel ausência.” - Bárbara Spinelli, La Stampa, 29/08/2010
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Olhemos agora outro aspecto da questão.
Que se está a passar nesta nossa Europa civilizada do iluminismo, humanismo, natural propulsora e defensora dos direitos humanos, testemunha, no século passado, dos piores crimes contra a humanidade dentro do seu território? Tudo isso foi esquecido?
É difícil aceitar e compreender que a xenofobia nasça e se propague em países outrora acolhedores e, contemporaneamente, países de emigrantes que sofreram os mesmos amargores que, hoje, infligem aos imigrantes, sobretudo extrcomunitários!
Donde provém esta intolerância contra o diverso, esta desconfiança contra quem busca os nossos países com a esperança de melhores condições de vida ou fugindo de regimes totalitários brutais? Foi a abundância que nos empederniu o coração?
Descrevo um dos múltiplos exemplos de xenofobia que se verificam quase diariamente.
Uma praia italiana do Adriático, Civitanova Marche. Um rapaz bengalês, vendedor ambulante, quis descansar um pouco e sentou-se numa cadeira de lona num estabelecimento balnear. Cinco miúdos de 10 / 11 anos rodearam-no e começaram a insultá-lo: “Levanta-te e vai-te embora. Isto é propriedade privada. Vai vender fora daqui. Isto é mercadoria que roubaste”.
Como não respondia, começaram a dar-lhe pontapés nas costas da cadeira e nas costas do pobre rapaz, evidentemente.
Levantou-se, sem protestar, dizendo apenas: Sois crianças muito más.
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Olhemos agora outro aspecto da questão.
Que se está a passar nesta nossa Europa civilizada do iluminismo, humanismo, natural propulsora e defensora dos direitos humanos, testemunha, no século passado, dos piores crimes contra a humanidade dentro do seu território? Tudo isso foi esquecido?
É difícil aceitar e compreender que a xenofobia nasça e se propague em países outrora acolhedores e, contemporaneamente, países de emigrantes que sofreram os mesmos amargores que, hoje, infligem aos imigrantes, sobretudo extrcomunitários!
Donde provém esta intolerância contra o diverso, esta desconfiança contra quem busca os nossos países com a esperança de melhores condições de vida ou fugindo de regimes totalitários brutais? Foi a abundância que nos empederniu o coração?
Descrevo um dos múltiplos exemplos de xenofobia que se verificam quase diariamente.
Uma praia italiana do Adriático, Civitanova Marche. Um rapaz bengalês, vendedor ambulante, quis descansar um pouco e sentou-se numa cadeira de lona num estabelecimento balnear. Cinco miúdos de 10 / 11 anos rodearam-no e começaram a insultá-lo: “Levanta-te e vai-te embora. Isto é propriedade privada. Vai vender fora daqui. Isto é mercadoria que roubaste”.
Como não respondia, começaram a dar-lhe pontapés nas costas da cadeira e nas costas do pobre rapaz, evidentemente.
Levantou-se, sem protestar, dizendo apenas: Sois crianças muito más.
Com efeito, não somente eram más, como já bem imbuídas de veneno racista.
A parte mais odiosa deste episódio, todavia, foi a indiferença e cinismo de um grupo de adultos – talvez os pais – que presenciava o que estava a acontecer e riam-se, muito divertidos, das proezas daqueles fedelhos malcriados.
Ainda bem que um repórter da agência Ansa assistiu a esta cena indecente e divulgou-a em todos os seus pormenores.
Interrogou o proprietário do estabelecimento e outros banhistas, mas ninguém se apercebeu de nada!...
Talvez - quem sabe! - a vergonha começasse a morder-lhes a consciência. Mas não acredito.
A parte mais odiosa deste episódio, todavia, foi a indiferença e cinismo de um grupo de adultos – talvez os pais – que presenciava o que estava a acontecer e riam-se, muito divertidos, das proezas daqueles fedelhos malcriados.
Ainda bem que um repórter da agência Ansa assistiu a esta cena indecente e divulgou-a em todos os seus pormenores.
Interrogou o proprietário do estabelecimento e outros banhistas, mas ninguém se apercebeu de nada!...
Talvez - quem sabe! - a vergonha começasse a morder-lhes a consciência. Mas não acredito.
Alda M. Maia
4 Comments:
D. Alda,
Desta vez não vou poder concordar.
Corro o risco de ser tomada por reaccionária (já não era a primeira vez… estou habituada), mas não me parece que o seja. - tenho é uma maneira "mais ampla" de ver esta questão.
Bom, eu bem sei que esta é um assunto bem incómodo para a esquerda, que leva a bandeira contra a xenofobia (e muito bem)… Por causa disso, tem medo de ser considerada xenófoba se tomar uma posição de "compreensão" com esta situação.
