CRER OU NÃO CRER, EIS A QUESTÃO
Agora que a euforia nacional e a bebedeira de entusiasmo passaram, são inevitáveis os tais pensamentos vagabundos que giram à volta de tantos temas atinentes á visita do Papa.
Que o entusiasmo dos crentes sinceros ou daquela beatice irritante que abunda no nosso País se tivessem manifestado, nada vejo de anómalo, muito menos criticável. Vivemos num Estado laico, mas com uma religião predominante que é o catolicismo.
Houve exageros que nada tem que ver com o aspecto religiosa, mas sim com certos aparatos e ostentações que poderiam ter sido reduzidos a uma forma mais simples, mais sugestiva.
Mas não é sobre estas facetas da visita papal que desejo exprimir-me. O que cativou mais a minha atenção, aliás como sempre me acontece, é a fé comovente dos milhares de crentes que se dirigem a Fátima.
Podemos crer ou não crer. Podemos alimentar dúvidas ou perplexidades. São problemas ou estados de alma muito legítimos em qualquer pessoa. O que não merece a minha simpatia é o modo desdenhoso como certos agnósticos, ou ateus de trazer por casa, comentam ou analisam estas manifestações religiosas.
O agnosticismo nega à inteligência humana a capacidade de entender o absoluto, as questões transcendentes; os ateus negam a existência de Deus. Até aqui, aceitam-se e compreendem-se essas posições.
São absolutamente legítimas e aceitáveis, quando expostas como entendimentos pessoais honestos, conhecedores e meditados. Passam a ser irritantes e ofensivas, quando apresentadas como verdades irrefutáveis – frequentemente por semi-ignorantes – reforçadas com profundo desdém por quem assim não pensa ou cultiva uma fé religiosa. São estas últimas atitudes que desprezo e não suporto.
Posso não compartilhar o empenho de quem vai a Fátima com fervor e esperança; nunca posso evitar, nem quero, o respeito e enternecimento que me merecem.
Num blogue italiano foi publicado um cartoon sobre a visita do papa a Portugal. Nele está desenhada uma flor de papoila. Em italiano chama-se “papavero” (papávero); decompondo a palavra, ficaria “papa vero” (papa verdadeiro).
À papoila foi acrescentada a seguinte legenda: “Foi a Turim rezar diante de um falso. Veio a Fátima rezar sobre uma «lenda metropolitana». Como me agradaria ser um papa verdadeiro”.
«Leggenda Metropolitana” - Lenda metropolitana: conto ou notícia de dúbia veracidade, ampliada pelos meios de comunicação; invenção, mentira… galga.
Ao cartoon desse post deixaram o seguinte comentário: “A opinião da papoila é válida como qualquer outra. Todavia, há um «mas»: quando naquela “lenda metropolitana” crêem milhões e milhões de pessoas, a ironia poderia dar lugar ao respeito. Questão de bom gosto”.
O comentário mereceu a resposta, não do autor, mas de uma senhora participante desse blogue colectivo: “Milhões de pessoas acreditavam que existiam as bruxas e ficavam satisfeitas de as verem queimadas”.
Concluindo: crer nas aparições de Fátima é o mesmo que ter acreditado que havia bruxas e que deveriam ser imoladas na fogueira. Decididamente, a cristandade não evoluiu mesmo nada!... Ou será a petulância de quem é ateu - frequentemente ostentada como atitude superior – que de tudo faz uma indigesta caldeirada?
Mas ponhamos de parte ironias. A senhora esqueceu a era em que vivemos e as sacrossantas liberdades que nos são garantidas, uma das quais é a liberdade de culto, de religião. Esqueceu, ou ignora, que ouve o Iluminismo que procurou varrer obscurantismos.
O mundo evoluiu. Nos tempos de hoje, as manifestações de fé sincera e jamais fruto de beatice hipócrita, repito, merecem absoluto respeito. Este é o cerne da questão e que a tal senhora das bruxas não soube individuar. É normal, em muitos blogues.
