OS VALORES NEGOCIÁVEIS DOS HOMENS DO VATICANO
Até uma dato muito recente, as hierarquias católicas não se cansavam de reiterar os valores irrenunciáveis, defendidos pela Igreja e descritos como “não negociáveis”: “a sacralidade da vida humana; o concebimento até à morte natural; a família fundada sobre o matrimónio entre um homem e uma mulher”.
Quanto aos demais valores, cultiva-se o silêncio ou se divaga sobre os preceitos morais que devem orientar a vida dos cidadãos.
Este fim-de-semana, dia 28 e 29, efectuam-se as eleições regionais na Itália. No passado dia 26, a uma semana do acto eleitoral, em reunião da Conferência Episcopal Italiana, o presidente entendeu dar grande relevo à questão do aborto e, portanto, achou-se no direito de dar indicações de voto.
O Vaticano não tolera que na Itália exista uma lei sobre este delicado tema. Se era crime, crime deve restar. Entende também que a política italiana se deve subordinar aos seus ditames.
A chamada "lei 194" sobre a interrupção voluntária da gravidez, muito equilibrada (“somente por motivos muito graves”), foi aprovada em Maio de 1978. Em 1981, os italianos confirmaram-na com um voto referendário: dois actos legislativos que deveriam fazer reflectir as hierarquias eclesiásticas.
A candidata da oposição para a região Lácio, Emma Bonino (a ex-comissária da EU), sempre se bateu pela promulgação de uma lei que regularizasse a IVG, meio eficaz de acabar com a praga dos abortos clandestinos. Logo, a Conferência Episcopal tinha, no momento actual, de enviar uma mensagem clara contra esta candidata, aconselhando os católicos a “enquadrar com muita atenção quem deveriam votar”.
E para que não houvesse dúvidas, o jornal dos bispos – L’Avvenire - ainda foi mais explícito: “Estão em campo protagonistas de uma ostentada militância pró-aborto: Emma Bonino”.
Até uma dato muito recente, as hierarquias católicas não se cansavam de reiterar os valores irrenunciáveis, defendidos pela Igreja e descritos como “não negociáveis”: “a sacralidade da vida humana; o concebimento até à morte natural; a família fundada sobre o matrimónio entre um homem e uma mulher”.
Quanto aos demais valores, cultiva-se o silêncio ou se divaga sobre os preceitos morais que devem orientar a vida dos cidadãos.
Este fim-de-semana, dia 28 e 29, efectuam-se as eleições regionais na Itália. No passado dia 26, a uma semana do acto eleitoral, em reunião da Conferência Episcopal Italiana, o presidente entendeu dar grande relevo à questão do aborto e, portanto, achou-se no direito de dar indicações de voto.
O Vaticano não tolera que na Itália exista uma lei sobre este delicado tema. Se era crime, crime deve restar. Entende também que a política italiana se deve subordinar aos seus ditames.
A chamada "lei 194" sobre a interrupção voluntária da gravidez, muito equilibrada (“somente por motivos muito graves”), foi aprovada em Maio de 1978. Em 1981, os italianos confirmaram-na com um voto referendário: dois actos legislativos que deveriam fazer reflectir as hierarquias eclesiásticas.
A candidata da oposição para a região Lácio, Emma Bonino (a ex-comissária da EU), sempre se bateu pela promulgação de uma lei que regularizasse a IVG, meio eficaz de acabar com a praga dos abortos clandestinos. Logo, a Conferência Episcopal tinha, no momento actual, de enviar uma mensagem clara contra esta candidata, aconselhando os católicos a “enquadrar com muita atenção quem deveriam votar”.
E para que não houvesse dúvidas, o jornal dos bispos – L’Avvenire - ainda foi mais explícito: “Estão em campo protagonistas de uma ostentada militância pró-aborto: Emma Bonino”.
Abstraindo que esta senhora convença ou não convença politicamente, considero este género de ataques uma verdadeira indecência.
No meio da tempestade que actualmente abala a dignidade da Igreja Católica, fico surpreendida com a falta de bom senso destes cardeais que tudo fazem para não auscultar o sentir das gentes.
Alcandoram-se nas suas certezas dos valores irrenunciáveis, na sua indiscutível autoridade espiritual – assim o pensam - quando apenas ostentam hipocrisia e sensibilidades embotadas, perante a humanidade real que as rodeia.
As violências sexuais contra as crianças, além de outras violências não menores, se são repugnantes no mundo civil, no seio da Igreja soma-se repugnância a repugnância. Mas, aqui, entramos no campo dos valores negociáveis!...
Não estou muito de acordo com os ataques a Bento XVI. Vejo, no New York Times, uma insistência na culpabilidade de Ratzinger, embora aceitem algumas dúvidas, que me deixa perplexa. Aonde querem chegar? À informação pela informação, o que é muito justo, ou miram outros propósitos?
