"FARSA OU TRAGÉDIA?"
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Juramento dos candidatos da maioria do governo de Berlusconi, na Praça San Giovanni (foto Corriere della Sera)
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É farsa e é tragédia. Mas hoje, comecemos pela farsa.
Grande manifestação de sábado passado, dia 20, em Roma, organizada pelo Governo, com forte motivação eleitoral em vista das eleições regionais, nos próximos dias 28 e 29 deste mês. Foi apresentada, todavia, como uma reacção do “amor contra o ódio”: o amor difundido pelo partido do Governo (PDL – Povo Da Liberdade) contra o ódio dos adversários ou de quem o critica.
Começa a ser estranho que um governo decida manifestar, na praça pública, contra a oposição!
Era necessário, todavia, remediar uma falha relativa ao prazo da apresentação das listas eleitorais, cometida pelos candidatos da maioria de governo, no círculo eleitoral de Roma. Apresentaram-nas no último dia, 27 de Fevereiro, à última hora, mas já fora do horário que as regras determinam.
Foi amplamente reconhecido, pelos próprios interessados, que fora culpa de quem deveria apresentar os documentos, culpa esta derivada das guerras intestinas, relativamente às escolhas de quem deveria figurar nas listas.
Todos os recursos às instâncias que legitimam estas normas foram rejeitados pela magistratura que decide nessas instâncias. As regras devem ser respeitadas, como é lógico que seja.
Em vez de reconhecer o erro, pedir desculpa aos eleitores e concertar com a oposição um modo de remediar a asneira, Berlusconi vira tudo ao contrário, imediatamente seguido pelos acólitos sem dignidade nem opinião própria, e começa a lançar responsabilidades à oposição e aos magistrados, acusando-os de tramar, a fim de roubar-lhes a liberdade de votar.
Uma montanha de disparates. Mas isto já faz parte da tragédia que deixarei para outra ocasião. Fiquemo-nos na farsa.
Começou a descer nas sondagens. Logo, urgia convocar os fiéis na praça, “o lugar físico por excelência da política”.
Escolheu-se um slogan oficial para a esperada gigantesca manifestação: “O amor triunfa sempre sobre a inveja e o ódio”.
Que em política se use esta linguagem de amor, inveja, ódio, quando, neste campo, existem termos e conceitos muito peculiares, é já um bom incentivo para levantar o véu, a fim de descobrir a farsa. E esta não desiludiu!
“Temos um milhão de participantes”: grito de guerra dos organizadores, ante a multidão de Piazza San Giovanni.
A polícia ( a Questura) informou que a soma exacta andava à volta de 150 mil, o que já não era para desprezar – aliás, a organização não poupou nas despesas, segundo os habituais coca-bichinhos!
Indignação dos súbditos do grande Sílvio (Berlusconi, obviamente!...). Esperavam mais de um milhão e um milhão deve ser: como se atreve a polícia a apoucar a multidão dos admiradores?
Mas, pelos vistos, a polícia não se intimidou com os protestos dos senadores servidores do grande chefe e reiterou a avaliação.
A polémica sobre o número dos manifestantes ainda hoje continua e é divertida.
Entremos agora no que poderíamos chamar a parábase da comédia. À hora anunciada, falou o divino - maior que Júlio César, assim rezava um dos cartazes: “Sílvio, és maior que Júlio César”. E ele acredita.
Lá se foram as boas intenções do “partido do amor”!
Grande manifestação de sábado passado, dia 20, em Roma, organizada pelo Governo, com forte motivação eleitoral em vista das eleições regionais, nos próximos dias 28 e 29 deste mês. Foi apresentada, todavia, como uma reacção do “amor contra o ódio”: o amor difundido pelo partido do Governo (PDL – Povo Da Liberdade) contra o ódio dos adversários ou de quem o critica.
Começa a ser estranho que um governo decida manifestar, na praça pública, contra a oposição!
Era necessário, todavia, remediar uma falha relativa ao prazo da apresentação das listas eleitorais, cometida pelos candidatos da maioria de governo, no círculo eleitoral de Roma. Apresentaram-nas no último dia, 27 de Fevereiro, à última hora, mas já fora do horário que as regras determinam.
Foi amplamente reconhecido, pelos próprios interessados, que fora culpa de quem deveria apresentar os documentos, culpa esta derivada das guerras intestinas, relativamente às escolhas de quem deveria figurar nas listas.
