AS PARCAS DA VIDA FINANCEIRA DAS NAÇÕES
Do muito que procuro ler sobre esta famigerada crise, pois entendo, obviamente, que a boa informação é indispensável para melhor compreendermos a dimensão das tempestades económicas e financeiras que nos vergastam, o factor que sempre me indigna é a autoridade assumida pelas agências de notação financeira.
Não porque se tornou de moda atribuir-lhes todas as culpas, mas porque, paralelamente à péssima actuação europeia, são a causa primária de tantos problemas para as dívidas soberanas.
Passei a assemelhá-las às fatídicas três Parcas: Cloto, Láquesis, Átropos.
A Standard & Poor’s atribuo-lhe o papel de Átropos, a parca que corta o fio da vida. Nestas circunstâncias, porém, corta o fio da esperança das nações endividadas, em luta contra as exorbitantes taxas de juros.
Do muito que procuro ler sobre esta famigerada crise, pois entendo, obviamente, que a boa informação é indispensável para melhor compreendermos a dimensão das tempestades económicas e financeiras que nos vergastam, o factor que sempre me indigna é a autoridade assumida pelas agências de notação financeira.
Não porque se tornou de moda atribuir-lhes todas as culpas, mas porque, paralelamente à péssima actuação europeia, são a causa primária de tantos problemas para as dívidas soberanas.
Passei a assemelhá-las às fatídicas três Parcas: Cloto, Láquesis, Átropos.
A Standard & Poor’s atribuo-lhe o papel de Átropos, a parca que corta o fio da vida. Nestas circunstâncias, porém, corta o fio da esperança das nações endividadas, em luta contra as exorbitantes taxas de juros.
Se, pelo contrário, o fim principal é a morte do euro, S&P (Átropos) está a executar bem a incumbência, se lho permitirem.
Assim, é com redobrado interesse que leio os artigos e análises que condenam, usando argumentos válidos, estes mercenários da avaliação.
Permito-me transcrever algumas partes de um excelente artigo de Federico Rampini, enviado especial do jornal La Repubblica nos Estados Unidos, escritor, um currículo académico consistente, autor de análises e artigos de grande interesse.
Título do artigo: “Os Senhores do rating que desclassificam as nações”
“O endereço é 250 Greenwich Street, a dois passos de Ground Zero.
Aqui, no vigésimo andar do arranha-céus de Moody’s, o visitador é recebido por uma placa de ouro: «Crédito. A confiança do homem no homem».
Artur Cifuentes, ex-dirigente de Moody’s, pensa diversamente. Hoje define «uma vergonha o modo como as agências de notação financeira estabelecem as suas tabelas sobre o crédito, os votos de solvibilidade».
Eric Kolchinsky, também ele dirigente arrependido de Moody’s, pronuncia a palavra «fraude».
Frank Raiter, que trabalhou para Standard & Poor’s, fala de oligopólio que acumula lucros, graças ao papel de árbitro»
(…) «Esta é gente que distribui passaportes falsos», segundo Paul McCully, de PIMCO, o maior fundo de investimento mundial e títulos de Estado.
Eis-nos no universo das agências de rating: desacreditadas, vituperadas pelo papel infame que tiveram na última crise financeira. Todavia, mais potentes do que nunca.
Quarta-feira, foi suficiente que Standard & Poor’s desclassificasse a dívida espanhola para fazer cair o euro, precipitando os mercados na falta de confiança e levando Barack Obama a telefonar a Ângela Merkel, a fim de convencer a Alemanha a pôr de lado vetos sobre as ajudas à Grécia.
O governador do banco central austríaco, Ewald Nowotny, protestou que «é inaceitável que o destino da Europa dependa do juízo de uma agência de notação financeira».
Vejamos o que escreve o famoso economista Paul Krugman (Nobel 2008 de Ciências Económicas), num artigo onde denuncia o comportamento indecente das agências de rating.
(…) As agências de rating iniciaram as suas actividades, ocupando-se de investigações sobre os mercados e tornando disponíveis, a pagamento, avaliações sobre posições de dívidas societárias.