Já que falamos de evolução – insisto neste assunto - seria tempo que a Igreja Católica sacudisse ou arejasse princípios rígidos sobre certas matérias a que o ex-cardeal de Milão, Carlo Maria Martini, chamou “males menores”; logo, discutíveis nos tempos hodiernos.
Quando assim se exprimia, referia-se ao divórcio, às uniões legalizadas de homossexuais e outros problemas que o Vaticano não aceita considerar.
Bento XVI pensa diversamente. Numa das suas homilias em Portugal, de novo quis mencionar os valores “não negociáveis”.
Seria auspicioso que estes homens do Vaticano reformassem as mentalidades de quem olha o resto da humanidade do alto da cadeira gestatória. Esta é já objecto de museu. Caridade e humildade nunca foram contraproducentes no ministério das hierarquias: só dignificariam e revigorariam toda e qualquer autoridade eclesiástica.
****
Daria um conselho a quem defende o “casamento homossexual”. Deixem de usar a palavra casamento e usem a expressão “união legalizada” ou algo equivalente. É aquele vocábulo, casamento, que cria perplexidades e confusões.
Agora que a euforia nacional e a bebedeira de entusiasmo passaram, são inevitáveis os tais pensamentos vagabundos que giram à volta de tantos temas atinentes á visita do Papa.
Que o entusiasmo dos crentes sinceros ou daquela beatice irritante que abunda no nosso País se tivessem manifestado, nada vejo de anómalo, muito menos criticável. Vivemos num Estado laico, mas com uma religião predominante que é o catolicismo.
Houve exageros que nada tem que ver com o aspecto religiosa, mas sim com certos aparatos e ostentações que poderiam ter sido reduzidos a uma forma mais simples, mais sugestiva.
Mas não é sobre estas facetas da visita papal que desejo exprimir-me. O que cativou mais a minha atenção, aliás como sempre me acontece, é a fé comovente dos milhares de crentes que se dirigem a Fátima.
Podemos crer ou não crer. Podemos alimentar dúvidas ou perplexidades. São problemas ou estados de alma muito legítimos em qualquer pessoa. O que não merece a minha simpatia é o modo desdenhoso como certos agnósticos, ou ateus de trazer por casa, comentam ou analisam estas manifestações religiosas.
O agnosticismo nega à inteligência humana a capacidade de entender o absoluto, as questões transcendentes; os ateus negam a existência de Deus. Até aqui, aceitam-se e compreendem-se essas posições.
São absolutamente legítimas e aceitáveis, quando expostas como entendimentos pessoais honestos, conhecedores e meditados. Passam a ser irritantes e ofensivas, quando apresentadas como verdades irrefutáveis – frequentemente por semi-ignorantes – reforçadas com profundo desdém por quem assim não pensa ou cultiva uma fé religiosa. São estas últimas atitudes que desprezo e não suporto.
Posso não compartilhar o empenho de quem vai a Fátima com fervor e esperança; nunca posso evitar, nem quero, o respeito e enternecimento que me merecem.
Num blogue italiano foi publicado um cartoon sobre a visita do papa a Portugal. Nele está desenhada uma flor de papoila. Em italiano chama-se “papavero” (papávero); decompondo a palavra, ficaria “papa vero” (papa verdadeiro).
À papoila foi acrescentada a seguinte legenda: “Foi a Turim rezar diante de um falso. Veio a Fátima rezar sobre uma «lenda metropolitana». Como me agradaria ser um papa verdadeiro”.
«Leggenda Metropolitana” - Lenda metropolitana: conto ou notícia de dúbia veracidade, ampliada pelos meios de comunicação; invenção, mentira… galga.
Ao cartoon desse post deixaram o seguinte comentário: “A opinião da papoila é válida como qualquer outra. Todavia, há um «mas»: quando naquela “lenda metropolitana” crêem milhões e milhões de pessoas, a ironia poderia dar lugar ao respeito. Questão de bom gosto”.
