PORTUGAL: O PAÍS QUE CAMINHA COM A ENERGIA LIMPA
Subtítulo:
A fim de derrotar a dependência dos combustíveis fósseis, o Governo apostou numa série de projectos ambiciosos. Agora, 45% da electricidade produzida flui das novas instalações eólicas, hidráulicas e fotovoltaicas.
Este é o título e subtítulo de um artigo muito interessante de Elisabeth Rosenthal, copyright New York Times – La Repubblica.
Traduzo-o integralmente, segundo a versão italiana.
*****
Há cinco anos, os líderes deste país queimado pelo sol e varrido pelo vento fizeram uma aposta: empenharam-se numa série de projectos ambiciosos de energia renovável, dispondo-se a desfrutar, não somente o vento do país e a energia hidráulica, como também a luz do sole e as ondas oceânicas, a fim de reduzir a dependência de Portugal dos combustíveis fósseis importados.
Hoje, os cafés de moda em Lisboa, as indústrias do Porto e as sofisticadas estruturas turísticas do Algarve são, substancialmente, alimentados com energia limpa.
Este ano, cerca de 45% da electricidade distribuída em Portugal provirá das fontes renováveis e com um aumento de 17% em relação a cinco anos atrás.
Neste período, a energia eólica terrestre aumentou sete vezes e prevê-se que, em 2011, Portugal tornar-se-á no primeiro país a inaugurar uma rede nacional de estações de recarga de automóveis eléctricos.
«Estão todos contentes. É um lindo sonho. Não se pode competir. É excessivamente caro» - diz o Primeiro-Ministro José Sócrates.
A experiência de Portugal demonstra que é possível um progresso rápido e, paralelamente, evidencia os custos desta transição.
Os preços subiram de 15% nos últimos cinco anos; provavelmente, um aumento devido ao programa da energia renovável, segundo diz IEA – Agência Internacional para a Energia.
Num relatório de 2009, a mesma agência definia a transição portuguesa «um notável sucesso». Acrescentava, todavia, que «não é bem claro se o seu custo, quer económico-financeiro, quer como impacto sobre os preços da energia para o consumidor final, sejam bem compreendidos e apreciados».
O Primeiro-Ministro Sócrates que, depois da irresistível vitória de 2005, tinha imposto o renovamento energético, não obstante as objecções da indústria dos carburantes fósseis, o ano passado ficou a liderar um governo débil.
«Não podeis imaginar a pressão a que fomos submetidos naquele primeiro ano» - diz Manuel Pinho, ministro da Economia e Inovação de 2005 até 2009.
Para impor a transição energética, o governo de Sócrates reestruturou e privatizou as instalações estatais para a produção de energia, a fim de criar uma rede mais adequada às fontes renováveis e garantiu às empresas privadas contratos vantajosos.
Portugal poderia, perfeitamente, servir de laboratório de experiências, dada a grande disponibilidade de recursos de energia eólica e fluvial, as fontes renováveis mais convenientes, visto que não requerem carburantes e não produzem emissões.
Para conseguir fornecer energia renovável a nível nacional, tornava-se indispensável uma rede capaz de transportar a electricidade das localidades ventosas e soalheiras até às cidades. Porém, até há dez anos atrás, as empresas produtoras de energia possuíam, não somente as centrais eléctricas, mas também as linhas de transmissão.
Em 2000, o primeiro passo foi o de separar a produção de energia eléctrica do transporte, adquirindo todas as linhas de transmissão de energia eléctrica e gás que foram, depois, usadas para criar o esqueleto da que, a partir de 2007, será uma empresa controlada e cotada na Bolsa de Valores.
Sucessivamente, o governo abriu um concurso para obras de construção e gestão das instalações de energia eólica e hidráulica.
Fazer andar para a frente um país com a energia eléctrica derivante das forças da natureza, altamente imprevisíveis, requer, no entanto, novas tecnologias e a habilidade de um malabarista.
A empresa portuguesa “Redes Energéticas Nacionais” - REN – usa modelos sofisticados para as previsões meteorológicas, especialmente sobre a orientação dos ventos, e programas informáticos para calcular a energia produzida pelas várias instalações de energia renovável.
Por decénios, Portugal produziu a energia eléctrica graças às instalações hidroeléctricas situadas nos seus rios. Os novos programas combinam o vento e a água: de noite, nas horas mais ventosas, turbinas alimentadas pelo vento aspiram a água para o alto; durante o dia, a água desce a vale, gerando energia eléctrica, nos momentos de consumo mais elevado.