De todas as maneiras, por fim transformaram-se em algo completamente diverso.
(…) A subcomissão do Senado concentrou as próprias investigações nas duas agências de rating mais importantes, Moody’s e Standard & Poor’s. O que trouxe à superfície confirma as nossas piores suspeitas.
Numa mensagem de correio electrónico, por exemplo, um empregado de S&P explica que um certo encontro torna-se indispensável «para discutir os critérios de ajustamento», necessários para avaliar os títulos garantidos da propriedade imobiliária, dado o perigo actual da perda de contratos.
Noutra mensagem, o remetente lamenta-se de dever falsificar as cifras dos subprime e das letras A, a fim de tutelar as quotas de mercado.
É evidente que as agências de rating distorceram as suas avaliações, no sentido de contentar os clientes.
****
Não quero justificar ou absolver a “finança alegre”, despesista e irresponsável, como muitos governos administram a finança pública; não quero diminuir a grave responsabilidade da acção política europeia e a dos países singulares; não quero ignorar a mediocridade dos dirigentes políticos europeus; neste aspecto, o panorama é desolador.
Se as agências de rating emanam sentenças do alto da cátedra, é porque encontraram, na União Europeia, um “far west” adequado, sem temer possíveis reacções dos xerifes responsáveis. Mas estes - ai de nós! - apenas curam a protecção dos próprios interesses.
Quanto à triste política portuguesa, pergunto: que espécie de gentinha nos fizeram eleger para a Assembleia da República? Não escrevo o vocábulo “gentinha” com ironia, mas com desprezo.
Certamente que há excepções apreciáveis; só lamento que se vejam afundadas no meio de tanta mediocridade e improvisação.
Na semana passada augurei uma aproximação dos dois maiores partidos. Passos Coelho efectuou o lindo gesto. Sincero? Cálculos promocionais? Seja o que for, mereceria ser encorajado.
Foi com profunda náusea que tomei conhecimento das reacções negativas de elementos do PS, PSD e demais partidos.
Desponta a louca vontade de pegar-lhes pelas orelhas, sentá-los à volta de uma grande mesa, fechar a porta e proceder como se fazia nos conclaves de antanho: não saireis daqui enquanto não encontrardes soluções para a agonia financeira e económica do nosso País. Foi para isto que vos elegemos e não para andardes a perder tempo, despudoradamente, em estafados joguinhos políticos. Haja bom senso e vergonha!
“O endereço é 250 Greenwich Street, a dois passos de Ground Zero.
Aqui, no vigésimo andar do arranha-céus de Moody’s, o visitador é recebido por uma placa de ouro: «Crédito. A confiança do homem no homem».
Artur Cifuentes, ex-dirigente de Moody’s, pensa diversamente. Hoje define «uma vergonha o modo como as agências de notação financeira estabelecem as suas tabelas sobre o crédito, os votos de solvibilidade».
Eric Kolchinsky, também ele dirigente arrependido de Moody’s, pronuncia a palavra «fraude».
Frank Raiter, que trabalhou para Standard & Poor’s, fala de oligopólio que acumula lucros, graças ao papel de árbitro»
(…) «Esta é gente que distribui passaportes falsos», segundo Paul McCully, de PIMCO, o maior fundo de investimento mundial e títulos de Estado.
Eis-nos no universo das agências de rating: desacreditadas, vituperadas pelo papel infame que tiveram na última crise financeira. Todavia, mais potentes do que nunca.
Quarta-feira, foi suficiente que Standard & Poor’s desclassificasse a dívida espanhola para fazer cair o euro, precipitando os mercados na falta de confiança e levando Barack Obama a telefonar a Ângela Merkel, a fim de convencer a Alemanha a pôr de lado vetos sobre as ajudas à Grécia.
O governador do banco central austríaco, Ewald Nowotny, protestou que «é inaceitável que o destino da Europa dependa do juízo de uma agência de notação financeira».
Vejamos o que escreve o famoso economista Paul Krugman (Nobel 2008 de Ciências Económicas), num artigo onde denuncia o comportamento indecente das agências de rating.