O comentário mereceu a resposta, não do autor, mas de uma senhora participante desse blogue colectivo: “Milhões de pessoas acreditavam que existiam as bruxas e ficavam satisfeitas de as verem queimadas”.
Concluindo: crer nas aparições de Fátima é o mesmo que ter acreditado que havia bruxas e que deveriam ser imoladas na fogueira. Decididamente, a cristandade não evoluiu mesmo nada!... Ou será a petulância de quem é ateu - frequentemente ostentada como atitude superior – que de tudo faz uma indigesta caldeirada?
Mas ponhamos de parte ironias. A senhora esqueceu a era em que vivemos e as sacrossantas liberdades que nos são garantidas, uma das quais é a liberdade de culto, de religião. Esqueceu, ou ignora, que ouve o Iluminismo que procurou varrer obscurantismos.
O mundo evoluiu. Nos tempos de hoje, as manifestações de fé sincera e jamais fruto de beatice hipócrita, repito, merecem absoluto respeito. Este é o cerne da questão e que a tal senhora das bruxas não soube individuar. É normal, em muitos blogues.
Já que falamos de evolução – insisto neste assunto - seria tempo que a Igreja Católica sacudisse ou arejasse princípios rígidos sobre certas matérias a que o ex-cardeal de Milão, Carlo Maria Martini, chamou “males menores”; logo, discutíveis nos tempos hodiernos.
Quando assim se exprimia, referia-se ao divórcio, às uniões legalizadas de homossexuais e outros problemas que o Vaticano não aceita considerar.
Bento XVI pensa diversamente. Numa das suas homilias em Portugal, de novo quis mencionar os valores “não negociáveis”.
Seria auspicioso que estes homens do Vaticano reformassem as mentalidades de quem olha o resto da humanidade do alto da cadeira gestatória. Esta é já objecto de museu. Caridade e humildade nunca foram contraproducentes no ministério das hierarquias: só dignificariam e revigorariam toda e qualquer autoridade eclesiástica.
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Daria um conselho a quem defende o “casamento homossexual”. Deixem de usar a palavra casamento e usem a expressão “união legalizada” ou algo equivalente. É aquele vocábulo, casamento, que cria perplexidades e confusões.
Cria indignação nos bem-pensantes: bem-pensantes interpretáveis, na sua maior parte, como intolerantes enfileirados na coluna dos crentes de fachada.
O crente de coração e alma aborrece princípios que ignoram escolhas angustiantes ou direitos que nada prejudicam os direitos dos demais cidadãos, quer isto entre ou não nos cânones intransigentes da Igreja Católica.
Alda M. Maia
2 Comments:
Esta questão do crer ou não crer em algo que nos transcende quando tentamos explicações racionais e mesmo científicas é muito complexa. E quem melhor se consegue exprimir em termos tão claros como a Alda!
A verdade é que nos esquecemos com demasiada frequência que a Vida é um mistério insondável por mais descobertas que o Homem vá fazendo. O tempo passa, o Homem tenta encontrar explicações racionais para tudo e vai, de facto, dando alguns passos.
O fulcro da questão é que à medida que vamos conseguindo obter novas explicações logo outras e múltiplas interrogações são colocadas à capacidade racional do Homem. E entramos num ciclo infinito.
Será que algum dia virá em que o Homem consiga explicar tudo o que agora se nos apresenta Inexplicável?
Ou seja, temos que ser tolerantes uns com os outros. Quem terá mais razão? A verdade é que jamais se tratará de uns se julgarem com o pensamento lógico e coerente em contraponto com os que acreditam em eventuais utopias.
E serão mesmo utopias? Quem estará a ser utópico? Nós ou os outros que pensam e agem duma forma diferente da nossa?
Ao fim e ao cabo estamos em face duma questão de bom senso.
Tão simplesmente.
Um abraço
António
Não se preocupem minhas senhoras. As vossas bisnetas ainnda irão usar a Burka. E aí está tudo resolvido. Que pena não ser já agora?
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