Quando as forças da natureza se apagam e a fim de assegurar uma energia estável, o sistema deve manter uma base de carburante fóssil que possa ser consumido sempre que necessário.
Embora as instalações de energia eléctrica operem, em Portugal, por muito menos horas que anteriormente, o País também está a construir instalações de gás natural altamente eficientes.
Os peritos de energia consideram a experimento de Portugal um sucesso.
Muitos ambientalistas, todavia, opõem-se aos planos do Governo de dobrar a quantidade de energia eólica, dizendo que a luz e o rumor das turbinas interferem no comportamento das aves; grupos para a conservação do ambiente temem que novas barragens destruam o habitat dos sobreirais portugueses.
As empresas locais lamentam que o Governa tenha permitido às grandes multinacionais substituí-las nos lugares que lhes caberiam. Os políticos venderam os programas de energia verde às comunidades com a promessa de novos empregos. Porém, a nível local, o efeito, frequentemente, demonstrou-se limitado.
Energia de fontes renováveis: em 2005, 17%; em 2010, 45%; em 2020 (objectivo), 60%
Défice comercial português devido à importação de energia (2005) = 50%
Poupança anual de Portugal – a projecto terminado (2020) = 1,7 mil milhões de euros.
La Repubblica, 11 de Agosto, 2010
Subtítulo:
A fim de derrotar a dependência dos combustíveis fósseis, o Governo apostou numa série de projectos ambiciosos. Agora, 45% da electricidade produzida flui das novas instalações eólicas, hidráulicas e fotovoltaicas.
Este é o título e subtítulo de um artigo muito interessante de Elisabeth Rosenthal, copyright New York Times – La Repubblica.
Traduzo-o integralmente, segundo a versão italiana.
*****
Há cinco anos, os líderes deste país queimado pelo sol e varrido pelo vento fizeram uma aposta: empenharam-se numa série de projectos ambiciosos de energia renovável, dispondo-se a desfrutar, não somente o vento do país e a energia hidráulica, como também a luz do sole e as ondas oceânicas, a fim de reduzir a dependência de Portugal dos combustíveis fósseis importados.
Hoje, os cafés de moda em Lisboa, as indústrias do Porto e as sofisticadas estruturas turísticas do Algarve são, substancialmente, alimentados com energia limpa.
Este ano, cerca de 45% da electricidade distribuída em Portugal provirá das fontes renováveis e com um aumento de 17% em relação a cinco anos atrás.
Neste período, a energia eólica terrestre aumentou sete vezes e prevê-se que, em 2011, Portugal tornar-se-á no primeiro país a inaugurar uma rede nacional de estações de recarga de automóveis eléctricos.
«Estão todos contentes. É um lindo sonho. Não se pode competir. É excessivamente caro» - diz o Primeiro-Ministro José Sócrates.
A experiência de Portugal demonstra que é possível um progresso rápido e, paralelamente, evidencia os custos desta transição.
Os preços subiram de 15% nos últimos cinco anos; provavelmente, um aumento devido ao programa da energia renovável, segundo diz IEA – Agência Internacional para a Energia.
Num relatório de 2009, a mesma agência definia a transição portuguesa «um notável sucesso». Acrescentava, todavia, que «não é bem claro se o seu custo, quer económico-financeiro, quer como impacto sobre os preços da energia para o consumidor final, sejam bem compreendidos e apreciados».
O Primeiro-Ministro Sócrates que, depois da irresistível vitória de 2005, tinha imposto o renovamento energético, não obstante as objecções da indústria dos carburantes fósseis, o ano passado ficou a liderar um governo débil.
«Não podeis imaginar a pressão a que fomos submetidos naquele primeiro ano» - diz Manuel Pinho, ministro da Economia e Inovação de 2005 até 2009.
Para impor a transição energética, o governo de Sócrates reestruturou e privatizou as instalações estatais para a produção de energia, a fim de criar uma rede mais adequada às fontes renováveis e garantiu às empresas privadas contratos vantajosos.
Portugal poderia, perfeitamente, servir de laboratório de experiências, dada a grande disponibilidade de recursos de energia eólica e fluvial, as fontes renováveis mais convenientes, visto que não requerem carburantes e não produzem emissões.
Para conseguir fornecer energia renovável a nível nacional, tornava-se indispensável uma rede capaz de transportar a electricidade das localidades ventosas e soalheiras até às cidades. Porém, até há dez anos atrás, as empresas produtoras de energia possuíam, não somente as centrais eléctricas, mas também as linhas de transmissão.