(…) As agências de rating iniciaram as suas actividades, ocupando-se de investigações sobre os mercados e tornando disponíveis, a pagamento, avaliações sobre posições de dívidas societárias.
De todas as maneiras, por fim transformaram-se em algo completamente diverso.
(…) A subcomissão do Senado concentrou as próprias investigações nas duas agências de rating mais importantes, Moody’s e Standard & Poor’s. O que trouxe à superfície confirma as nossas piores suspeitas.
Numa mensagem de correio electrónico, por exemplo, um empregado de S&P explica que um certo encontro torna-se indispensável «para discutir os critérios de ajustamento», necessários para avaliar os títulos garantidos da propriedade imobiliária, dado o perigo actual da perda de contratos.
Noutra mensagem, o remetente lamenta-se de dever falsificar as cifras dos subprime e das letras A, a fim de tutelar as quotas de mercado.
É evidente que as agências de rating distorceram as suas avaliações, no sentido de contentar os clientes.
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Não quero justificar ou absolver a “finança alegre”, despesista e irresponsável, como muitos governos administram a finança pública; não quero diminuir a grave responsabilidade da acção política europeia e a dos países singulares; não quero ignorar a mediocridade dos dirigentes políticos europeus; neste aspecto, o panorama é desolador.
Se as agências de rating emanam sentenças do alto da cátedra, é porque encontraram, na União Europeia, um “far west” adequado, sem temer possíveis reacções dos xerifes responsáveis. Mas estes - ai de nós! - apenas curam a protecção dos próprios interesses.
Quanto à triste política portuguesa, pergunto: que espécie de gentinha nos fizeram eleger para a Assembleia da República? Não escrevo o vocábulo “gentinha” com ironia, mas com desprezo.
Certamente que há excepções apreciáveis; só lamento que se vejam afundadas no meio de tanta mediocridade e improvisação.
Na semana passada augurei uma aproximação dos dois maiores partidos. Passos Coelho efectuou o lindo gesto. Sincero? Cálculos promocionais? Seja o que for, mereceria ser encorajado.
Foi com profunda náusea que tomei conhecimento das reacções negativas de elementos do PS, PSD e demais partidos.
Desponta a louca vontade de pegar-lhes pelas orelhas, sentá-los à volta de uma grande mesa, fechar a porta e proceder como se fazia nos conclaves de antanho: não saireis daqui enquanto não encontrardes soluções para a agonia financeira e económica do nosso País. Foi para isto que vos elegemos e não para andardes a perder tempo, despudoradamente, em estafados joguinhos políticos. Haja bom senso e vergonha!
Alda M. Maia
2 Comments:
Olá Alda
Essas agências de rating trabalham para quem melhor lhes pagar.
É a sensação com que se fica ao se verificar dos resultados dos seus alertas para o mundo da alta finança.
Parecem abutres nos seus voos circulares a ver qual a presa mais fácil que está mais exposta.
E como também não temos feito as devidas contas antes de nos abalançarmos aos compromissos que implicam mais despesa que receita, acabamos por ficar cada vez mais reféns das suas bicadas.
É, de facto, tempo de se tomarem medidas que controlem a Despesa Pública. Não se venha é a pedir sacrifícios sempre e só aos habituais, àqueles que não têm qualquer hipótese de declarar menos do que os rendimentos que efectivamente auferem. E quantas vezes esses valores que passam pela economia paralela são de valores avultados.
Isto já para não falar da imoralidade que é os bancos continuarem a gabar-se dos seus lucros astronómicos e pagam uma taxa irrisória ao Estado.
Um abraço
António
Viva D. Alda!
Por coincidência (ou não) ia começar o meu comentário tal e qual como o as-nunes: "As agências de rating trabalham para quem lhes paga melhor..."
… Está perfeito o raciocino que a D. Alda apresenta e perfeita é a sua indignação.
Mas agora pergunto-lhe: acredita mesmo que “aquelas pessoas”, sentadas dias e dias numa sala, seriam capazes de descobrir a solução? Não creio que tais cabeças sejam competentes para encontrar grandes soluções!
Um beijinho
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