ALGUÉM VIU POR AÍ O BOM SENSO?
“ai, Deus, e u é?”
Observando as diatribes entre o nosso Primeiro-Ministro e o dirigente do PSD, Pedro Passos Coelho, acerca da viabilização do Orçamento do Estado, não sei se apelar ao bom senso se a um assomo de vergonha pelo deprimente espectáculo de irresponsabilidade que as duas personagens vêm demonstrando.
Parecem dois moços num jogo de pingue-pongue, onde um se crispa e dramatiza, ameaçando a demissão, e o outro apenas se preocupa em exibir um pretenso virtuosismo de novo dirigente partidário.
Entretanto, este nosso belo País, pesadamente endividado, com milhares de desempregados e uma economia anémica, que se resigne. Quando muito, que se sente à beira-mar, olhando o grande horizonte, e implore: “Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas de uma classe política séria, coerente e iluminada? ai, Deus, e u é?
Oxalá que as lonjuras do mar nos tragam bons ventos que varram tacticismos e miopias políticas; que inspirem sólidas responsabilidades e dêem um geral impulso de agir para o bem comum com discussões inteligentes, construtivas e uma sábia escolha das melhores sugestões: não importa donde estas provenham.
Por último, não façam da crise económica do nosso País uma desgraçada Sagunto: “Enquanto em Roma se discute, Sagunto cai”.
O Dr. Mário Soares, com bons argumentos, procura suavizar as consequências do endividamento do Estado português. É atitude razoável, pois não é com alarmismos que se instala o bom senso em quem deve tomar medidas extremas, se necessário.
Haveria tanto por onde começar a ceifar nas contas públicas! Tudo se aceitaria, se tudo fosse executado com a máxima transparência e salvaguarda do que é socialmente imprescindível. Fá-lo-ão? Ou melhor, farão a ceifa antes de recorrerem a novos impostos.
Mas se novos impostos forem necessários e caiam, em primeiro lugar, nos altos rendimentos, todos devemos recordar que os sacrifícios, neste período, impõem-se a este povo que até hoje tem vivido como a cigarra da fábula.
Chegou o período de sermos todos formiguinhas. Deixemo-nos de grandezas e evitemos que a balança de pagamentos esteja em perene inclinação negativa.
E não quero alongar-me mais sobre este tema, pois a indignação que me tem provocado o estado actual da nossa política e a inconsciência dos seus representantes levar-me-ia a considerações que talvez descambassem no injusto.
Para terminar, quero transcrever um artigo, com data 26/09/2010, que li na página económica de um jornal italiano, “Il Fatto Quotidiano”.
“ai, Deus, e u é?”
Observando as diatribes entre o nosso Primeiro-Ministro e o dirigente do PSD, Pedro Passos Coelho, acerca da viabilização do Orçamento do Estado, não sei se apelar ao bom senso se a um assomo de vergonha pelo deprimente espectáculo de irresponsabilidade que as duas personagens vêm demonstrando.
Parecem dois moços num jogo de pingue-pongue, onde um se crispa e dramatiza, ameaçando a demissão, e o outro apenas se preocupa em exibir um pretenso virtuosismo de novo dirigente partidário.
Entretanto, este nosso belo País, pesadamente endividado, com milhares de desempregados e uma economia anémica, que se resigne. Quando muito, que se sente à beira-mar, olhando o grande horizonte, e implore: “Ai flores, ai flores do verde pino, se sabedes novas de uma classe política séria, coerente e iluminada? ai, Deus, e u é?
Oxalá que as lonjuras do mar nos tragam bons ventos que varram tacticismos e miopias políticas; que inspirem sólidas responsabilidades e dêem um geral impulso de agir para o bem comum com discussões inteligentes, construtivas e uma sábia escolha das melhores sugestões: não importa donde estas provenham.
Por último, não façam da crise económica do nosso País uma desgraçada Sagunto: “Enquanto em Roma se discute, Sagunto cai”.
O Dr. Mário Soares, com bons argumentos, procura suavizar as consequências do endividamento do Estado português. É atitude razoável, pois não é com alarmismos que se instala o bom senso em quem deve tomar medidas extremas, se necessário.
Haveria tanto por onde começar a ceifar nas contas públicas! Tudo se aceitaria, se tudo fosse executado com a máxima transparência e salvaguarda do que é socialmente imprescindível. Fá-lo-ão? Ou melhor, farão a ceifa antes de recorrerem a novos impostos.