Todos os recursos às instâncias que legitimam estas normas foram rejeitados pela magistratura que decide nessas instâncias. As regras devem ser respeitadas, como é lógico que seja.
Em vez de reconhecer o erro, pedir desculpa aos eleitores e concertar com a oposição um modo de remediar a asneira, Berlusconi vira tudo ao contrário, imediatamente seguido pelos acólitos sem dignidade nem opinião própria, e começa a lançar responsabilidades à oposição e aos magistrados, acusando-os de tramar, a fim de roubar-lhes a liberdade de votar.
Uma montanha de disparates. Mas isto já faz parte da tragédia que deixarei para outra ocasião. Fiquemo-nos na farsa.
Começou a descer nas sondagens. Logo, urgia convocar os fiéis na praça, “o lugar físico por excelência da política”.
Escolheu-se um slogan oficial para a esperada gigantesca manifestação: “O amor triunfa sempre sobre a inveja e o ódio”.
Que em política se use esta linguagem de amor, inveja, ódio, quando, neste campo, existem termos e conceitos muito peculiares, é já um bom incentivo para levantar o véu, a fim de descobrir a farsa. E esta não desiludiu!
“Temos um milhão de participantes”: grito de guerra dos organizadores, ante a multidão de Piazza San Giovanni.
A polícia ( a Questura) informou que a soma exacta andava à volta de 150 mil, o que já não era para desprezar – aliás, a organização não poupou nas despesas, segundo os habituais coca-bichinhos!
Indignação dos súbditos do grande Sílvio (Berlusconi, obviamente!...). Esperavam mais de um milhão e um milhão deve ser: como se atreve a polícia a apoucar a multidão dos admiradores?
Mas, pelos vistos, a polícia não se intimidou com os protestos dos senadores servidores do grande chefe e reiterou a avaliação.
A polémica sobre o número dos manifestantes ainda hoje continua e é divertida.
Entremos agora no que poderíamos chamar a parábase da comédia. À hora anunciada, falou o divino - maior que Júlio César, assim rezava um dos cartazes: “Sílvio, és maior que Júlio César”. E ele acredita.
Lá se foram as boas intenções do “partido do amor”!
Ferozes ataques e acusações sem limites aos inimigos que constituem uma verdadeira obsessão para o "Júlio César" inimigo das regras: a esquerda e a magistratura.
Resumindo, uma oposição que é um desastre para a Itália e que só ele é capaz de salvar o País (até prometeu que, nestes últimos três anos da legislatura, encontrariam solução para o cancro); uma magistratura comunista e politizada. E sendo a magistratura outra peste que assola a Itália, interroga a multidão: “Acham que isto é uma coisa aceitável, numa democracia?”
Resumindo, uma oposição que é um desastre para a Itália e que só ele é capaz de salvar o País (até prometeu que, nestes últimos três anos da legislatura, encontrariam solução para o cancro); uma magistratura comunista e politizada. E sendo a magistratura outra peste que assola a Itália, interroga a multidão: “Acham que isto é uma coisa aceitável, numa democracia?”
Estes diabos de magistrados têm o péssimo hábito de levar os divinos a tribunal e julgá-los. Como se atrevem? Haja temor e respeito!...
E chegamos á fase culminante do show do divino Berlusconi. Chamou ao palco os candidatos da maioria de governo. Apresentou-os um a um, descrevendo o respectivo perfil político e humano com altos panegíricos. Em seguida, o grande chefe, por assim dizer, nomeou-os cavaleiros.
Apresentou-lhes uma espécie de “oração / juramento”, classificado como “Pacto pela Itália”, articulado em várias promessas. Com a arte de consumado actor, declarou: “Nomeio-vos missionários da verdade e da liberdade para ir convencer quem ainda não está convencido, quem lê somente os jornais da esquerda”.
Os candidatos, obedientemente e em coro, prestaram juramento: “Eu, perante este povo que representa todos os moderados, em nome da liberdade, assumo solenemente o empenho de realizar todos os pontos do pacto pela Itália” - ver foto acima reproduzida.
Comentários a toda esta teatralidade, que não hesito a classificar ridícula e até humilhante para os candidatos - embora estes tivessem colaborado ponderosa e voluntariamente na comédia – entendo que sejam desnecessários.
Alda M. Maia
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