segunda-feira, setembro 13, 2010

UMA FOTO MAIS ELUCIDATIVA QUE O MELHOR TEXTO
.

Paquistão. The Guardian - foto de Mohammad Sajjad
*
Neste nosso planeta, ainda se ouvem os ecos da última tragédia e já outra se precipita com maior intensidade de mortes, destruição, desespero. E de tragédia em tragédia, embora a solidariedade geral se ponha imediatamente em movimento, a desolação não tem fim. Mas depressa é esquecida por quem dela não foi atingido, ou vive longe!

A foto acima reproduzida esclarece bem as consequências das recentes inundações no Paquistão, onde milhões de pessoas tudo perderam, inclusive a esperança de um futuro próximo menos dramático.

Faço um resumo do que li sobre a história desta fotografia.
Foi tirada no dia 31 de Agosto pelo fotógrafo da “Associated Press”, Mohammed Sajjad, e imediatamente adquiriu um grande relevo.
The Guardian publicou-a juntamente com um artigo de Rania Abouzeid, enviada deste jornal britânico, que partira em busca das crianças e respectiva família.

Os jornais de referência italianos deram-lhe amplo relevo. No quotidiano português que leio regularmente, o Público, nada encontrei. Não sei se os demais jornais portugueses lhe dedicaram algum espaço.

Numa confusão de tendas ao longo de uma estrada em Azakhel, a 30 quilómetros de Peshawar, a jornalista Rania Abouzeid encontrou a família dos meninos que vemos cobertos de moscas e deitados numa manta esfarrapada: a mãe Fátima, o pai Aslam Khan e oito filhos com menos de nove anos.
Os dois meninos em primeiro plano – imagem comovente e enternecedora - são gémeos, dois anos, e chamam-se, respectivamente, Reza e Mahmoud.

Gostaria que a foto deste quadro tão comovente – as moscas, o menino com o biberão vazio - fosse publicada nas primeiras páginas dos jornais mais famosos ou mais lidos, a fim de que esta tragédia não seja vista indiferentemente como mais uma das tantas, e a solidariedade humana não esmoreça.

Naquela espécie de acampamento cujas tendas foram doadas por várias organizações, vivem 19 famílias, todas de refugiados afegãos. E nisto vemos o encarniçamento da má fortuna: antes, escapando do clima de guerra do próprio país, o Afeganistão; agora, desalojados e fugindo da fúria das águas.

O acampamento, depois dos primeiros socorros, foi deixado a si mesmo e aquela pobre gente, duplamente infeliz, vive à espera que alguém, passando pela estrada, lhes deixe com que alimentar-se.

Não há quase nada naquelas tendas. No ar quente e húmido o mau cheiro dos excrementos humanos e de animais é insuportável. Não existem serviços higiénicos, somente buracos pouco profundos, escavados ao ar livre, que atraem mosquitos e moscas. Estas invadiram as poucas esteiras que cobrem o chão e agridem as crianças.”

O título do artigo de The Guardian exprime bem a tragédia que a foto denuncia: “Atrás da fotografia: a face humana das terríveis inundações do Paquistão”.

A mãe dos meninos, Fátima, explicou: “Hoje não comeram nada. Não tenho nada que dar-lhes”. Estamos aqui há já um mês. Estamos cansados destas moscas e da falta de alimentos. Antes das chuvas, o meu marido trabalhava. Éramos pobres, mas com a barriga cheia. Apontando o filho Reza, acrescentou: Está a chorar com fome. Há um mês que não temos uma gota de leite

****

Porquê as crianças?! E porquê os mais desprotegidos? E porquê tudo!
Alda M. Maia

1 Comments:

At 10:09 da tarde, Blogger Manuela Araújo said...

Olá D.Alda

A injustiça deve ser o que mais abunda neste planeta! Que culpa têm as crianças? E que culpa têm a maioria dos adultos? Mesmo que tenham alguma, são sempre os que menos têm culpa que pagam os infortúnios! Estes desacatos da natureza cada vez são mais devastadores e frequentes. E um mundo desgovernado, com tanta riqueza desperdiçada nos bolsos de meia dúzia, não tem "vontade2 suficiente para ajudar devidamente. Porque se houvesse vontade política, o sofrimento poderia pelo menos ser minorado.
Honremos pois aqueles que dão o corpo ao manifesto e se deslocam a paragens longínquas onde a desgraça parece interminável, para ajudar uma parte das vítimas.

Eu proponho que ninguém no mundo possa ser candidato a qualquer cargo político sem ter passado pelo menos seis meses a prestar auxílio humanitário. Será que mundo não melhoraria?
Estou convencida que sim! Por isso, pela primeira vez em muitos anos vou votar com convicção, no Dr. Fernando Nobre.

Gostei muito do seu texto.

Beijinhos

 

Enviar um comentário

<< Home