Mas se novos impostos forem necessários e caiam, em primeiro lugar, nos altos rendimentos, todos devemos recordar que os sacrifícios, neste período, impõem-se a este povo que até hoje tem vivido como a cigarra da fábula.
Chegou o período de sermos todos formiguinhas. Deixemo-nos de grandezas e evitemos que a balança de pagamentos esteja em perene inclinação negativa.
E não quero alongar-me mais sobre este tema, pois a indignação que me tem provocado o estado actual da nossa política e a inconsciência dos seus representantes levar-me-ia a considerações que talvez descambassem no injusto.
Para terminar, quero transcrever um artigo, com data 26/09/2010, que li na página económica de um jornal italiano, “Il Fatto Quotidiano”.
.
Não me agradou absolutamente nada!
Não porque diga mentiras, mas porque pôs a nu o que, no exterior, pensam do nosso estado financeiro. Mas é como digo: enquanto em Lisboa se discute, o País afunda.
****
“Caminhando para o apocalipse da dívida portuguesa”
Nos mercados, Lisboa e Dublin assemelham-se cada vez mais à Grécia. Decisivo o papel da Alemanha que deve decidir quanto está disposta a gastar.
Os investidores compreenderam que a Irlanda e Portugal não conseguem reerguer-se da crise económica e venderam maciçamente os títulos de Estado destes dois países: agora, ambos pagam 6% de juros, a fim de financiar a própria dívida.
O mais preocupante é que não se vêem compradores no horizonte e que o Banco Central Europeu, sexta-feira, tentou suster o mercado com aquisições substanciosas. Mas o resultado foi escasso.
Um arrepio percorreu a espinha das cancelarias europeias e no palácio do Banco Central, em Frankfurt. Um pensamento atravessou rapidamente a mente dos banqueiros centrais: «Aguentaremos outros dois casos como o da Grécia, na Europa?»
[…] O Primeiro-Ministro português tem grandes dificuldades em fazer aprovar o Orçamento de Estado para 2011 (ontem, chegou a ameaçar a sua demissão).
A Irlanda continua a dizer que não tem necessidade de dinheiro, mas cada duas semanas anuncia uma nova emissão obrigacionária com juros estratosféricos. A credibilidade destes dois países chegou a mínimos históricos e arrisca contagiar, irremediavelmente, a credibilidade dos países vizinhos e da própria Europa. (o negrito é meu)
[…] A Alemanha poderia chegar à conclusão que uma qualquer intervenção seria apenas uma perda de dinheiro e que seria muito mais oportuno, para a Europa, dotar-se de um procedimento de insolvência comandada. Estabelecer uma ordem, isto é, criar regras que consintam a um Estado de falir sem envolver, na sua queda, o inteiro Continente.
É uma solução sugerida frequentemente pelos analistas dos grandes bancos alemães. Os mesmos bancos que, aproveitando o optimismo infuso no mercado pelos esbanjadores do BCE, venderam os títulos de Estado dos países em crise e compraram os títulos mais sólidos alemães.
A Alemanha está pronta para descarregar os pequenos (e os grandes) países europeus sem temer repercussões catastróficas sobre a própria economia. […]
Em conclusão, para a Alemanha, a Europa serve enquanto sorvedouro dos seus produtos e plataforma para os únicos e exclusivos interesses da sua economia. Será assim?
Por onde andará o espírito europeísta dos grandes dirigentes alemães que precederam Ângela Merkel?
O artigo prossegue, ocupando-se da situação económica italiana. Também não navega em águas tranquilas.
Não me agradou absolutamente nada!
Não porque diga mentiras, mas porque pôs a nu o que, no exterior, pensam do nosso estado financeiro. Mas é como digo: enquanto em Lisboa se discute, o País afunda.
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“Caminhando para o apocalipse da dívida portuguesa”
Nos mercados, Lisboa e Dublin assemelham-se cada vez mais à Grécia. Decisivo o papel da Alemanha que deve decidir quanto está disposta a gastar.
Os investidores compreenderam que a Irlanda e Portugal não conseguem reerguer-se da crise económica e venderam maciçamente os títulos de Estado destes dois países: agora, ambos pagam 6% de juros, a fim de financiar a própria dívida.