Contudo, a mim não me parece que esta seja uma questão de xenofobia. É nesta medida que discordo do que se vem dizendo, e do que hoje a D. Alda escreve.
A verdade é que, em qualquer país da Europa, para se ter o estatuto de emigrante legal, e poder residir sem problemas nesse país, são necessários alguns requisitos: um deles, essencial, é ter um contrato de trabalho (ou qualquer outra actividade remunerada, sujeita a impostos, ou uma autorização para estudar…); outro é ter um local onde residir (condigno), etc. Caso contrário essa pessoa (independentemente da etnia), se permanecer nesse país por um período superior ao concedido a um turista, é um emigrante ilegal. Em qualquer país da Europa, um estrangeiro que se encontre nessas circunstâncias, é deportado.
Nesta medida, estas pessoas (que por acaso eram de etnia cigana, mas poderiam não ser), porque eram emigrantes ilegais, foram deportadas.
Todos os dias são repatriados cidadãos estrangeiros de todos os países, e não vejo ninguém indignar-se. Aqui mesmo em Famalicão, passamos a vida a ouvir que são feitas rusgas a determinados sítios, desig. boites, e são deportadas prostitutas brasileiras para o seu país – não vejo ninguém achar mal.
Podemos achar que a lei da emigração não está bem – e com isso concordo; podemos achar que há determinadas situações em que deveria ser dado visto de residência, ou permanência, e não é – com o que também concordo; podemos achar que deveria haver mais mobilidade entre os países, que até nem havia de haver fronteiras e que cada um deveria se livre de viver onde, como e nas condições que quisesse… mas a verdade é que hoje a legislação não está assim escrita.
Atacou-se o Presidente francês de xenófobo. Não sei se ele o é ou não, mas não me parece que este caso seja um caso de xenofobia – se em vez de indivíduos de etnia cigana tivéssemos outros (como acontece diariamente) ninguém berrava nada.
Não ser racista ou não ser xenófobo é tratar qualquer pessoa com as mesmas regras e os mesmos sentimentos, aceitando a diferença, mas não o tratamento diferenciado (nem o mais nem o menos). Como tal, considero que, havendo na França esta regra da repatriação de emigrantes ilegais, estas pessoas não poderiam ter tratamento diferente.
Posso opor-me a uma determinada lei e contra isso lutar, mas não posso opor-me à sua aplicação (geral e abstractamente) enquanto ela vigorar.
Um beijinho
Alda,
É uma grande vergonha, o homem não ser capaz de resolver um problema social e humano tão candente como é este, doutra forma, duma forma mais civilizada.
O Homem deve poder fazer a sua vida em qualquer parte do Planeta. Só há que encontrar vias de diálogo e de Solidariedade.
Tanto dinheiro que se desperdiça inútil e criminosamente em coisas pueris, ao mesmo tempo que se não acode a situações humanas que se resolviam com diálogo e uns milhões de Euros investidos no social.
Parece que nos estamos a esquecer que enquanto houver desesperados não podemos - os que estão do outro lado - não podem viver descansados.
E era bom e urgente que se olhasse com vontade política para esta faceta da vida do homem em sociedade (global).
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Escrevi sobre radioamadorismo no comentário ao seu comentário no meu blogue. Explosões de emoções!?...
Uma abraço
António
Ciao, Teresinha contestatária
Concordar sempre também se torna monótono. Uma boa discussão é do que mais gosto.
A propósito: quem te chamou reaccionária? Ah! Já sei. Já “m’alembro”.
Ouve cá, ó linda menina, leste com atenção o que escrevi?
Delongas-te sobre as normas europeias que regem a legalidade dos imigrantes, nos diversos países. Achas que as ignorei? Penso que fui bem clara sobre a tolerância zero contra o não respeito das leis.
Repara na citação que fiz no fim do primeiro parágrafo: ALVOS DE EXPULSÃO OU DEPORTAÇÃO POR AQUILO QUE SÃO E NÃO PELO QUE FAZEM. É nisto que está a essência de tudo o que escrevi; é isto que não aceito; é isto que me repugna na iniciativa populista de Sarkozy.
Ha capito, gentile Signora?
Um beijinho
Alda
Boa Tarde, António
Já reparou que impera a indiferença e o egoismo? Já reparou que, quando os politicantes se vêem em períodos de baixas sondagens, recorrem sempre á retórica populista e se tornam em grandes defensores da
segurança dos cidadãos? Este, então, é o argumento príncipe.
Reparou também como o Paulo Portas cavalgou imediatamente este argumento?
Já li o seu comentário sobre o radioamadorismo e quero deixar lá outras considerações sobre o tema, se me permite.
Ouço uns sons, ao longe, que me parecem o anúncio de uma iminente trovoada. O melhor é fechar os taipais.
Um abraço e sempre um beijinho á Zaida
Alda
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