Deveriam conhecer melhor a mentalidade dos homens do Vaticano. A Igreja é infalível, isto é, as hierarquias que a guiam. Logo, tudo se processa, conscientemente, dentro de normas internas que não dêem azo a exautorações ou desprestígio do poder que representa ou representam.
Para os advogados americanos, este drama da pedofilia clerical tem sido uma grande fonte de negócios; mal para as dioceses, mas justamente, que ficaram com as finanças exangues, devendo indemnizar as vítimas.
Como as indemnizações estabelecidas pelos tribunais, segundo a Comon Law, permite aos advogados dividí-las a meio com a vítima, há uma grande procura de adultos que foram abusados. E se o abusador já morreu, melhor ainda para esse género de caçador de causas - assim se exprime o escritor Vittorio Messori. Não me custa acreditar.
No meio da tempestade que actualmente abala a dignidade da Igreja Católica, fico surpreendida com a falta de bom senso destes cardeais que tudo fazem para não auscultar o sentir das gentes.
Alcandoram-se nas suas certezas dos valores irrenunciáveis, na sua indiscutível autoridade espiritual – assim o pensam - quando apenas ostentam hipocrisia e sensibilidades embotadas, perante a humanidade real que as rodeia.
As violências sexuais contra as crianças, além de outras violências não menores, se são repugnantes no mundo civil, no seio da Igreja soma-se repugnância a repugnância. Mas, aqui, entramos no campo dos valores negociáveis!...
Não estou muito de acordo com os ataques a Bento XVI. Vejo, no New York Times, uma insistência na culpabilidade de Ratzinger, embora aceitem algumas dúvidas, que me deixa perplexa. Aonde querem chegar? À informação pela informação, o que é muito justo, ou miram outros propósitos?
Deveriam conhecer melhor a mentalidade dos homens do Vaticano. A Igreja é infalível, isto é, as hierarquias que a guiam. Logo, tudo se processa, conscientemente, dentro de normas internas que não dêem azo a exautorações ou desprestígio do poder que representa ou representam.
Para os advogados americanos, este drama da pedofilia clerical tem sido uma grande fonte de negócios; mal para as dioceses, mas justamente, que ficaram com as finanças exangues, devendo indemnizar as vítimas.
Como as indemnizações estabelecidas pelos tribunais, segundo a Comon Law, permite aos advogados dividí-las a meio com a vítima, há uma grande procura de adultos que foram abusados. E se o abusador já morreu, melhor ainda para esse género de caçador de causas - assim se exprime o escritor Vittorio Messori. Não me custa acreditar.
Com estes últimos comentários não quero minimizar o drama que agora explodiu com maior e mais dilatada ressonância.
No dia 26, L’Osservatore Romano publicou, em italiano, um documento da Congregação para a Doutrina da Fé de 18 de Maio 2001 – Ad exsequendam ecclesiasticam legem – endereçada a toda a hierarquia católica acerca das normas sobre os delitos mais graves, nos quais se incluem “delitos contra a moral (…) delitos cometidos por um clérigo com um menor abaixo dos 18 anos”.
Está bem um direito canónico para os “delitos contra a santidade dos sacramentos” e quejandos. Aplicá-lo a crimes bem terrestres, qual é a pedofilia, ocultando os factos às autoridades civis, como fizeram até hoje, embora em nome do prestígio da Igreja, não será “A estrada errada do direito canónico”, como bem argumentou um editorial do jornal La Stampa?
Aceitemos as grandes penitências aos clérigos afectos do nojento pecado da pedofilia – neste âmbito, chamemos-lhe pecado! Todavia, após a comprovação destes delitos, seria correcto e de pura justiça entregarem-nos imediatamente aos tribunais dos países onde estes crimes foram perpetrados. Eis no que a Igreja falhou.
Não seria mais que tempo de pôr de lado concepções medievais sobre a sexualidade e encará-la com naturalidade e maturidade?
Não seria tempo de pôr fim à falta de transparência no que decidem nas altas esferas?
Sempre invocam a humildade, porém, dentro do Vaticano, onde a poderíamos encontrar?
Como se justificam declarações drásticas e despóticas de certos cardeais – e o nosso Saraiva Martins faz-se notar – sobre problemas humanos e acerca dos quais apenas assimilaram preceitos que a Igreja determinou fossem rígidos e irrenunciáveis?
Quem sabe se estas alargadas censuras e ataques hodiernos à Igreja Católica não se transformem naquela onda revolucionária que abrirá portas a tantos problemas que a Igreja sempre se negou a tomar em consideração e conduzi-la a resolver e enfrentar situações que só a humanizariam?
Se assim for, bem venha o “tsunami"!
Alda M. Maia
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