O mais preocupante é que não se vêem compradores no horizonte e que o Banco Central Europeu, sexta-feira, tentou suster o mercado com aquisições substanciosas. Mas o resultado foi escasso.
Um arrepio percorreu a espinha das cancelarias europeias e no palácio do Banco Central, em Frankfurt. Um pensamento atravessou rapidamente a mente dos banqueiros centrais: «Aguentaremos outros dois casos como o da Grécia, na Europa?»
[…] O Primeiro-Ministro português tem grandes dificuldades em fazer aprovar o Orçamento de Estado para 2011 (ontem, chegou a ameaçar a sua demissão).
A Irlanda continua a dizer que não tem necessidade de dinheiro, mas cada duas semanas anuncia uma nova emissão obrigacionária com juros estratosféricos. A credibilidade destes dois países chegou a mínimos históricos e arrisca contagiar, irremediavelmente, a credibilidade dos países vizinhos e da própria Europa. (o negrito é meu)
[…] A Alemanha poderia chegar à conclusão que uma qualquer intervenção seria apenas uma perda de dinheiro e que seria muito mais oportuno, para a Europa, dotar-se de um procedimento de insolvência comandada. Estabelecer uma ordem, isto é, criar regras que consintam a um Estado de falir sem envolver, na sua queda, o inteiro Continente.
É uma solução sugerida frequentemente pelos analistas dos grandes bancos alemães. Os mesmos bancos que, aproveitando o optimismo infuso no mercado pelos esbanjadores do BCE, venderam os títulos de Estado dos países em crise e compraram os títulos mais sólidos alemães.
A Alemanha está pronta para descarregar os pequenos (e os grandes) países europeus sem temer repercussões catastróficas sobre a própria economia. […]
Em conclusão, para a Alemanha, a Europa serve enquanto sorvedouro dos seus produtos e plataforma para os únicos e exclusivos interesses da sua economia. Será assim?
Por onde andará o espírito europeísta dos grandes dirigentes alemães que precederam Ângela Merkel?
O artigo prossegue, ocupando-se da situação económica italiana. Também não navega em águas tranquilas.
Alda M. Maia
3 Comments:
Olá D. Alda! Viva! Viva!
Pois depois de ler este texto só "me" pergunto porque é que a D. Alda ainda não mudou para o Bloco de Esquerda? :)
Áparte propaganda:
... Por mais que os "nossos moderados" (os centrões) me expliquem, eu continuo sem perceber como é que querem "salvar" o país retirando rendimento aos portugueses (à generalidade, já se vê, NUNCA aos mais ricos) e ao mesmo tempo aumentando o custo de vida... Por mais que me expliquem os ditos entendidos, eu não percebo.
Agora, e passo a publicidade: de economia percebe o Louçã... que diz umas coisas muito mais acertadas.
Um grande beijinho
Viva, Sra. Dona Teresinha
Tive de repetir o que já tinha escrito, pois houve empecilho na publicação da minha resposta.
Repitamos.
Renovo as minhas desculpas de só hoje responder ao teu sempre bem-vindo comentário. Conforme te expliquei de viva voz, estive toda a semana, isto é, a maior parte do tempo fora de casa.
E agora respondamos á tua provocação, senhora "Bloquista" desencaminhadora.
Se leres o que colocarei no meu recanto da treta, verás que sou inimiga dos vira-casacas.
De resto, conheces bem a minha posição: "sentada no centro, mas bem virada para a esquerda".
Relativamente aos sacrifícios, haveria ainda tantos ramos onde podar; tantas mordomias a abater. Aguardemos.
Diz ao teu amigo Louçã que fale menos... Ai, ai, que agora é que te zangas mesmo comigo!
Um beijinho
Alda
D. Alda,
Mudar não significa necessariamente virar-casacas. Se percebemos que aqueles em que acreditávamos nos defraudaram... o melhor mesmo é dar uma reviravolta… aliás, aqueles que dizem defender a esquerda que eu sei que a D. Alda defende, não são certamente aqueles que “agora” estão empoleirados no pedestal.
E quanto ao meu amigo… bem, se já poucos o ouvem, se ele se calasse então é que era uma desgraça. Aos poucos e poucos, as pessoas vão percebendo que “ainda bem que ele fala”.
Um grande beijinho.
… pois nunca seria por uma coisa destas que me zangaria… gosto de debater ideias com respeito.
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