Em 2000, o primeiro passo foi o de separar a produção de energia eléctrica do transporte, adquirindo todas as linhas de transmissão de energia eléctrica e gás que foram, depois, usadas para criar o esqueleto da que, a partir de 2007, será uma empresa controlada e cotada na Bolsa de Valores.
Sucessivamente, o governo abriu um concurso para obras de construção e gestão das instalações de energia eólica e hidráulica.
Fazer andar para a frente um país com a energia eléctrica derivante das forças da natureza, altamente imprevisíveis, requer, no entanto, novas tecnologias e a habilidade de um malabarista.
A empresa portuguesa “Redes Energéticas Nacionais” - REN – usa modelos sofisticados para as previsões meteorológicas, especialmente sobre a orientação dos ventos, e programas informáticos para calcular a energia produzida pelas várias instalações de energia renovável.
Por decénios, Portugal produziu a energia eléctrica graças às instalações hidroeléctricas situadas nos seus rios. Os novos programas combinam o vento e a água: de noite, nas horas mais ventosas, turbinas alimentadas pelo vento aspiram a água para o alto; durante o dia, a água desce a vale, gerando energia eléctrica, nos momentos de consumo mais elevado.
Quando as forças da natureza se apagam e a fim de assegurar uma energia estável, o sistema deve manter uma base de carburante fóssil que possa ser consumido sempre que necessário.
Embora as instalações de energia eléctrica operem, em Portugal, por muito menos horas que anteriormente, o País também está a construir instalações de gás natural altamente eficientes.
Os peritos de energia consideram a experimento de Portugal um sucesso.
Muitos ambientalistas, todavia, opõem-se aos planos do Governo de dobrar a quantidade de energia eólica, dizendo que a luz e o rumor das turbinas interferem no comportamento das aves; grupos para a conservação do ambiente temem que novas barragens destruam o habitat dos sobreirais portugueses.
As empresas locais lamentam que o Governa tenha permitido às grandes multinacionais substituí-las nos lugares que lhes caberiam. Os políticos venderam os programas de energia verde às comunidades com a promessa de novos empregos. Porém, a nível local, o efeito, frequentemente, demonstrou-se limitado.
Energia de fontes renováveis: em 2005, 17%; em 2010, 45%; em 2020 (objectivo), 60%
Défice comercial português devido à importação de energia (2005) = 50%
Poupança anual de Portugal – a projecto terminado (2020) = 1,7 mil milhões de euros.
La Repubblica, 11 de Agosto, 2010
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Alda M. Maia
4 Comments:
Olá caríssima D. Alda
Muito obrigada pela tradução do artigo. Já tinha ouvido falar, e visto o artigo em inglês (http://www.nytimes.com/2010/08/10/science/earth/10portugal.html?_r=1), mas não o li todo, porque estava em inglês e leva mais tempo. Também porque tive duvidas com os números.
Na realidade, é uma boa notícia, pois Portugal ultrapassou as metas em produção de energia renovável.
O problema é que se fala de energia produzida em Portugal, mas não consumida, que é muito maior. É que isso já são outros números, pois em 2006, a dependência energética de Portugal era de 83.1% (e julgo que não terá diminuído, mas não afirmo).
Portanto, estamos a falar de 45% de 16,9% em relação à energia consumida, ou seja próximo de 7,6%.
Seja como for, é uma boa notícia.
Obrigada e um grande beijinho
Boa tarde, Manelinha
Não li o artigo do New York Times, mas achei interessantíssima a página inteira que La Repubblica dedicou a Portugal e, portanto, não o procurei.
Já reparou que, na imprensa nacional, nem sempre temos o prazer de ler serviços informativos completos sobre um tema que nos coloca na vanguarda? Ou será culpa minha que não me apercebi de artigos sobre o assunto? Nisto, a Manelinha é mestre e poderá elucidar-me.
De todas as maneiras, ver que, lá fora, olham o facto com interesse, prova-se grande satisfação, não lhe parece?
Há minutos, corrigi uma expressão que não me agradava: “Il Portogallo poteva bem fare da cavia” (cavia = cobaia)
Portugal não é cobaia de ninguém. Mudei para “laboratório de experiências” – achei mais adequado ao pensamento de quem escreveu o artigo – assim o espero!...
Traduzir de traduções não é sempre fácil.
Um grande abraço e gostei que tivesse lido este post.
Alda
D. Alda,
Pois é... um motivo de orgulho!...
Um beijinho
Olá, Teresinha
Haverá outros motivos, não te parece?
Um beijinho
Alda
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